Las de la Última Fila – Review da Minissérie
| 23 Set, 2022
7.8

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Hoje chegou à Netflix Las de la Última Fila, uma minissérie que alia a comédia ao drama enquanto retrata a viagem anual de um grupo de cinco amigas de longa data, que têm esta tradição há vários anos. No entanto, este ano, com elas já trintonas, há algo que tornará a viagem completamente diferente…

Logo o início do primeiro episódio deixou-me intrigada: todas as personagens estavam a rapar o cabelo, antes de partirem para a viagem. Rapidamente percebi que o faziam por solidariedade e que não foi tarefa fácil para nenhuma delas. Apesar das óbvias desconfianças que me surgiram na mente, só perto do final da série é que é revelado o verdadeiro motivo, ou melhor, a pessoa. Esta omissão acabou por me manter curiosa e atenta durante toda a série, tentando adivinhar ao longo dos episódios qual delas tinha tido a infeliz sorte que a obrigou a rapar o cabelo. Tinham feito um pacto e durante a viagem ninguém podia falar da misteriosa razão. Percebemos que a vida de uma delas está em risco e por este motivo, elas decidem tornar a viagem deste ano ainda mais especial, adicionando o “jogo dos desejos”. Desejos estes baseados nas respostas de cada uma delas à pergunta “O que farias se soubesses que tinhas pouco tempo [de vida]?”. Abrem um papelinho por dia, com a resposta de uma das amigas e todas elas têm que o realizar.

Portanto, mais do que uma viagem de amizade e convivência, é uma viagem de auto-descoberta e auto-superação para cada uma das cinco amigas. Leva-as a sair da zona de conforto, a fazer o que ambicionam, sem medos, libertando-se de culpas e vergonhas. É um processo complicado, com obstáculos e, por vezes, conflitos. Vemos a forma como fazer algo que nunca pensaram ter coragem de fazer as faz sentir bem mais poderosas. Neste sentido, a série pode funcionar como inspiração para muitas mulheres que tenham o prazer de a ver. Na verdade, a vergonha e a culpa vêm, muitas vezes, de ideais impostos pela sociedade e dos quais nos devemos desprender se realmente não estiverem alinhados com os nossos valores individuais e com aquilo que queremos para nós. Que é o que realmente importa, principalmente quando sabemos que temos pouco tempo de vida.

Falando um pouco mais das personagens, a estrutura mental de cada uma delas está muito bem definida. A forma como as vamos conhecendo ao longo dos episódios é bastante harmoniosa. Conhecemos estas mulheres bem reais, o que nos permite criar empatia e até identificarmo-nos com elas. Cada uma delas enfrenta obstáculos diferentes na sua vida, podendo sempre contar com apoio incondicional das amigas. Leo (Mariona Terés) tem problemas de autoestima e inseguranças com o corpo, Olga (Godeliv Van den Brandt) tem medo de se entregar ao outro num contexto romântico e muito medo de se colocar numa posição vulnerável. Há ainda quem esteja num momento de questionamento da sua orientação sexual, Sara (Itsaso Arana), quem tenha problemas na relação, Alma (Mónica Miranda) e quem sofra de gaslighting e manipulação e, portanto viva reprimida, Carol (Maria Rodríguez Soto).

O facto da série ser falada na língua espanhola agradou-me não só por apreciar séries noutras línguas que não o standard inglês, mas também porque o sotaque me fez lembrar Valeria, uma série espanhola que também aborda um grupo de amigas. Esta associação quase subconsciente trouxe-me bastante conforto e fez-me gostar ainda mais da série, bem como a banda sonora, constituída por músicas cantadas em espanhol, algumas delas em comum com a série que acabei de mencionar.

Toda a série tem uma vibe introspectiva e tranquila, mesmo que nem todos os acontecimentos o sejam. Está carregada de emoção, emoção esta que se esconde nos primeiros episódios e vem à tona à medida que os episódios avançam. A libertação do verdadeiro eu é o tema central desta série, que é um sinuoso caminho de autodescoberta do qual nenhuma delas sabia que precisava. Apesar da presença de vários temas mais pesados e sérios, é uma boa série para momentos de descontração, enquanto, como espetadores, analisamos os questionamentos das personagens. É ideal para qualquer pessoa que esteja aberta a aprender mais sobre a mente humana e sobre a vida.

Melhor episódio:

1.º episódio – Cumpre muito bem a função de apresentar as personagens principais e a forma como se vão organizar os episódios. Logo neste episódio há muita ação e o primeiro desejo do jogo leva cada uma delas a começar a questionar certas crenças, a libertar-se de vergonhas e a ter novas experiências. É um episódio que dá lugar a diferentes tipos de emoções, tanto no espetador como nas personagens que iniciam este caminho de autoconhecimento.

Personagem de destaque:

Carol (Maria Rodríguez Soto) – É uma mulher inicialmente acanhada, casada e com duas filhas, com dificuldade em se aventurar no jogo dos desafios. Logo no primeiro episódio, é a personagem, que a meu ver, mais se coloca fora da sua zona de conforto e mais se desafia a si mesma, demonstrando uma coragem, que parecida estar escondida. Ao longo dos episódios evolui bastante, passando por um difícil processo de aprendizagem, de autoconhecimento e abrindo os olhos para algo que lhe causa dor e, por este motivo, parecia não querer admitir como verdade e enfrentá-lo. É vítima de gaslighting e quando descobre, depois de todas as novas experiências e aprendizagens, revela-se como uma mulher muito mais empoderada e segura de si mesma.

Temporada: 1
Nº Episódios: 4
7.8
8
Interpretação
8
Argumento
7.5
Realização
7.5
Banda Sonora

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