O que podemos saber com o silêncio? Esta é a principal questão de El Silencio, da Netflix, disponível a partir de hoje na plataforma. A minissérie, protagonizada por Arón Piper (Élite), Cristina Kovani (La Caza) e Almudena Amor (Tus Monstruos), inicia-se mostrando-nos o dia da morte dos pais de Sergio Ciscar e a posterior condenação dele. A parte interessante desta parte inicial é que rapidamente temos um salto temporal de seis anos e ficamos a saber que Sérgio sempre se recusou a colaborar com a justiça e optou por manter o silêncio, falando apenas com quem lhe interessava e quando lhe interessava. Este pormenor é importante e interessante, pois é devido ao silencio de Sergio que os policias e psicólogos temem que a sua libertação não seja uma opção segura para a sociedade, uma vez que consideram o silêncio uma forma de Ciscar intimidar e manipular.
Como podemos ver, esta série lida com uma questão importante: como é que o silêncio afeta as pessoas? Até que ponto o silêncio pode ser visto como uma ameaça? Ao longo dos episódios, vamos vendo a forma como Sergio é constantemente vigiado por Ana e pela sua equipa, sendo que ele, apesar de não ter a certeza, tem sempre uma sensação de estar a ser vigiado. Sensação esta que parece não fazer sentido, mas à medida que a série vai avançado, começamos a compreender melhor o perfil psicológico de Sérgio e o porquê de ser como é, tal como a sua motivação em procurar a irmã Noa, de quem foi separado após ter sido condenado.
Contrariamente ao que se pode pensar, a série vai-se desenvolvendo de forma complexa e cada episódio apresenta diversos detalhes, de modo que, ao final de um tempo, tenhamos a sensação de que já vimos dois episódios, mas na realidade ainda estamos a meio de um. Este detalhe poderia ser mau, se não fosse bem elaborado, mas a série está tão bem concebida de tal forma que não nos sentimos entediados ou cansados ao ver o episódio.
Como disse anteriormente, a série vai-se desenrolando e vemos a forma como Sergio vai impactando a vida daqueles com quem interage, tal como: Ana, que, ao longo dos episódios, vemos que está mais ligada a Sergio do que inicialmente parecia; e Marta, que conhecia Sergio antes do homicídio, pois era professora de piano de Noa. Ambas as personagens são interessantes: ao contrário de Ana, Marta podia ter-se afastado de Sergio, mas acaba por se aproximar dele, inicialmente por iniciativa própria e, posteriormente, incentivada por Ana.
Conforme chegamos ao fim da minissérie, temos mais uma vez um momento de surpresa, com um plot twist de que não estamos à espera, revelando mais uma vez que a série foi muito bem planeada e que existiu cuidado com os pormenores, de modo a criar esta narrativa intrigante que vemos.
Pessoalmente, não sou fã de séries espanholas, tendo mesmo de colocar o áudio em inglês para as visualizar, mas esta conseguiu-me captar logo desde o início e em nenhum momento senti necessidade de retirar o áudio original.
Devido a tudo o que disse anteriormente, concluo que El Silencio demonstra ser uma série cativante e capaz de prender a atenção do espectador durante os episódios, sendo excelente para ver durante uma tarde de fim de semana. A única parte má, na minha opinião, é o facto de ser uma minissérie e, como tal, não existir planos para 2.ª temporada. No entanto, ao analisar melhor a série, é possível verificar que se continuasse, provavelmente iria começar a repetir-se e, como tal, perder qualidade.
Melhor episódio:
Episódio 6 – Apesar de a série ter diversos episódios interessantes e cativantes, o destaque terá de ir para o último. Aí, temos finalmente mais detalhes sobre o que aconteceu no dia da morte dos pais de Sergio. A parte interessante do episódio é o facto de pensarmos que já sabemos tudo, mas nem tudo é o que parece e nem sempre conhecemos as pessoas tão bem como podemos pensar que conhecemos. Nesse sentido, o final de Ana também acaba por surpreender em alguns aspetos, sendo que a revelação dos seus verdadeiros sentimentos por Sérgio seriam de esperar pelo que vimos ao longo da série, mas nada nos prepara para o final designado para Ana, deixando o espectador surpreendido.
Personagem de destaque:
Sergio Ciscar – A maioria do destaque vai mesmo para ele, mas vemos também momentos de aprofundamento de Marta e Ana.
Ana é a psicóloga responsável pelo programa que se dedica a vigiar Sergio 24 horas por dia e sabemos desde o início que este é um projeto piloto que pode modificar o modo como as liberdades condicionais são geridas. Logo desde o início, percebemos que Ana é viciada em trabalho, de tal modo que passa os seus dias a vigiar as câmaras e a gerir a sua equipa, mas ao longo do tempo vemos o seu comportamento mudar e esta parece estar obcecada com Sergio, sendo este detalhe explorado mais detalhadamente no final da série, tal como a explicitação dos seus motivos.
Por outro lado, temos Marta, que antes do incidente passava tempo em casa de Sergio a dar aulas de piano à irmã mais nova dele. Depois da condenação, terá tido contacto com ele apenas uma vez. Marta mostra-se uma rapariga confusa que, após reencontrar Sergio, parece compreender os motivos dos seus atos e começa por se apaixonar, colocando assim em causa o relacionamento que tinha já há alguns anos. Marta vê-se obrigada a confrontar as consequências dos seus atos, uma vez que não fica bem vista por estar a iniciar um relacionamento com um ex-recluso. No final, Marta acaba por ser uma peça-chave para o desfecho da série, uma vez que o seu relacionamento com Sergio será fundamental para o futuro do projeto de Ana.
Por último, gostaria de agradecer à Netflix por nos ter disponibilizado a minissérie El Silencio antes da sua estreia, de modo a podermos lançar esta review mais cedo.