Após quatro anos desde o lançamento do episódio piloto no YouTube, a espera dos fãs de Hazbin Hotel acabou com a chegada da 1.ª temporada à Prime Video, com um novo elenco onde se encontra Stephanie Beatriz (Brooklyn Nine-Nine), que dá voz a Vaggie. A série centra-se em Charlie Morningstar, que sonha com uma forma menos violenta de reduzir a população do inferno, acreditando que seria possível reabilitar as almas e garantir a sua entrada no céu.
Como vemos, a premissa não é inovadora, sendo possível encontrar igual ou semelhante em outras séries como The Good Place, mas felizmente tal não impede Hazbin Hotel de definir uma identidade própria. Uma das principais características desta série é o facto de ser um musical, que garantidamente irá satisfazer os fãs deste género, em que cada episódio contém pelo menos duas músicas e a maior parte delas efetivamente fica no ouvido. Sinto a necessidade de destacar as músicas Poison e Loser, Baby, que na minha opinião são as melhores e as que tenho verificado com mais destaque nas redes sociais.
A série vai avançando a um passo um pouco acelerado, uma vez que apenas em oito episódios vemos o desenrolar de seis meses em que Charlie tenta provar aos anjos que os habitantes do inferno podem redimir-se e garantir o seu lugar no céu. Infelizmente, após assistirmos à temporada completa ficamos a saber muito pouco sobre algumas personagens, incluindo principais, como é o caso de Niffty, Alastor e Sir Pentious. Apesar de estarem em todos (ou quase) os episódios, não sabemos muito sobre a sua origem. Apesar deste pormenor, a série contém uma boa história que não tem medo de tocar em assuntos mais sérios e levantar questões que por vezes temos medo de colocar, principalmente neste caso, em que se aborda temas religiosos, o que pode ser interpretado como blasfémia.
Como referi anteriormente, esta série é um musical e verifica-se que a escolha do novo elenco (relativamente ao episódio piloto, disponível no YouTube) foi um processo minucioso, de modo a garantir que a visão de Vivienne Medrano pudesse ganhar vida com o máximo de qualidade possível, com algumas das melhores vozes da Broadway. Por isso mesmo, as músicas dos episódios têm-se revelado um sucesso entre os fãs da série. Para quem possa temer que esta série se revele mais um musical sem sentido em que as personagens começam a cantar sem sentido, pode ficar descansado, uma vez que as músicas surgem de forma natural e como complemento do que está a ser retratado. Nas poucas vezes em que uma personagem começa a cantar de forma espontânea quase sem sentido (normalmente Charlie), as restantes criticam tal atitude, achando-a um pouco disparatada ou demasiado alegre.
Para quem não viu o episódio piloto de Hazbin Hotel, aconselho, pois apesar de a Prime Video tentar ignorar o mesmo e apresentar as personagens no primeiro episódio oficial da série, não o consegue fazer eficazmente e sentimos que faltam pormenores, uma vez que não temos informação de como Alastor, Niffty e Husk se juntam a Vaggie e Charlie na administração do hotel. Embora não ache que este episódio piloto seja necessário, devo admitir que se revela um bom complemento para a história e que melhora um pouco a série, uma vez que fornece uma introdução oficial às personagens principais e por isso considero que a Prime Video tomou uma má decisão em não ter feito um reboot desse episódio com o novo elenco.
Melhor episódio:
Episódio 4 – Masquerade – Senti um maior impacto com este episódio por tentar retratar um assunto mais sério, os relacionamentos tóxicos e/ou abusivos e a dificuldade que por vezes se revela tentar sair de um, sendo que por vezes as vítimas sentem a necessidade de encontrar um escape (por vezes recorrendo a drogas e álcool) e de colocar uma máscara para que ninguém veja o seu sofrimento. Felizmente nunca estive numa situação destas, mas quem passou irá certamente identificar-se com a história de Angel Dust e espero que, tal como ele, sejam capazes de mostrar o seu lado mais frágil e aceitar ajuda, por mais improvável que possa parecer. No caso de Angel esse amigo acaba por ser Husk, que até aqui não se revela uma pessoa compreensiva e/ou tolerante. Apesar do tema retratado ser relevante, o episódio também se destaca por ser um dos poucos que nos permite conhecer melhor algumas personagens. Até aqui não tínhamos grande informação sobre o passado de Angel Dust e Husk e vemos também o nascimento de uma amizade entre os dois, que se apercebem que têm coisas em comum, ao contrário do que pensavam.
Personagem de destaque:
Adam (Alex Brightman) – Sinceramente esta escolha não é fácil, mas Adam merece este destaque por se revelar como o perfeito exemplo de um antagonista. Se por vezes sentimos que o vilão acaba por não ser bem um por ter uma causa compreensível ou simplesmente não ter sido bem explorado, no caso de Adam vemos um vilão que simplesmente não quer que o herói da história alcance o seu objetivo e está disposto a tudo para o atrapalhar. Não sei exatamente o que esperava da representação do primeiro homem, mas de certa forma esta representação não desilude, uma vez que é suposto ser o antagonista e por isso mesmo temos uma figura narcisista e hipócrita – certamente uma crítica à comunidade cristã, que tende a julgar os outros sem ter atenção ao que faz e diz. Apesar de ter sido a primeira alma humana a entrar no céu e a liderar os restantes anjos exterminadores, é o primeiro a ter atitudes que normalmente esperamos de um pecador. Assim, apesar de aparecer apenas em metade da temporada, Adam consegue destacar-se e mesmo não sendo a personagem favorita de ninguém, não é uma personagem que vá ser esquecida facilmente, tanto pelo seu carácter, como por alguns momentos musicais que protagoniza.