A 2.ª temporada de Severance na Apple TV+ surpreendeu-me completamente. Desde o primeiro episódio, notei uma evolução significativa em relação à temporada anterior – o ritmo estava mais acelerado, a história mais envolvente e a série finalmente mergulhava sem medo na sua própria estranheza. Foi uma viagem intensa, cheia de momentos bizarros que, em vez de afastarem, tornaram a experiência ainda mais cativante. Curiosamente, não foi assim que me senti quando vi a 1.ª temporada. Fui acompanhando episódio a episódio, sem grande entusiasmo, e só mais para o final é que a série conseguiu realmente prender-me. Não estava desesperado pelo regresso, mas ainda bem que dei o salto para esta nova fase, porque valeu muito a pena.
Assim que comecei esta nova leva de episódios, percebi logo que algo estava diferente. Os episódios estavam mais ritmados, mais interessantes e a narrativa parecia estar finalmente a largar a hesitação da 1.ª temporada. Se antes avançava com “pezinhos de lã”, soltando informação a conta-gotas, desta vez atirou-se de cabeça para o que realmente a torna especial: a espiral de loucura. E que bem que fez!
Foi uma temporada estranhíssima, cheia de momentos bizarros, mas que compensaram bastante. Severance prospera na sua própria estranheza e, quanto mais se afunda nela, mais interessante se torna. Os últimos quatro episódios, então, foram uma autêntica viagem alucinante. Se na 1.ª temporada ainda havia alguma subtileza, aqui largaram-na quase por completo e o resultado foi uma experiência intensa e imersiva. Foram episódios tensos do início ao fim, com uma fotografia fantástica – um dos pontos altos da série desde sempre – e uma banda sonora que a acompanhou na perfeição.
Outro grande acerto desta temporada foi a expansão do mundo da série. Se antes estávamos muito presos àquele piso estranho e claustrofóbico, agora a mitologia cresceu e deu-nos um universo muito mais cativante. Isso tornou tudo ainda mais intrigante, ao mesmo tempo que permitiu um desenvolvimento mais profundo das personagens. Paradoxalmente, ao focarem-se mais na componente da ficção científica, conseguiram torná-las mais humanas. Houve um esforço claro para nos fazer importar com elas e funcionou.
As atuações estiveram novamente a um nível muito sólido e a construção de tensão em vários momentos foi exemplar. Esta temporada soube jogar com o mistério sem perder tempo, soube manter o ritmo sem se perder em devaneios (os que houve foram extremamente bem-vindos) e, acima de tudo, soube recompensar-nos com bastantes sequências intensas.
No final, fiquei completamente rendido. Não fui daqueles que entrou logo no hype da 1.ª temporada e demorei a fidelizar-me a Severance, mas esta 2.ª temporada da série da Apple TV+ conquistou-me sem reservas. Se a série continuar neste crescendo, então que venha a 3.ª temporada e de preferência que não demore tanto tempo – porque esta foi das melhores experiências televisivas que tive nos últimos tempos.
Melhor episódio:
Episódio 9 – The After Hours – Escolher o melhor episódio da 2.ª temporada de Severance não foi tarefa fácil, especialmente porque os últimos quatro foram simplesmente alucinantes. No entanto, se tiver de destacar um, tem de ser este. A incerteza sobre tudo o que se iria passar, a antecipação do fim que sabia estar iminente e inevitável e a forma quase perfeita como coordenaram os eventos dentro do piso e no mundo exterior tornaram-no inesquecível. A narrativa atingiu aqui um ponto de tensão máximo, onde cada pequena revelação e cada decisão das personagens pareciam pesar toneladas. Para culminar, a banda sonora desempenhou um papel fundamental, criando uma tensão avassaladora que me deixou completamente agarrado ao ecrã até ao último segundo, investido ao máximo.
Personagem de Destaque:
Mark Scout (Adam Scott) – Mark começou por ser um protagonista algo insípido, um homem quebrado pelo luto que parecia apenas existir, tanto dentro como fora da Lumon. No entanto, nesta 2.ª temporada, a sua evolução foi notável. Mark tornou-se alguém com quem nos podemos verdadeiramente relacionar, alguém que finalmente luta para entender e mudar a sua realidade. Mais do que nunca, fica claro que ele é o centro de toda a trama. A forma como as suas duas versões – o Mark de dentro e o de fora – afetam diretamente o rumo da história, tornam-no incontornável.
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