A Netflix transportou-nos novamente para a capital francesa com a 3.ª temporada de Emily in Paris. A série sempre gerou controvérsia e ainda que eu perceba o porquê e até concorde, não deixei de ficar fã da mesma. No entanto, esta 3.ª temporada deixou bastante a desejar.
Não foi por falta de acontecimentos, de certo. Pelo contrário, conseguiram colocar tudo e mais alguma coisa no enredo desta temporada, colocando cada personagem à deriva. Não só à deriva, como tiveram de enfrentar múltiplos dramas. Quando cheguei ao fim e pensei em retrospetiva sobre tudo o que aconteceu, foi-me difícil de acreditar que tinha apenas passado uma temporada. Assim, muitas confusões se deram, mas poucas tiveram o devido impacto.
Portanto, em dez episódios, Mindy está com Benoit e Étienne a tocar na rua, passa a cantar no clube de jazz, tem de deixar Benoit e Étienne para trás, Benoit junta-se a ela no clube, terminam a relação, Mindy começa uma relação com Nicolas, este fica zangado com Emily e quase que vira Mindy contra a protagonista, Mindy descobre mas emenda tudo com Nicolas e, pelos vistos, vai participar na Eurovisão com Benoit. Se isto não foi uma montanha russa, não sei. Houve aqui oportunidades perdidas, de facto, especialmente no que toca ao drama do seu namorado com Emily. Não que eu acredite que aquele pedido de desculpas foi genuíno, mas Mindy descobriu muito rápido o que se passava, o que nem deu para criar um pouco de tensão entre as duas amigas.
Saltando para a vida de Emily, mas que grande confusão! Desde estar em dois trabalhos ao mesmo tempo, a ser despedida de ambos e trabalhar para Gabriel, Emily lá encontrou o seu caminho de volta, desta vez para a Agence Grateau, a nova agência da Sylvie, mas nem isso decorreu de forma simples. Se a protagonista já parou de importar as suas ideias dos Estados Unidos, isso não significa que seja perfeita. Aliás, se perguntarmos a Julien, ele não acha que Emily saiba ser parte de uma equipa. Talvez este seja dos enredos que esteja a ser mais bem construído, pois ao longo de vários episódios foram deixando pequenas menções e realmente, no final, foi claro. Emily pode ser brilhante, mas ainda tem muito que aprender. E, claro, não só no trabalho. Vamos lá a um pequeno recap: está com Alfie, Alfie deixa-a e volta para Londres, Alfie volta para Paris, mas não conta a Emily, Emily faz serenata e reconquista Alfie, há um período surpreendente de estabilidade, Alfie descobre que Emily e Gabriel estiveram juntos no passado e deixa-a. E o pior de tudo é que isto era inevitável e muito previsível, ou seja, podiam ter-nos poupado uma temporada inteira deste casal que não tem qualquer química.
Falando em química, se nas primeiras temporadas conseguia imaginar Emily e Gabriel juntos, com todo o drama que se tem vindo a desenrolar vejo-os cada vez mais como amigos. Mesmo quando ele se confessou a ela no táxi, senti um Gabriel mais maduro e que estava a referir-se ao passado. Já Camille, por muito charmosa que seja, continua super infantil. Como assim trai Gabriel, aceita casar com ele depois de lhe contar que está grávida e termina o casamento porque sabe que Gabriel e Emily gostam um do outro? Em nenhum momento menciona que o traiu? Pensei que ela fosse uma pessoa melhor, mas se houve personagem que me irritou profundamente nesta temporada foi ela.
Adicionalmente, como se não fosse suficiente, temos ainda Gabriel na sua luta por uma estrela Michelin e conhecemos a sua avó Gigi, que por sinal – e bem – não gosta de Camille. E como este enredo nunca mais acaba, também assistimos à vida mais desinteressante de sempre, a de Sylvie. A nível amoroso considero esta mulher uma desgraça; não sabe o seu valor. Por fim, mais uma vez, Pierre Cadault está envolvido num drama. Por muito que goste do homem, já chega, precisam-se novos clientes.
Assim, achei que, em geral, o enredo desta temporada foi mau. No entanto, não é só o enredo que falha. Durante a primeira metade da temporada não senti que estava a ver Emily In Paris, tudo parecia forçado e o elenco não tinha química. Foi difícil ver esta temporada, mas boa ou má, o certo é que temos mais uma a caminho. Honestamente, gostaria muito que redimissem, dentro dos possíveis, a série, que atassem todas as pontas soltas e que houvesse alguma normalidade e não constante conflito.
Melhor episódio:
Episódio 7 – How To Lose a Designer in 10 Days – É-me difícil escolher um episódio favorito, pois cada um deles teve imensos acontecimentos simultâneos, pelo que não há nenhum que se destaque. Ainda assim, é neste episódio que Emily está lá para Gabriel quando ele pensa que Camille vai acabar com ele e é aqui que vemos o potencial da amizade deles, mesmo que sempre com medo que voltem a cair nos braços um do outro. Mas não o fazem, o que foi, sem dúvida, refrescante. Não deixou de ser ternurento ver Gabriel falar sobre os seus sentimentos por Emily.
Personagem de destaque:
Gabriel (Lucas Bravo) – Nunca pensei que Gabriel se tornaria das minhas personagens favoritas, mas a verdade é que nesta temporada ele se redimiu. Como disse, mesmo quando ele se confessou a Emily no táxi, passou sempre a mensagem de amizade. Acho que a personagem amadureceu bastante e está muito mais focada nos seus sonhos – ter um restaurante com estrela Michelin e um bando de crianças a correr pelo mesmo. Por muito que ele até possa gostar de Emily, no minuto que soube que Camille estava grávida, conseguiu imediatamente imaginar o seu futuro e comprometer-se. Foi a primeira temporada em que nunca estive a flirtar com Emily e foi, sim, fiel. Além disso, vê-lo lutar pelo seu restaurante e trazer a avó para viver o seu sonho foi das partes mais interessantes da temporada.