Barry – Review da 4.ª e última temporada
| 08 Jul, 2023
8.96

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Barry, a comédia negra da HBO criada, produzida e protagonizada por Bill Hader, chegou ao fim com a sua 4.ª temporada. A série acompanha Barry (Hader), um ex-soldado que, depois de regressar do Afeganistão, se junta ao seu mentor Fuches (Stephen Root) para fazer a única coisa que sabe: matar. A genialidade da premissa da série emerge quando percebemos que, numa das suas missões enquanto assassino contratado, Barry se apaixona pela arte de representar. Para ele, prosseguir com as aulas de teatro lecionadas pelo narcisista Gene Cousineau (Henry Winkler), onde inicialmente Barry se tinha infiltrado para matar um dos alunos, implicará balançar a sua necessidade de anonimato com a sua vontade de vingar em Hollywood.

No início da série, parece haver esperança para o seu anti-herói, determinado a parar com os assassinatos para se dedicar às aulas de representação, onde conhece Sally (Sarah Goldberg), uma feroz aspirante a atriz por quem se apaixona. Depois de matar o aluno de Cousineau, Barry decide que merece viver uma vida normal, mas isso implica fazer de tudo para escapar às consequências do seu sangrento passado, que o sentenciaria a uma vida inteira na prisão. Determinado a aproveitar a oportunidade, Barry terá de matar aqueles que possam comprometê-la, originando um efeito bola de neve que toma proporções inimagináveis, envolvendo todas as personagens num ciclo interminável ao qual Barry, a cada morte, promete pôr um ponto final.

Nesta 4.ª temporada, Barry está, por isso, irreconhecível – uma mudança que tem vindo a acontecer gradualmente, com o acumular de todas as consequências que as suas personagens, principalmente a titular, têm por enfrentar. O tom da série está mais sério, as piadas são menos abundantes e mais sinistras e até o estrondoso som do genérico não se ouve uma única vez em oito episódios. Barry, também já muito longe do cativante anti-herói que conhecemos na 1.ª temporada, tornou-se no maior vilão desta história, não havendo como torcer por ele.

Tentando evitar grandes spoilers, a segunda metade da temporada vê Barry a refletir sobre a natureza do perdão. Quando é que nos tornamos irredimíveis? Será a redenção possível para ele? Poderá o amor ajudá-lo? Deus? Quando ainda Barry se debate com estas questões, já o espectador sabe as respostas. Talvez não fosse esse o caso nas primeiras temporadas, mas agora Barry está muito para lá do ponto de não-retorno. Mesmo assim, Barry consegue encontrar redenção no filme biográfico que Hollywood produz sobre ele. Também nesta temporada da série, Hollywood passa de principal objeto de sátira a metáfora central da série. Afinal, esta é uma indústria que sobrevive de ilusões e, por isso, é o lugar perfeito para Barry reescrever a sua história. Não importa que ele seja um assassino contratado com cada vez mais mortes no currículo, Barry sempre viveu agarrado à ilusão de que, apesar do rasto de sangue que o perseguia, era possível redimir-se. E nada é mais frustrante do que vê-lo a alcançar essa redenção, mesmo que apenas por meio da ficção. Que murro no estômago foi ter acompanhado de perto a complexa jornada de Barry só para descobrimos que Hollywood, bem a seu jeito, simplificou a narrativa para uma balela de fácil digestão, desprovida de nuance, que imortaliza Barry como um mártir, numa crítica impiedosa à indústria do cinema americano.

Posto isto, acredito que esta tenha sido das melhores – se não mesmo a melhor – temporada de Barry. A realização de Hader, que dirigiu todos os oito episódios, nunca esteve tão aguçada e os arcos das personagens fecharam em beleza, num final que conseguiu ser satisfatório sem ter de abdicar da sua verossimilhança. Também o elenco conseguiu superar-se, entregando, nesta temporada, as suas mais admiráveis performances, entre as quais destaco a de Sarah Goldberg, que já devia ter um Emmy desde a 2.ª temporada, e a de Anthony Carrigan, como o ridiculamente carismático membro da máfia chechena, NoHo Hank. Nas mãos erradas, as personagens de Goldberg e Carrigan poderiam cair facilmente em caricatura, mas, almofadados por um grupo de argumentistas que se esforçaram para trazer personagens incrivelmente complexas para o pequeno ecrã, os dois atores fizeram de Sally e NoHo pessoas dolorosamente reais.

Personagem de destaque:

Sally – Terá sempre um lugar especial no meu coração, sendo das personagens femininas mais complexas que tive o prazer de acompanhar. Principalmente nesta temporada, pudemos perceber o impacto enorme que o seu trauma tem – e sempre terá – nas suas ações, mesmo as mais pequenas.

Melhor episódio:

Wow (episódio 8) – É difícil escolher apenas um episódio naquela que acredito ser a temporada mais forte da série, mas o último episódio – não sendo o melhor do ponto de vista técnico – é um bom culminar da temporada – e da série -, repleto de diálogos e performances desoladoras e um final absolutamente genial.

Todas as quatro temporadas de Barry estão disponíveis em Portugal na HBO Max.

Temporada: 4
Nº Episódios: 8
8.96
9.7
Interpretação
8.5
Argumento
9
Realização
8
Banda Sonora

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