A 1.ª temporada de Those About to Die, disponível em Portugal na Prime Video, chegou com grandes expectativas, prometendo uma fusão épica de drama histórico e ação, mas acabou por se revelar uma desilusão. Embora não seja uma série má, falhou em atingir o potencial que tanto prometia. Às vezes, é mais frustrante uma série ter tanto potencial e ser apenas “boa” do que ser abertamente medíocre.
A escolha do período histórico é, desde o início, uma decisão curiosa. A série centra-se numa época de acontecimentos marcantes, como a erupção de Pompeia, um grande incêndio em Roma e a inauguração do Coliseu, é certo. No entanto, este período em si não é dos mais ricos em termos de relevância histórica quando comparado com eventos como o ano dos quatro imperadores, que retratam a guerra civil em Roma, ou a destruição do Templo de Jerusalém e eles pegam só e apenas depois desses momentos. Focar-se nas intrigas de corte e ignorar o panorama mais amplo do Império Romano foi um erro que resultou numa narrativa que se tornou morna. A série tenta abordar a ideia de que tempos de paz são mais perigosos que tempos de guerra, pois permitem manobras políticas em vez de confrontos bélicos diretos. Este conceito poderia ter sido explorado de forma fascinante, mas a execução deixou a desejar. O enredo desenrola-se de forma previsível, sem grandes reviravoltas ou surpresas que pudessem prender o espectador. Tentaram combinar a espectacularidade visual de Spartacus com a intriga complexa de Rome, mas acabaram por não conseguir atingir o patamar de nenhum dos dois (tendo em conta o tempo que separa essas produções e a evolução que houve, mesmo em termos tecnológicos, desta, obviamente).
Em termos de produção, a série foi filmada na famosa Cinecittà, o que traz um certo nível de autenticidade e grandiosidade aos cenários. Comparando com séries como Domina, por exemplo, os cenários aqui são mais ricos e detalhados, mas, mesmo assim, há algo que parece faltar. As corridas de quadrigas, inicialmente emocionantes, tornam-se rapidamente repetitivas. A surpresa e adrenalina das primeiras sequências perdem-se com a repetição, tornando-se previsíveis.
As interpretações são, no entanto, um dos pontos fortes da série. Anthony Hopkins como o velho Imperador Vespasiano oferece uma performance notável como um imperador já cansado e desiludido, trazendo um peso emocional e uma presença inegável à sua personagem. Iwan Rheon, com o seu Tenax, brilha novamente aqui com um personagem moralmente ambíguo, entregando uma atuação sólida e convincente. É importante também destacar o papel do ator português Gonçalo Almeida, que, apesar de ter um papel inicialmente secundário, acaba por ter uma relevância surpreendente no desenrolar da trama, demonstrando talento e carisma.
Infelizmente, o problema não reside nas atuações, mas nas histórias dos personagens. Não conseguimos criar uma ligação emocional com as suas trajetórias. No meio de tantas intrigas, assassinatos e jogos de poder, é essencial que nos importemos com o destino dos personagens, mas isso raramente acontece. Este é um dos maiores fracassos da série, não conseguir fazer-nos investir emocionalmente nas suas histórias.
No geral, esta temporada de Those About to Die não é terrível. O rigor histórico possível em séries de ficção está presente e é visível o investimento na produção. As performances são, em muitos momentos, dignas de nota e há cenas de verdadeira espetacularidade, como a impressionante naumaquia. Contudo, a falta de uma narrativa cativante e de personagens verdadeiramente envolventes prejudica a série. Não sabemos se haverá uma 2.ª temporada, mas a menos que o argumento seja significativamente melhorado, talvez não seja necessária.
Os dez episódios desta 1.ª temporada de Those About do Die já se encontram disponíveis na Prime Video.
Melhor episódio:
Episódio 9 – The Die Is Cast – Finalmente as tensões acumuladas ao longo da série culminam em eventos significativos. As intrigas deixam de ser apenas palavras e começam a ter consequências reais, revelando o impacto das decisões das personagens. As alianças e traições cobram o seu preço. É verdade que foi no episódio 8 que se começou a trilhar o caminho do não retorno, mas este episódio cimenta-o. E volto a referir a naumaquia e a sua espectacularidade. São momentos destes que fazem uma série.
Personagem de destaque:
Tenax (Iwan Rheon) – Pelo incontornável Tanex passam todos os personagens. Não há trama ou até quase subtrama que não o tenha envolvido de algum modo. É, sem dúvida, a peça central neste xadrez político e o seu carácter dúbio, dividido entre ganância e empatia, sede de poder com a vontade de ajudar o outro, rendem talvez os melhores momentos e diálogos de toda a série.