The Fall of the House of Usher – Review da Minissérie
| 12 Out, 2023
8.7

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A minissérie The Fall of the House of Usher não é bem o que aparenta nem o que se poderia esperar, à partida, de uma série que se baseia em obras de Edgar Allan Poe. Admito que como grande fã de literatura e cinematografia gótica e tendo na memória as outras incursões pelo terror de Mike Flanagan (The Hunting of Hill House, The Hunting of Bly Manor, Midnight Mass e The Midnight Club), esperava uma série mais “vitoriana”, embora reimaginada, como lhe é hábito, mas em vez disso é-nos apresentado um banho de realidade.

Retirando os elementos sobrenaturais da história, a narrativa poderia ser considerada um drama contemporâneo que retrata uma família numerosa e bastante abastada. Esta família nem sempre utiliza o seu poder e dinheiro para fins benevolentes. São elitistas e demonstram traços de requintada malvadez, agindo como se estivessem acima dos outros, não temendo as consequências, já que geralmente não as enfrentam. No entanto, esta narrativa não se restringe a ser um drama. Torna-se ainda mais aterrorizante ao refletir a própria realidade. Embora não seja uma série de horror no sentido tradicional, é profundamente assustadora devido à sua representação da crueldade e da falta de escrúpulos dos one percenters.

A estrutura é bastante linear, com um primeiro episódio destinado a estabelecer a mitologia e apresentar personagens. Os episódios seguintes apresentam-nos as mais variadas e originais formas de estes “caírem”. No entanto, uma vez que a fórmula é compreendida, a série torna-se previsível e, por vezes, um pouco aborrecida, porque já entendemos onde vai terminar e o caminho escolhido nem sempre é o mais cativante. Este aspeto pode ser o menos interessante de toda a minissérie, embora seja de salientar que relativamente ao “fim” de cada um deles não se pouparam em surpresas, twists e cenas bastante gráficas, completamente dissidentes das outras incursões do autor. It’s a treat.

Onde de facto a minissérie The Fall of the House of Usher se aproxima mais da obra original que lhe dá o nome é no artifício usado como fio condutor da trama, a conversa entre o Patriarca Roderick Usher (Bruce Greenwood) e o seu arqui-inimigo August Dupin (Carl Lumbly). Ao longo do diálogo sobressai que, na realidade, a história, despindo-a às suas bases, é sobre isolamento, insanidade, decadência, orgulho e ganância. O sítio que escolheram para estas cenas se desenrolarem, a casa em ruínas, funciona como uma metáfora: a mente humana como um ambiente físico, num estado em que já não se distingue ficção de realidade, um sentimento de culpa que deteriora a mente aos poucos. A atmosfera é pesada, sombria e funciona como um personagem por si só. A casa de Usher está em queda (livre, acrescentaria eu). E foi bastante gratificante vê-la a cair! Mas se pensas que a crítica social se cinge aos mais poderosos, enganas-te! Não se poupam neste tema e todas as classes são atingidas com o bombardeio, não há quem escape. É de longe a obra mais crítica, social e disruptiva de Mike Flanagan. Acabamos todos como os Usher, no chão, com o peso do mundo na consciência.

Chegando aqui não posso deixar de referir, como curiosidade, o piscar de olhos que é feito ao público através do personagem Gordon Pym. O livro, A Narrativa de Arthur Gordon Pym, é talvez dos mais estranhos do escritor e não termina. Edgar Allan Poe deixou o personagem numa situação limite em suspenso propositadamente, então reencontrar este personagem depois de tantos anos da leitura do livro e finalmente ver uma espécie de encerramento foi catártico. Obrigado, Mike Flanagan, por esta proposta. E com isto termino lançando um repto: encontrei referência a três obras do escritor, e tu?

A minissérie The Fall of the House of Usher já pode ser vista na totalidade na Netflix.

Melhor episódio:

The Raven (Episódio 8) – Não poderia deixar de ser o último, não só pelos twists, pelo fechar do ciclo e por finalmente entendermos tudo e todas as pontas soltas, desfiadas ao longo dos episódios, mas principalmente pelos excelentes diálogos. É aqui que o baque nos atinge como uma onda, que se vai replicando na nossa mente muito depois da série acabar.

Personagem de destaque:

Madeline Usher (Willa Fitzgerald/Mary McDonnell) – Sem dúvida a força motriz. A minissérie tem muitos personagens, cada um impactante à sua medida, mas não dispõe de tempo para desenvolver cada um tão profundamente quanto seria desejável. No entanto, a sua personalidade fria, calculista e a inteligência muito acima da média fazem com que Madeline seja a personagem a ter em conta quando no fim se remata a história e se juntam as peças todas. Já para não mencionar que a Madeline do “passado” apresenta laivos de clarividência (deliciosos) que representam uma mordaz piscadela de olho ao clima atual da indústria cinematográfica, mais especificamente, assim como aos perigos das novas tecnologias, no geral.

Temporada: 1
Nº Episódios: 8
8.7
9
Interpretação
8
Argumento
9
Realização
9
Banda Sonora

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