É a série do momento e de que toda a gente fala, Dahmer – Monster: The Jeffrey Dahmer Story, que veio reviver a história macabra de um dos serial killers mais famosos da história, Jeffrey Dahmer, e, se me permites o paralelismo, veio reviver os dias de glória da Netflix com uma estreia que não deixou ninguém indiferente.
A série começa logo pela parte final, em que Tracy Edwards consegue escapar de Dahmer e leva a polícia até ao famoso apartamento 213, onde o assassino cometia os seus crimes. Para mim, isto mostra logo um dos grandes segredos do sucesso da série: a montagem está muito bem construída. Quem conhece a história de Dahmer consegue rapidamente identificar o momento e quem não conhece tem uma cruel e fria apresentação do que este homem era capaz de fazer. Ao longo dos dez episódios vamos vendo vários pontos de vista sobre o que está acontecer. Seja de Dahmer, do seu pai, da polícia, da sua vizinha Glenda, dos familiares das vitimas e até da sociedade. Os episódios vão-se completando de modo a que o puzzle seja feito até chegarmos ao episódio do julgamento do então intitulado Canibal de Milwaukee. Sabemos dos problemas dele ao crescer com uns pais em constante disputa, do tempo dele com a avó, do tempo no exército e, claro, quando chega ao apartamento.
Uma das coisas de que gosto na abordagem de Ryan Murphy é que ele não tenta transformar Dahmer numa vítima. Geralmente, neste tipo de séries sobre crimes macabros, existe um tendência técnica de fazer com que o espectador se identifique com o protagonista. Murphy não foi por aí. Ele não usou o pretexto mental ou o facto de Jeffrey ter sempre dito que era um monstro, só que não conseguia parar, como “desculpa”. Nós vemos de forma crua e frontal que Jeffrey Dahmer é um monstro e, como tal, deve ser sempre visto assim. Possivelmente, o melhor episódio para o demonstrar é o sexto, com uma das vítimas de Jeffrey. Tony Hughes é o protagonista e, aí sim, mesmo sabendo o seu desfecho, estamos sempre à espera que seja salvo. Isto leva-me para o outro ponto: Evan Peters faz um papel mais do que extraordinário. Aliás, todo o elenco é sensacional, mas Peters arrepia com a sua prestação. Se fores como eu, te interessas por true crime e já viste entrevistas do verdadeiro Dahmer, vais reparar que Peters conseguiu dar tudo de si a este papel.
Não há muito mais que possa acrescentar: Jeffrey Dahmer marcou o mundo para sempre; é um dos criminosos mais tenebrosos da história. O que mais acho fascinante é pensar se Dahmer poderia ou não ter sido salvo. Se seria possível terem parado o transtorno antes de tudo isto acontecer. Depois é quase inacreditável como é que ele se conseguiu safar durante tanto tempo. Parece daquelas coisas de filmes, em que acreditamos só porque está num filme. Mais: o comportamento da policia foi homofóbico e racista e isso causou mais mortes. É preciso falar nestas coisas e relatar que ainda hoje acontecem. Certo é que Jeffrey Lionel Dahmer tornou-se numa das maiores abominação que alguma vez pisou neste planeta, mas também acho que ele tinha noção disso. Na minha opinião, esta é uma das melhores, senão a melhor, adaptação de um caso real a uma série de televisão, mas é importante perceber que isto não é só sobre Dahmer. É principalmente sobre as 17 vidas que ele tirou de forma injusta.
Não me parece que a série procure lucrar com a dor, ao contrário de várias outras produções deste género. Acho que é cruelmente importante que casos como o de Jeffrey Dahmer sejam relembrados. Algo não estava bem desde o começo e é importante todos termos atenção aos sinais. As doenças mentais são uma realidade que merecem toda a atenção. Mas também que fique bem claro que a culpa só tem um nome: Jeffrey Dahmer.
Melhor episódio:
1.º episódio – É o episódio que choca toda a gente e deixa às claras quem é Jeffrey Dahmer. Muitas são as notícias de pessoas que não conseguiram acabar o episódio e essa é a melhor definição e prova de que Dahmer era de uma crueldade impensável. Esta série não é para todos e isso fica claro logo no início.
Personagem de destaque:
Jeffrey Dahmer (Evan Peters) – Vou ser muito sucinto aqui. A série decorre à volta dele e havia o risco de o tornar numa espécie de herói narrativo. A série não foi por aí. Crua e fielmente está aqui retratado o monstro e as monstruosidades que Dahmer cometeu.
Não posso acabar esta review sem deixar uma nota de pesar a todas as famílias e relembrar os nomes daqueles que foram as vítimas de Jeffrey Dahmer:
E claro, Tracy Edwards, que felizmente conseguiu escapar e ajudou a pôr fim a estes crimes.
Que descansem todos em paz e que nunca mais volte a acontecer algo assim.