Strange Planet é uma série de animação produzida pela Apple TV+, baseada na muito popular banda desenhada com o mesmo nome de Nathan Pyle (que se torna também criador, argumentista e produtor do formato para streaming). Tal como os comics, a série tem como missão apontar os momentos mais estranhos, desafiantes e reconfortantes da humanidade – colocando-nos no papel de meros observadores dos habitantes de um planeta (não tão) diferente. Conta com mentes brilhantes como Dan Harmon (um dos criadores e argumentistas de Rick and Morty) e Isabella Summers na banda sonora (Florence + The Machine), bem como um mundo de cores apelativas.
Aviso à navegação: Strange Planet não tem o sarcasmo e entusiasmo de Rick and Morty, nem pretende ter. O seu objetivo é completamente diferente: dar leveza ao mundano, ao qual tantas vezes conferimos peso desnecessário, usando para isso um vocabulário ironicamente formal e constrangedor. É um humor filosófico, terapêutico e medicinal, pintado de forma doce e descomplicada. No fundo, Strange Planet é um espelho honesto, no melhor e no, vá, menos bom.
E como se de uma lupa se tratasse, cada episódio convida-nos a dissecar pormenores diferentes das nossas vidas: os nossos bizarros triunfos (uma vitória no futebol, aquela promoção que nem sempre traz o reconhecimento prometido), os desgostos que achamos serem eternos (uma banda a acabar, uma timidez semi-patológica), e desentendimentos quase Shakespearianos entre irmãos, pais e filhos.
É importante acrescentar que são precisamente estas características que poderão, no entanto, aborrecer alguns espectadores. É inegável que a premissa pode ser considerada demasiado simplista (e que, de facto, nunca difere do que já foi dito). O fator que, discutivelmente, poderá causar mais discórdia é a ausência de multidimensionalidade nas personagens, que permanecem sem nome, género, etnia ou grande história de fundo – o que pode impedir que se crie uma ligação emocional mais firme à série. Por outro lado, parece ser precisamente esse o objetivo: que nos identifiquemos e reconheçamos as nossas pequenas (e grandes) contradições, estranhezas e, acima de tudo, bênçãos inerentes a todos nós. Acima de tudo, trata-se de um convite para que levemos a vida menos a sério e que prestemos mais atenção ao que importa. E só por aí, vale a pena.
É possível que se trate de um formato que funcione melhor no conceito original (os comics trazidos à vida por Pyle) e que não apele à maioria. Há simplesmente demasiada oferta entusiasmante e repleta de ação para que Strange Planet seja consensual, principalmente comparando com o ”primo” Rick and Morty.
Para o caso de estar enganada, ou no caso de necessitar de um “spoonful of sugar” todos os dias, Strange Planet pode ser um escape de lente cor de rosa e não há nada de errado nisso.
Frase da temporada:
“I guess all beings look for permanence when the lack of permanence is what makes life so interesting.”
Melhor Episódio:
Episódio 1 – The Flying Machine – Porque assumir sentimentos como a tristeza, o medo e a frustração pode mostrar-nos que, afinal, são efémeros – e que talvez não os sintamos sozinhos.