Depois de tantos atrasos e refilmagens, Daredevil: Born Again (Demolidor: Nascer de Novo) finalmente chegou ao Disney+ com a 1.ª temporada. No geral, gostei bastante, não atingiu o nível das três anteriores da Netflix, mas foi muito superior às outras séries da Marvel na Disney, deixando o saldo bastante positivo.
O primeiro episódio começa com um tom mais sombrio e sério, e ao longo da temporada percebe-se que isso não foi sem motivo. A série funciona como uma ponte entre o que veio antes e esta nova fase, sem ignorar o passado, mas também sem ficar presa a ele. O subtítulo Born Again não podia ser mais adequado, já que apostaram num soft reboot, onde os antagonistas são colocados em situações opostas às que viveram antes, contrariando ambos as suas predisposições naturais. Gostei da forma como exploraram o desconforto e a mudança dos personagens, dando-lhes espaço para evoluir e mostrar lados mais redentores. Isso fez com que tudo parecesse novo, sem deixar de ser familiar.
Não é uma temporada repleta de sequências de ação frenéticas ou momentos de pura loucura. Em vez disso, há uma aposta na construção das personagens, algo essencial para uma série que se está a (re)estabelecer. E isso funcionou muito bem. Ter Charlie Cox e Vincent D’Onofrio de volta também foi um trunfo enorme – eles dominam os papéis e a química entre os dois mantém-se impecável. Os episódios também souberam equilibrar tensão e desenvolvimento, portanto também não foi uma temporada insípida. Outro ponto positivo foi a forma natural como referências a personagens da fase Netflix e da Disney foram inseridas (ou em alguns casos apenas mencionadas), ajudando a unificar estes universos sem forçar conexões artificiais. Menos é mais neste caso, ótimo exemplo disso.
A nível técnico, nota-se que a realização e a produção são um pouco mais contidas do que antes, mas isso não me pareceu um problema. Estão a construir algo sólido, sem querer ser megalómanos logo de início. No geral, acho que foi uma temporada bem conseguida, que respeitou o que veio antes e tentou trazer algo novo. Se há algo que me deixou com um pé atrás, foi a forma como deixaram algumas personagens no final, mas quero ver como vão resolver isso no futuro. Para já, fiquei satisfeito e curioso para o que vem a seguir.
A 1.ª temporada de Daredevil: Born Again, composta por nove episódios, encontra-se disponível na totalidade, no Disney+. A série tem garantida uma 2.ª temporada, já em produção.
Melhor episódio:
Heaven’s Half Hour (Episódio 1) – O primeiro episódio foi, sem dúvida, o meu favorito. Apesar de a temporada ter sido bastante sólida no geral, este capítulo inicial transportou-me de volta ao espírito das temporadas da Netflix, como se a série nunca tivesse sido interrompida. Foi aqui que me lembrei exatamente porque Daredevil ficou marcado na minha memória como uma das melhores séries de super-heróis já feitas.
Personagem de Destaque:
Matt Murdock (Charlie Cox) – E o grande destaque, claro, foi o próprio Matt Murdock. O acontecimento que o atinge nesse primeiro episódio tem um impacto tão profundo que o transforma de formas que, arrisco dizer, nem na era Netflix aconteceu. Isso levou a uma reestruturação completa do personagem, colocando-o em situações e lugares onde nunca o tínhamos visto antes. Foi um começo intenso, que definiu bem o tom e mostrou que, independentemente das mudanças, Daredevil ainda tinha muito para contar.