No universo das histórias, há aqueles mundos que ao permanecerem iguais acabam por trazer algum conforto. Nesse sentido, Carnival Row mantém-se com o mesmo ambiente fantástico e sedutor da 1.ª temporada.
Apesar da densidade do enredo estar presente desde sempre, o mistério que pairava sobre Philo (um competente e maduro Orlando Bloom), bem como a tensão (pouco) silenciosa entre fae, fawn e humanos, fizeram com que a série se tornasse progressivamente cativante.
Naturalmente, Carnival Row trouxe um conceito que, não sendo inovador, era ainda assim aliciante na sua execução: uma história repleta de magia, albergando metáforas facilmente reconhecíveis pelo público. São quase palpáveis os sentimentos de preconceito e divisão de classes, raças e géneros (e até um sentido de colonialismo que se alastra como fumo), decorados em tons steampunk e neo-noir, e representados por populares elementos de ficção fantástica.
Toda esta beleza continua a existir na 2.ª e derradeira temporada de Carnival Row. A série exibe, de facto, um mundo magnificamente construído, desde a decadência à opulência. No entanto, perdendo o fator novidade que fez com que a Prime Video tivesse na série um surpreendente sucesso, a 2.ª temporada atrapalha-se com demasiadas histórias a seguir e aparente falta de rumo. Os pontos fortes diluem-se, por vezes, num nevoeiro denso de linhas de enredo.
O facto de o criador da série, Travis Beacham, ter abandonado o projeto no final da 1.ª temporada podia ter feito prever o seu desvitalizar. A mitologia tão intrinsecamente erguida acaba por tornar-se, simultaneamente, o ponto forte da série e o seu calcanhar de Aquiles – com tantas personagens, histórias secundárias e pormenores a seguir pode tornar-se, efetivamente, difícil para o espectador absorver cada detalhe deste mundo, e ainda mais nesta segunda parte.
Carnival Row permanece, de resto, como uma das séries mais visualmente interessantes da Prime Video. O guarda-roupa inspirado tanto na Europa de Leste como na nobreza medieval, a beleza rude dos cenários e a quase perfeita caracterização das personagens fazem com que a série continue a valer a pena. Cara Delevingne, Orlando Bloom e Tamzin Merchant não desiludem. Bastava apenas um maior foco e talvez menos pontos a seguir, para ter sido permitido a Bloom e Delevingne uma nova temporada na encantadora Carnival Row.
Melhor Episódio:
Episódio 1 – Fight or Flight – Escolha que se deve inteiramente às expectativas e à saudade de todo o ambiente Lovecraft da série.
Personagem de destaque
Philo (Orlando Bloom) – Indiscutivelmente, Bloom permanece irrepreensível como personagem principal, feito particularmente difícil em qualquer história e em particular numa 2.ª temporada. A sua vulnerabilidade e força (aliadas à ligação poética a Vignette), fazem de Philo uma personagem verdadeiramente interessante.