Depois de um episódio piloto muito bom, posso dizer que, no geral, a minissérie Os Quatro da Candelária não só mantém, como também eleva, a qualidade. Em termos técnicos, a produção brasileira é boa em todos os aspetos. As interpretações dos quatro jovens atores principais, por exemplo, são muito sólidas e a realização faz uso de alguma criatividade para dar um tom mais colorido a uma história que, de muitas formas, é imensamente cinzenta, triste. Seria possível dizer que a série se foca numa tragédia, porque não deixa de ser verdade. No entanto, a verdade é que vive sobretudo da sua componente humana.
Douglas, Sete, Pipoca e Jesus são apenas miúdos. O mais velho deles chegou agora aos 18 anos, a mais nova deve estar ainda na idade de frequentar a escola primária. Vivem na rua, tal como muitos outros meninos e adolescentes no Rio de Janeiro. Têm histórias de vida muito diferentes, mas encontraram-se nas ruas e tornaram-se família. Olham uns pelos outros, como irmãos. É esta ligação entre os meninos que torna a série uma verdadeira ternura que ajuda a atenuar um bocadinho a dura realidade que estamos a acompanhar. Não é de descartar ver Os Quatro da Candelária com lenços de papel por perto, porque é fácil deixarmo-nos emocionar.
O facto de ter como base acontecimentos reais torna tudo ainda pior. É um mundo muito diferente do nosso, para pior. Não consigo esquecer a informação antes dos créditos finais: das 72 crianças e adolescentes que dormiam junto à Igreja da Candelária, oito foram assassinadas naquela fatídica noite de verão em 1993, mas a maior parte dos sobreviventes perdeu a vida nos anos seguintes por violência e doenças adquiridas nas ruas. Um mundo que falha assim à sua geração mais jovem é um mundo desumano. Recomendo imenso a série porque é uma história que mais pessoas deviam conhecer e que vai certamente deixar a sua marca em que a vir.
Melhor episódio:
Episódio 3 – É centrado em Pipoca, a caçula do grupo. Não sou boa a adivinhar idades, mas a menina não deve ter mais do que oito anos. É um amor, com uma carinha de boneca, e apesar da vida dura que leva, ainda conserva uma inocência de criança que lhe permite sonhar com um final feliz, mas também com outras coisas mais banais, como chocolates. Já viu muito mais do que devia, mas tem um coração puro e uma alegria contagiantes. É de partir o coração ver qualquer um destes miúdos passar por experiências terríveis, mas quando se trata desta menina tão pequenina, é ainda pior. É o episódio mais terno e aquele que nos dá alguma esperança em relação a coisas melhores.
Personagem de destaque:
Sete (Patrick Congo) – Havia facilmente motivos para escolher qualquer um dos quatro personagens centrais, mas Sete desempenha o papel de irmão mais velho nesta pequena família, portanto merece este destaque. A sua história é triste, claro, mas é-o de uma forma diferente da dos outros. Ele carrega o peso do mundo nos ombros.