Não li o livro The Tattooist of Auschwitz (O Tatuador de Auschwitz, em português), mas a minissérie despertou a minha atenção devido às inúmeras recomendações dos meus amigos que o leram. Só por isso decidi dar uma oportunidade à minissérie e fui surpreendido de forma muito positiva. Baseada no romance homónimo de Heather Morris, narra a história real de Lale Sokolov, um jovem judeu eslovaco que, durante o Holocausto, foi forçado a tatuar números nos braços dos seus companheiros de campo em Auschwitz.
Confesso que estou um pouco cansado de séries sobre o século XX. Embora tenha sido um período marcado por muitos acontecimentos, guerras, revoluções, etc., há uma abundância de histórias que se perdem no meio delas próprias. No entanto, esta tocou-me de uma forma especial. Esta minissérie não romantiza os acontecimentos, nem as personagens, apresentando várias camadas e mostrando tanto o bonito quanto o feio de cada um deles.
The Tattooist of Auschwitz é uma história excecional que aborda temas como a dor, perda, esperança e até amor, mas, acima de tudo, é uma narrativa sobre culpa. A culpa é explorada em várias vertentes: a culpa literal de quem iniciou a guerra e o extermínio sem sentido, a culpa de Lale Sokolov (Jonah Hauer-King/Harvey Keitel) por aquilo que fez para sobreviver e a culpa da autora que, ao ouvir a história, sentia-se incomodada por não poder fazer algo sobre aquilo. O peso da história sob os nossos coletivos ombros e a responsabilidade de não voltar a cometer os mesmos hediondos erros são representados através dela. Ela somos nós, espectadores.
Os interlúdios com as aparições de personagens que morreram foram um detalhe brilhante. Estas cenas serviam não só como uma pausa na história para podermos voltar a respirar, embora também sejam elas murros no estômago, mas principalmente para refletirmos e absorvermos a profundidade da narrativa. Foi interessante ver que tanto apareciam personagens com as quais estávamos familiarizados, como figuras que nunca tínhamos visto, simbolizando as inúmeras histórias que jamais conheceremos. Além disso, as visões do idoso Lale de personagens já falecidas na sala, enquanto relatava a história, foi um toque fenomenal, pois todos nós temos os nossos fantasmas. Podemos apenas imaginar os dele.
Eu visitei um campo de concentração e senti a opressão da história assim que coloquei os pés do portão para dentro, portanto não consigo sequer começar a entender como foi viver aquilo na realidade. Tendo dito isto, penso que a realização e produção estão muito bem executadas, transportam-nos competentemente para aquele ambiente e os cenários são uma personagem por si só. Aquela silenciosa, mas que diz tanto, dando mais força a todas as barbaridades que ali foram cometidas.
A minissérie The Tattooist of Auschwitz é imperdível para quem busca compreender as complexidades do Holocausto e a força do espírito humano. A história de Lale é um testemunho comovente de resiliência e esperança, mesmo diante das atrocidades mais inimagináveis.
Todos os episódios de The Tattooist of Auschwitz já se encontram disponíveis na SkyShowtime.
Melhor episódio:
Episódio 6 – Gostei particularmente do facto de não ter terminado onde normalmente terminam as histórias desse tipo. Para além das explicações no final, aquelas típicas frases em rodapé, a série mostrou o que aconteceu após o campo de concentração, o depois, que é crucial para compreender as consequências deixadas e não apenas as marcas que foram feitas durante.
Personagem de destaque:
Idoso Lale Sokolov (Harvey Keitel) – As atuações estão bastante bem conseguidas no geral, sólidas, mas gostei especialmente do modo como Keitel pegou no personagem. Faz-nos acompanhar emocionantemente a tortuosa jornada de Lali, conferindo-lhe uma profunda autenticidade, que é essencial ao nosso investimento no seu destino. Por vezes quase conseguíamos ver o horror de tudo o que viveu nos seus olhos.