A estimada série da HBO Max, His Dark Materials, volta para a 3.ª e última temporada, desta vez para adaptar The Amber Spyglass, o desfecho da trilogia escrita por Philip Pullman.
A série de fantasia que começou com a jovem Lyra (Dafne Keen) a correr pelos corredores da universidade de Oxford, acompanhada pelo seu daemon Pan, é agora uma série com uma escala e complexidade muito diferentes. Nesta temporada seguimos três arcos principais: a aventura de Lyra e Will (Amir Wilson) para resgatar Roger (Lewin Lloyd) da Terra dos Mortos; Lorde Asriel (James McAvoy) continua a sua missão de destruir a Autoridade e Metatron; e Marisa (Ruth Wilson) descobre que realmente ama a sua filha Lyra. Tivemos ainda o arco de Mary (Simone Kirby) na sua pesquisa por Dust, acabando por ter um papel fundamental na conclusão da série.
Não entrei na temporada com uma atitude muito positiva, já que este foi o livro de que gostei menos quando li a trilogia, há uns anos. Apesar de continuar desiludida com o rumo que a história tomou (fomos de uma fantasia polar para uma história sobre religião, como assim?), acho que esta temporada conseguiu adaptar de forma incrível, principalmente a nível visual, este mundo que foi adicionando cada vez mais universos e daemons.
A nível de representação, continuo a apaixonar-me por Ruth Wilson a interpretar Mrs. Coulter. Se houve história que me prendeu ao ecrã e me fez chorar foi Marisa a tentar proteger Lyra (mesmo que à força) e terminar a temporada a sacrificar-se por ela. É uma personagem tão complexa e cativante, principalmente quando conjugada com o seu daemon, que representa as partes mais sensíveis da sua personalidade. Adoro o pormenor de ele não falar, representando a faceta mais vulnerável que Marisa quer ocultar do mundo e de si própria.
Quem também me surpreendeu bastante foi Dafne Keen, que conseguiu trazer uma camada emocional muito forte em algumas cenas mais dramáticas de Lyra. Para uma atriz tão jovem, é impressionante assistir às suas cenas, que nem para um adulto experiente seriam fáceis de representar. Houve vários momentos angustiantes ao longo da temporada, mas aquele em que Lyra deixa Pan para trás ainda me dá um aperto no coração, se pensar nele durante muito tempo.
Apesar de não ser a maior fã desta conclusão das personagens como representações de figuras bíblicas, gostei da metáfora que é estabelecida com a puberdade e o crescimento. Primeiro, Lyra tem que abandonar Pan, significando que deixa de lado uma parte da sua infância e já tem maturidade suficiente para ser independente. De seguida, toda a profecia que só se realiza se Lyra e Will tiverem sentimentos românticos um pelo outro. Apesar de ser um pouco redutor, este primeiro amor é normalmente um marco muito usado para mostrar o coming of age e a puberdade. E, por fim, quando Lyra se reúne com Pan novamente, ele já está na sua forma definitiva, como uma marta, o que significa que a personalidade da jovem já está formada e a sua forma a reflete ao máximo. Além disso, mostra que apesar do nosso daemon (a.k.a. personalidade) mudar e se alterar, precisamos sempre de estar conectados a ele, ou seja, de ter os nossos valores bem alinhados com quem somos e com a nossa essência.
Antes de falar sobre o desfecho desta temporada, não consigo deixar de mencionar os efeitos especiais, a cinematografia e as paisagens magnificas. A nível visual, His Dark Materials está mesmo muito bem conseguida e ainda bem que aproveitaram esta última temporada para mostrar mais animais feitos em CGI, algo que ficou um pouco aquém na temporada anterior. O nível de realismo destes animais é algo que nunca vai deixar de me fascinar, principalmente no personagem de Iorek Byrnison.
Por fim, temos um final que dividiu a audiência por ser absolutamente devastador, um último sacrifício para salvar os mundos. Lembro-me de ficar chocada quando li o livro, pois a maioria das obras destinados a adolescentes têm finais com um toque de felicidade, mas acho que este tinha de ser assim e admiro a coragem do escritor por não o alterar. Apesar de ser de partir o coração, pelo menos temos a possibilidade de continuar a seguir Lyra, talvez numa adaptação da próxima trilogia, The Book of Dust.
Despedimo-nos assim de uma grande adaptação da HBO e BBC que brilha por um elenco talentoso, uns efeitos especiais de cortar a respiração e uma narrativa que é complexa o suficiente para nos fazer pensar sobre o significado de crescer, da lealdade e de sacrifícios feitos por quem mais amamos.
O Séries da TV teve a oportunidade de entrevistar Dafne Keen e Amir Wilson acerca da 3.ª temporada na Comic Con Portugal 2022. Podes espreitar a entrevista, aqui.
Melhor Episódio:
Episódio 6 – The Abyss – Este episódio fez-me chorar por vários motivos, mas especialmente pelo adeus a Roger e Lee Scoresby (Lin Manuel Miranda) e por Marisa fazer as pazes com o seu daemon e aceitar a parte mais humana de si própria. Apesar de o último episódio ter sido devastador, acho que a carga emocional me apanhou de surpresa e continuei a pensar nele durante dias depois de o ter terminado.
Personagem de Destaque:
Marisa Coulter (Ruth Wilson) – Não há muito mais a referir além do que já fui dizendo ao longo do artigo. Marisa tornou-se a minha personagem favorita – tenho um fraquinho por vilões com um arco redentor – e Ruth Wilson é perfeita a representar esta personagem complexa e com muitas emoções conflituosas.