Baseada numa das melhoras obras de Neil Gaiman, esta nova série da Netflix traz-nos The Sandman ao pequeno ecrã, numa adaptação com uma 1.ª temporada de dez episódios e a promessa de mais. A premiada obra de banda desenhada acompanha a existência de Sonho (Dream), também conhecido como Morfeu ou como Sandman, enquanto este encontra várias situações, problemas e histórias. Na BD existem cerca de 13 arcos e cerca de dois foram abordados durante esta 1.ª temporada.
Sem spoilers e de forma resumida, The Sandman conta a história de uma entidade divina que dá pelo nome de Morfeu e é o Deus da terra dos Sonhos onde todos os humanos entram todas as noites e onde tudo é possível. Sandman foi apanhado e é obrigado a passar cerca de 100 anos na Terra, sendo que, durante esse tempo, também lhe roubaram os seus artefactos. O começo da série é focado na procura destes mesmos artefactos, mas a partir daí evolui para muito mais.
O que é que podes esperar de positivo da série? Muita coisa, mas a primeira que salta à vista é a qualidade de imagem e cenários que usaram. Tem uma qualidade técnica impressionante, com paisagens muito bem feitas e bonitas; há vários cenários de cortar a respiração que tornam esta aventura muito bela.
Depois, a qualidade da interpretação dos diferentes intérpretes que passam por The Sandman – e passam muitas! A série decorre ao longo de muitos anos e por isso há poucas personagens que aparecem ao longo da série toda. Destaque para Tom Sturridge, que interpreta Sandman e que faz um papel muito convincente.
O principal de que gostei em The Sandman foram as histórias. Abordamos cerca de três arcos diferentes ligados a Morfeu, desde a procura pelos seus equipamentos, viagens a outros reinos, entre outras coisas, e cada história tinha os seus momentos profundos. Esta adaptação conseguiu trazer as principais caraterísticas do original, a beleza e estranheza do mundo e a profundidade de reflexão sobre diferentes temáticas, desde a natureza do ser humano à própria morte. Por exemplo, gostei bastante de dois momentos da série, desde o episódio em que Sonho e Morte andam a ir buscar pessoas ou o episódio em que vemos os diferentes encontros entre Sonho e o seu amigo humano ao longo de vários séculos, quase como uma batalha entre quem não percebe a alegria de viver e quem o quer a todo o custo.
O corvo Matthew também merece destaque, porque adiciona um elemento de comédia muito necessário à série, dando-lhe este toque para aliviar toda a reflexão que é feita ao longo dos episódios. Depois há muito mais personagens que poderia destacar, mas no fundo consegue-se resumir que The Sandman tem um bom elenco e leque de personagens. Entre vários vilões, o principal desta temporada, Corinthian, é um excelente antagonista e gostei bastante dele.
Última nota de destaque: não para a intro, como costuma ser o caso de séries com uma bela produção e banda sonora, mas sim para as cenas de créditos finais. Caso tenhas a Netflix no modo de passar automaticamente para o próximo episódio, retira, porque são 2-3 minutos de créditos que são uma obra de arte. Mudam de episódio para episódio com cores ou imagens temáticas do episódio e vale a pena ver.
O que é que a série tem de mau? Pouca coisa e são apenas pormenores que separam uma grande estreia de uma estreia perfeita. Para mim houve apenas um detalhe que me fez um pouco de comichão e foi a transição entre arcos. Enquanto estás a ler a banda desenhada, há uma separação física e, portanto, não estranhas se houver alguma transição mais brusca. Na série eu senti isso especialmente entre o primeiro arco e o segundo. Parece que surgiu de forma forçada, sem o seguimento natural. Pelo final, parece que não vão cometer esse erro na 2.ª temporada, sendo que deixam preparado o que vai ser o foco do próximo arco.
De forma geral, foi uma estreia de grande sucesso e que de certeza vai estar no topo de estreias deste ano e poderá vir a ser mais uma série de sucesso da Netflix. Um fator de confiança é o quão envolvido Neil Gaiman está no projeto, o que explica o porquê de a adaptação estar a ser tão fiel.
Melhor episódio:
Episódio 6 – The Sound of Her Wings – Foi uma escolha muito difícil! Tenho vários momentos favoritos que ficam de fora desta escolha, como o episódio 4, onde há uma luta que foi realizada de uma forma genial e muito criativa, ou o episódio 5, onde há uma experiência social sobre as mentiras que dizemos constantemente e que achei muito interessante. No entanto, o episódio 6 leva a taça para casa. Porquê? Porque adorei a conversa e introdução da personagem que representa a Morte e a discussão sobre o facto de os humanos a temerem tanto. Foi profundo, foi triste, foi interessante e muito bem interpretado, um dos momentos mais altos para mim da série, apesar de ser um pouco paralelo à história principal.
Personagem de destaque:
Corinthian (Boyd Holbrook) – Também aqui poderia ter escolhido outros, nomeadamente o próprio Sandman, mas o carisma que o ator trouxe à personagem foi uma muito agradável surpresa, até porque a personagem não tem tanto destaque na obra original, mas aqui segurou a temporada. Conseguia ser temível, mas ao mesmo tempo engraçado e fácil de gostar.