The Last of Us era uma das séries mais aguardadas de 2023 e teve a sua 1.ª temporada concluída esta semana na HBO Max em Portugal.
Um dos jogos mais populares e consagrados da última década, teve a sua adaptação anunciada em 2020, confirmando Pedro Pascal (The Mandalorian) e Bella Ramsey (Game of Thrones) nos papéis principais poucos meses depois.
Não é novidade que Hollywood realiza adaptações de video games. No mundo das séries temos os exemplos de Resident Evil e a mais recente confirmada, God of War. Adaptações que, na grande maioria, não conseguem agradar aos espectadores, especialmente àqueles que já estavam familiarizados com as obras. Então, sempre houve quem tivesse o pé atrás em relação a The Last of Us, um dos jogos mais premiados da história e considerado uma obra-prima por muito. Porém, a HBO provou ser mais do que capaz na realização de The Last of Us.
Tendo sido criada por Craig Mazin (Chernobyl) e pelo próprio criador do jogo, Neil Druckmann, a história é extremamente fiel ao material original. Há mudanças? Sim, mas são mudanças feitas para o melhor e que conseguem acrescentar imenso ao universo da série. Então, os fãs já não precisam de se preocupar com alterações demasiado drásticas. Logo no primeiro episódio, When You’re Lost In The Darkness, vemos um flashback muito interessante com epidemiologistas a explicar um pouco mais sobre a origem do fungo Cordyceps, algo que não foi muito explorado nos jogos, para além de prolongar o papel de Sarah, interpretada por Nico Parker, e ser possível ver um pouco mais da relação da família Miller.
Uma outra diferença – dessa vez mais drástica, mas muito bem aceite pelos fãs – foi o arco de Bill, interpretado por Nick Offerman. No jogo, ele ainda está vivo quando Joel e Ellie vão ao seu encontro e é mesmo como foi demonstrado na série: um sobrevivente nato que construiu aquela cidade e todas as suas armadilhas, mas Frank (Murray Bartlett) não marca presença. Após enfrentar diversos infetados, no jogo, Bill, Joel e Ellie escondem-se numa casa e acabam por encontrar Frank enforcado, com diversas marcas de mordidas. Bill acaba por dizer que era seu parceiro e mostra-se um pouco abalado. Joel acaba por encontrar uma carta escrita por Frank a dizer que o odiava, não aguentava mais estar naquela cidade e preferiu morrer ao tentar sair da cidade e que isso era melhor do que passar qualquer dia com ele. Como vimos, o rumo dos dois foi completamente diferente na série. Vemos uma história de amor num mundo pós-apocalíptico que, apesar de também ter acabado de uma forma trágica (mas muito emocionante), conseguiu trazer bastante leveza para uma série que teria tantos momentos mais tensos mais para frente.
A série não limita o seu foco aos protagonistas, como acontece no jogo. Já vimos o caso do episódio 3, Long, Long Time, que conta a história de Frank e Bill, e também de outros personagens como Sam (Keivonn Montreal Woodard), Henry (Lamar Johnson), Kathleen (Melanie Lynskey) e do grupo de David (Scott Sheperd) e James (Troy Baker, ator que deu voz e captura de movimentos a Joel nos dois jogos da franquia). Isso foi feito com regularidade na série, homenagear os atores dos jogos, como também é o caso de Jeffrey Pierce (na série, o braço direito de Kathleen, Perry; no jogo, o irmão de Joel, Tommy). E os meus castings favoritos: Merle Dandrige, que interpreta a mesma personagem no jogo e na série, Marlene; e Ashley Johnson, a Ellie dos jogos, que na série recebeu um papel simbólico de mãe de Ellie, Anna, no flashback do episódio final da temporada, Look For the Light.
A história de The Last of Us vai muito além da pandemia e os infetados. É uma história de amor. Muitos reclamaram que os protagonistas não enfrentaram tantos infetados quanto no jogo (que acontece muitas vezes por razões óbvias de jogabilidade). Acredito que o guião teve a medida certa nesse aspeto. Ficaria muito repetitivo se eles passassem o tempo todo a fugir e lutar contra as vítimas do Cordyceps e sabemos muito bem que os seres humanos são os seus próprios inimigos, especialmente em mundos pós-apocalípticos. Inclusive, os nossos protagonistas também tomam decisões que poderão virar-se contra eles no futuro. A história é sobre Joel e Ellie e como duas pessoas tão diferentes se conectam e preenchem o vazio que existe no coração uma do outra.
A única coisa que poderia ter sido feita, mas não foi, foi criar conexões com a 2.ª temporada. Sabemos que existe uma sequela – The Last of Us Part II, de 2020 – do jogo que foi adaptado na sua totalidade nesta temporada. É um jogo longo, com cerca de 30 horas de história (contra 15 horas do primeiro jogo). Já foi confirmado que a história do segundo jogo não será contada em apenas uma temporada, o que faz total sentido. Esta 1.ª temporada da série acaba exatamente da mesma forma que o primeiro jogo. Ainda acredito que deveriam ter colocado algo que estabelecesse ligação ao segundo jogo, mas percebo as razões pelas quais não o fizeram. Apesar de ser um jogo extremamente popular, existem pessoas que não conhecem a história da segunda parte (se não gostas de spoilers, recomendo fortemente não procurar NADA sobre o segundo jogo). Talvez os criadores não queriam despertar a curiosidade das pessoas ao inserir elementos da 2.ª temporada ali e fazer com que o telespectador fosse procurar mais sobre isso.
A 1.ª temporada de The Last of Us soube muito bem adaptar diversos momentos icónicos do jogo. Era uma tarefa difícil. O jogo é muito centrado nos protagonistas, mas graças à criatividade e cuidado dos argumentistas, as expectativas foram superadas. É definitivamente uma das melhores séries do ano (e a melhor adaptação de um videojogo).
Melhor Episódio:
Episódio 1 – When You’re Lost In The Darkness – É difícil escolher apenas um episódio. Todos os episódios da série tem suas qualidades e cenas memoráveis. Mas como disse anteriormente, neste episódio ainda é possível ver um bocadinho do mundo antes da pandemia e das coisas desandarem. Nico Parker brilha nos poucos momentos que tem de tela e ela é uma das grandes razões de todo o desenvolvimento de Joel na série, então foi muito bom conhecer um pouco mais dela e de como tudo começou.
Personagem de Destaque:
Joel Miller (Pedro Pascal) – Claramente a disputa está entre Pedro Pascal e Bella Ramsey, os protagonistas da história. Apesar de que TODOS os atores que marcam presença na série têm seu momento de brilho e conseguem cativar o público. Mas Pedro Pascal está excecional no papel de Joel, ele consegue transmitir toda a frieza inicial e vemos os momentos de virada, em que ele começa a se importar com Ellie, já não a vê como carga, mas sim como uma filha.