Anunciada em agosto de 2019, She-Hulk: Attorney At Law finalmente está entre nós. A personagem criada por Stan Lee e John Buscema nos anos 80 entrou para o Universo Cinematográfico da Marvel e certamente já deixou a sua marca, tanto para o negativo quanto para o positivo.
A série é verdadeiramente o primeiro sitcom e primeira comédia do estúdio. Podemos debater e argumentar que WandaVision fez isso primeiro, mas o contexto em que primeira série do UCM se insere é completamente diferente. She-Hulk agarra o espírito do sitcom e incorpora-o perfeitamente, tanto em termos de interpretação, guião, formato e ideias originais.
Em She-Hulk: Attorney At Law somos apresentados à personagem Jennifer Walters (Tatiana Maslany), uma advogada e prima de Bruce Banner/O Incrível Hulk (Mark Ruffalo). O episódio piloto começa bastante forte e é um dos melhores, na minha opinião. É possível ver a transformação de Jennifer na She-Hulk. Após um acidente de carro causado por uma nave espacial, o sangue de Bruce, que contém a famosa radiação gama, acaba por entrar em contato com o de Jennifer e causa a transformação. Sem mais delongas, o episódio é dedicado a mostrar a dinâmica dos primos e foca-se no desenvolvimento de Jennifer como essa ”nova pessoa” em quem se tornou, desenvolvimento esse que é extremamente rápido, pois Jen habitua-se facilmente, para surpresa do primo.
Logo a seguir, Jennifer tem de lidar com a sua identidade-dupla já pública e as consequências que isto traz, como por exemplo ser despedida de um emprego, ser contratada noutra firma de advogados com a condição que terá de trabalhar sempre sob a forma de She-Hulk. Ao longo da série é possível ver que a personagem passa por um processo de aceitação, tanto no que toca à sua própria pessoa, quanto à sua forma de She-Hulk.
É ótimo finalmente ver algum tipo de representatividade verdadeira de uma mulher neste universo, uma que tem o seu trabalho comum, que lida com questões de relacionamentos amorosos e vida de solteira (sem apelar ao family friendly) e que lida com os problemas do dia a dia e também não se esquece de se divertir com os amigos e ir beber. Há uma ótima construção de personagem.
O piloto agrega muito do universo Marvel, mas o mesmo não pode ser dito de alguns outros. Acho que é importante termos em mente que é de um sitcom de que estamos a falar e os sitcoms não foram feitos para serem levados a sério. Episódios como Só Jen e O Retiro (o 6.º e 7.º, respetivamente) são os famosos fillers que nunca faltam numa série. São episódios que não acrescentam nada à história do universo em si, apenas estão lá para entreter o telespectador. She-Hulk: Attorney At Law é o clássico tipo de série à precisamos de assistir sem pretensões algumas.
Muitas participações especiais de fan favorites foram outro ponto alto da série. Personagens como o Mago Supremo Wong (Benedict Wong), Emil Blonsky (Tim Roth) e especialmente Matt Murdock (Charlie Cox) demonstraram que possuem uma ótima química com a protagonista e com certeza foram participações relevantes para a expansão do universo.
Apesar do seu grande carisma, a personagem Titânia (Jameela Jamil) não consegue ser uma vilã relevante. Creio que é algo que tem acontecido regularmente nas séries da Marvel, em que os vilões não conseguem ter boas motivações ou serem bem construídos (como é exemplo em Ms. Marvel).
A série antes mesmo de estrear já havia gerado muita controvérsia, especialmente no que toca aos efeitos visuais. Logo no trailer, houve uma estranheza do público em relação ao CGI de Jennifer transformada em She-Hulk. Realmente foi um choque de primeira, mas conforme ia vendo a série, não foi algo que tenha estragado a experiência ou algo a que tenha dado muita atenção, pois eventualmente habituei-me a vê-la daquela maneira. Essa controvérsia certamente não passou despercebida e foi ”prevista” pelos guionistas, pois no último episódio, intitulado De Quem é Esta Série?, temos uma das cenas mais criativas e originais que já vimos no Universo Marvel, pois Jennifer, numa das suas clássicas intervenções com o público, acaba por sair literalmente da sua série no Disney+ e vai confrontar a mente que está por detrás de tudo: o robô K.E.V.I.N, que goza justamente com ”a falta de budget” e pede para que She-Hulk volte à sua forma normal enquanto a câmara não estiver nela, pois, segundo o próprio, fica muito cara. Acho que não poderia ter sido uma abordagem mais genial que não podia conectar mais o público aos produtores, pois o diálogo entre os dois mostra que a Marvel Studios está bem ciente de todo o tipo de críticas que irá receber mesmo antes de os projetos serem lançados.
She-Hulk: Attorney At Law abre muitas portas para o futuro do UCM e definitivamente é um must watch para todos aqueles que: são apaixonados pelo universo, querem uma série com uma dose de bom humor e, claro, não querem perder o esquema de pirâmide!
Melhor episódio:
Episódio 1 – Como disse anteriormente, é uma ótima entrada para a série e representa muito bem a personagem de Jennifer Walters e também é o único episódio no qual podemos ver a interação dela com Bruce.
Personagem de destaque:
Jennifer Walters/She-Hulk (Tatiana Maslany) – Muito óbvio? Talvez, mas quando paro para pensar numa personagem de destaque, não seria justo dizer alguém que não seja a própria protagonista. Apesar de a série estar recheada de personagens carismáticos e icónicos que me renderam boas risadas, quem levanta todo o astral é Jen!