A minissérie alemã A Tradutora do Silêncio (Deutsches Haus, no título original), um original do Disney+, estreou na plataforma este mês e com o tema da Segunda Guerra Mundial no centro da história, foi imediatamente para a minha lista.
Passada no ano de 1963, A Tradutora do Silêncio tem por base o best-seller da escritora Annette Hess e centra-se numa jovem tradutora envolvida no julgamento de um grupo de elementos das SS ligados a Auschwitz. Os pais de Eva e o noivo não querem que ela aceite este trabalho, mas a jovem persiste e, com o julgamento, fica a conhecer todos os horrores que se passaram no campo de concentração.
Convém salientar que se tinham passado menos de 20 anos do fim da guerra. A Europa estava a recuperar do período mais negro da sua história coletiva e as pessoas, no geral, pareciam querer deixar os anos da guerra para trás. Estava longe de se saber aquilo que hoje sabemos sobre os campos de concentração, mas é demasiado ingénuo acreditar que aqueles que viviam e trabalhavam num não tivessem conhecimento e responsabilidade na matança. No centro do julgamento está precisamente um grupo de homens que têm o desplante de negar o seu envolvimento, invocando desculpas como não verem as chaminés dos seus gabinetes e o Zyklon B ser usado para desinfeção, e o facto de estarem “só” a cumprir ordens.
A série tinha todos os ingredientes para conseguir construir uma história pungente, daquelas capazes de me destruir, o que não é difícil com este tema, mas a verdade é que ficou bastante aquém nesse aspeto. A Tradutora do Silêncio não deixou de me fazer refletir, mas não conseguiu afetar-me emocionalmente. O elenco é bom e há muitas personagens interessantes de quem não é difícil gostarmos e que depois revelam ser outra coisa totalmente diferente, mas o argumento e a realização não contribuem para fazer desta uma série marcante. Tampouco a banda sonora dá uma ajuda.
Se gostas de séries com esta temática, acredito que possas gostar também desta, mas alerto para o facto de a ter terminado com a sensação de que não acrescentou nada àquilo que já tinha visto dentro do género. Não é uma má série, mas tinha colocado as expectativas altas e acabei por ficar desiludida.
Melhor Episódio:
Episódio 3 – Os episódios estão todos mais ou menos ao mesmo nível. No entanto, aqui há alguns depoimentos interessantes no tribunal, sempre reveladores do caráter dos homens que estão a ser julgados, e Eva faz descobertas importantes sobre o passado da família, de uma altura em que ela era muito pequena para ter recordações. Um dos réus toma uma decisão familiar importante, numa linha de enredo interessante, e uma relação improvável entre uma prostituta e um investigador judeu americano floresce.
Personagem de destaque:
Eva Bruhns (Katharina Stark) – Quase que me sinto culpada quando escolho a protagonistas nestes casos, mas era difícil não o fazer. Eva é uma jovem determinada e de bom coração que, desde o início, mostrou vontade em aceitar um trabalho delicado que todos à sua volta lhe diziam que não aceitasse. Não enterrou a cabeça na areia quando verdades inquietantes começaram a vir à tona, demonstrando a sua coragem, apesar da sua personalidade muito discreta. Só me fez um bocado de confusão a sua tentativa de expiação. As intenções eram boas, mas não acho que faça sentido. Ela era uma criança e mesmo que o seu povo tenha uma responsabilidade coletiva no genocídio de outro, ela não deixa de ser completamente inocente.
Frase icónica: “Eles querem que os consolemos”. Dita por um sobrevivente de Auschwitz, resume bastante bem porque não faz sentido que Eva procure expiar-se. Não daquela forma, pelo menos.