Lusitânia – Review da 1.ª temporada
| 04 Jan, 2024
9

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Começo a review por dizer que esta 1.ª temporada da antologia Lusitânia é uma lufada de ar fresco. Depois de um sem número de séries portuguesas, na sua maioria a incidir sobre um século de história (com algumas exceções, como A Rainha e a Bastarda), eis que chega algo diferente, algo que já há bastante tempo não se via em português. E se no contexto da cronologia histórica já é incomum, no género que se insere, fantasia, temos de andar ainda mais para trás no tempo para ver algo similar. Portanto, enquanto espectador e, em particular, grande apreciador de tudo o que seja na área do fantástico, fiquei bastante contente e na mesma medida expectante quando soube desta série.

Cada episódio é um conto/lenda retirado do nosso imaginário coletivo, daqueles de tradição oral que passam de avós para netos e que mais tarde ou mais cedo estão destinados a cair no esquecimento. Criado com parte da família proveniente de Trás-os-Montes e outra do Alentejo, cresci a ouvir este tipo de histórias para adormecer: mouras encantadas, princesas rebeldes, pestes que ameaçavam o mundo se o saco errado fosse aberto. Então ao percorrer os episódios fui sendo transportado para esse sonho infantil, já meio desbotado na memória, mas que se reavivava a cada referência que me era de algum modo familiar, arrancando-me um sorriso saudosista. É curioso reparar que de certa maneira as histórias têm os mesmos contornos por todo o território, mudando apenas certas partes ou pormenores que se adequam mais à subcultura e realidade locais. Numa época em que a informação circulava muito mais lentamente que nos nossos dias, prova-nos que de facto circulava.  

Achei muito interessante a abordagem feita a cada episódio nesta 1.ª temporada de Lusitânia, pois dentro do mundo do irreal, cada um apresenta um subgénero. Fomos do romance ao terror e passámos pela comédia, drama e mistério, demonstrando uma grande elasticidade e uma boa adaptação da necessidade de cada história ter o seu próprio espaço, permitindo-lhe respirar. Os argumentos estão originais, coesos e bastante inventivos, assim como a produção e a realização. Não tendo certamente o orçamento das grandes produções feitas dentro deste estilo, fizeram um belo uso dos nossos magníficos cenários naturais e provaram que a maior parte das vezes, para se fazer algo de qualidade, basta focarem-se no que interessa: bom material de origem, bons atores e uma boa equipa. Não posso deixar também de exaltar a inclusão e heterogeneidade que demonstraram, sendo bem o espelho da nossa cultura (passada e presente), que sempre foi pontuada pela diferença e nela reside a sua força e beleza. Cristãos, mouros, celtas, vários credos, etnias e religiões numa caótica, mas perfeita, harmonia.

Claro que não está perfeita, poderia sempre melhorar em certos aspetos, mas esta 1.ª temporada de Lusitânia, disponível na totalidade na RTP Play, vem provar que de facto podemos fazer coisas diferentes sem precisar de mundos e fundos. Não é preciso estar-se a insistir sempre no mesmo género, uma e outra vez. Espero que seja a porta de entrada para mais séries do mesmo tipo – ou de outros diferentes até – e que tenha tido o sucesso merecido para haver uma eventual 2.ª temporada. Material não faltará. E tu, o que achaste desta incursão pelas nossas lendas e contos antigos?

Melhor episódio:

Episódio 2 – A Aposta com o Diabo Sendo este o episódio mais virado para a comédia, até a mim me surpreendi por ter gostado tanto, visto que não é de todo o meu género predileto. Está engraçado, com uma abordagem satírica, e no ponto, das velhas crenças e superstições cristãs e um plot twist final simples, mas inesperado. É ao mesmo tempo também muito humano e positivo na abordagem da questão da solidão e de quão boas as pessoas podem ser, dando-lhes a devida oportunidade. Uma mistura perfeita entre alma e coração!

Personagem de destaque:

Frade de Tagilde (João Vicente) – O Frade tem das melhores tiradas de toda a série. É muito engraçado dentro da sua ingenuidade e teimosia e faz jus àquela máxima de rir para não chorar. Nunca sabemos bem o que vai lá dentro de quem tem sempre um sorriso e um abraço disponível. Cometem erros, claro, mas pelos motivos certos e isso, neste caso, rendeu uma boa história. Engenhoso e inteligente, consegue dar a volta ao antagonista maléfico do episódio, provando que nem sempre chega dizer-se mais esperto do que os outros, tem que se ser efetivamente.

Créditos da imagem: Ukbar Filmes
Lusitânia - Review da 1.ª temporada
Temporada: 1
Nº Episódios: 6
9
8.5
Interpretação
9.5
Argumento
9
Realização
9
Banda Sonora

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