All The Light We Cannot See, uma adaptação que nunca deveria ter saído do papel? É com esta pergunta que pretendo começar. Não li o livro, por isso a minha análise não terá como base de comparação a obra literária, que espero sinceramente que tenha melhor qualidade do que esta minissérie.
A antecipação gerada pela estreia de Toda a Luz Que Não Podemos Ver – título oficial português que eu teria traduzido de outra forma, mas isso é conversa para outra altura – era grande, daí as expectativas estarem bastante altas. Infelizmente, a série não correspondeu de todo às mesmas.
O primeiro episódio é desastroso. Parece que tentaram compactar numa hora muita informação, dando origem a cenas rápidas, sem profundidade e com uma prestação mediana de todos os atores à exceção de Mark Ruffalo (Daniel), Lars Eidinger (Reinhold) e Nell Sutton, a jovem atriz que dá vida à pequena Marie. São os momentos de regresso ao passado que salvam o episódio de ser um fracasso total, contendo imagens bonitas, um quarto imaculado após uma explosão e com clichés que não conseguem ser ultrapassados pela originalidade que até se encontra nas histórias das personagens principais.
O elenco multicultural acaba por falar todo em inglês, daí não fazer sentido, por exemplo, numa cena dizerem que determinada personagem foi reconhecida pelo sotaque parisiense, quando nenhuma personagem fala em francês; ou porem atores britânicos ou americanos a fazerem de personagens francesas ou alemãs no meio do restante elenco de nacionalidade francesa ou alemã.
Apesar de tudo, consigo destacar três coisas positivas: o bom desempenho de parte do elenco, destacando, mais uma vez, o desempenho de Ruffalo e o de Louis Hoffman, o facto de terem contratado atrizes cegas para os papéis das personagens invisuais e a mensagem antiguerra passada, principalmente no momento que estamos a viver: – Go to hell! / – My friend, don’t be ridiculous. It’s quite plain that we are in hell already.
Concluindo muito sucintamente: não vale a pena perderes o teu tempo a ver All The Light We Cannot See. De certeza que encontras alguma série mais interessante no imenso catálogo que a Netflix tem para oferecer.
Melhor Episódio:
Episódio 2 – É neste episódio que ficamos a conhecer melhor a história do jovem Werner (Hoffman), destacando aqui a cena em que a personagem tem de se despir, conseguindo o jovem alemão, através da sua expressão corporal e facial, mostrar exemplarmente o medo que sente interiormente numa das cenas mais bem conseguidas de toda a série.
Personagem de destaque:
Daniel LeBlanc (Ruffalo) – Um pai trabalhador que tenta fornecer à filha cega as melhores bases para lidar com o mundo e que acaba por ter de fugir de Paris durante a Segunda Guerra Mundial? Poderás dizer que não parece uma personagem empolgante, mas a verdade é que Ruffalo consegue ser a personagem que mais nos prende ao ecrã durante toda a série.