Better Call Saul – Review da 6.ª temporada
| 24 Ago, 2022
9.9

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Disponível na Netflix, Better Call Saul chega ao final com a 6.ª temporada. Mais de 13 anos depois de o universo de Breaking Bad ter chegado à TV, trazido pelo AMC, chega ao fim a obra de Vince Gilligan e com uma mestria como poucas vezes vimos e poucas vezes iremos ver ao longo das nossas vidas.

Apesar de ser uma review focada na 6.ª temporada, esta não deixa de ser a última e, portanto, um dos dados que é preciso analisar é a forma como consegue ligar-se ao resto da série, fazendo uma ponte perfeita entre o que vemos em Better Call Saul e os eventos de Breaking Bad.

Começando pelo elenco, há muito por onde falar, mas é preciso dar o devido destaque a Bob Odenkirk e a Rhea Seehorn. Bob, que interpreta Jimmy McGill – aka Saul – dá uma dimensão e profundidade a esta personagem, algo a que não teve direito totalmente em Breaking Bad. Quando soube que o spin-off de BB iria ser sobre Saul fiquei curioso; era uma personagem que me intrigava, mas nunca imaginei que fosse ter a profundidade e complexidade que vimos.

Better Call Saul é um exemplo prefeito de um character study que corre bem: é interessante e complementa o mundo que conhecemos em BB. Bob deu tudo à personagem e ver a evolução dele desde os tempos em que se dedicava a sketchs de comédia até este papel é muito bonito. Espero mesmo que ele ganhe o Emmy com esta performance, porque merece! Quanto a Rhea, que interpreta Kim Wexler, conquistou as audiências desde cedo e foi aguentando a série nas suas alturas mais fracas, como a 3.ª e 4.ª temporadas. Tornou-se uma das personagens mais acarinhadas pelo público, que temia o final que lhe fosse dado, uma vez que esta não aparece na série original. Kim é o par perfeito para Jimmy, mas não para Saul, e um dos grandes focos desta temporada é ver a dinâmica crescente entre ambos até ao clímax e até àquele que foi o último momento de Jimmy McGill (que irei abordar mais à frente nesta review).

Não quero deixar de referir muitas outras personagens que são cruciais para o sucesso da série, desde Mike, Gus e Lalo Salamanca, sem esquecer os cameos de Walter e Jessie.

Outro ponto em que a temporada (e série) é genial é na realização. Todas as imagens, todos os frames são importantes e contribuem para o enredo. Mesmo episódios mais calmos e lentos (à semelhança do que acontecia com Breaking Bad) conseguem ser interessantes devido a este fator. Há muitos easter eggs e foreshadowings ao longo da temporada, pelo que sem dúvida será para rever um dia mais tarde.

A nível do enredo, é uma das melhores obras de televisão que vi. Tenho lido alguns comentários com a opinião de que, em certas alturas, Better Call Saul ultrapassa a genialidade de Breaking Bad. Na minha opinião é um misto: a série passa por momentos mais fracos do que Breaking Bad alguma vez teve, mas tem dos meus momentos favoritos também, especialmente esta temporada. Os dois finais foram espetaculares, tanto o final da série em si como o final da primeira parte da temporada (episódio 7). Aliás, por algum motivo têm uma pontuação de 9.9 e 9.8 no IMDb.

Porque é que o enredo é genial e resulta? Porque nos apresentam uma transformação de um homem, de uma forma completa, satisfatória (apesar de a transformação não ser para melhor) e que se liga muito bem ao homem superficial, inteligente e manhoso que vemos em Breaking Bed. Acabamos Better Call Saul a perceber o que leva alguém a tornar-se como Saul era e deixa de nos parecer forçado ou exagerado. Também porque nos permite explorar e conhecer melhor este universo, especialmente Gus e Mike. Todo o arco de Mike com a equipa de construção do laboratório é bastante bom. Por último, devido à presença de um antagonista de qualidade como foi Lalo Salamanca. Todos sabíamos que Saul e Gus não iam morrer, mas as cenas com Lalo foram de tal tensão que quase nos faziam esquecer disso. Grande trabalho dos criativos por detrás da série e do ator Tony Dalton!

Há muita coisa que poderia escrever aqui, mas o objetivo não é dissecar episódio a episódio; no fundo, Better Call Saul foi uma obra genial. Conseguiu ganhar o seu espaço e tornar-se algo diferente e único, mas que se interliga na perfeição à série na qual teve origem. Temos momentos de drama, de ação e de perigo nesta temporada muito protagonizada por Lalo. Temos momentos calmos, de construção do mundo e muito muito desenvolvimento de personagem. Tudo ou quase tudo o que acontece é focado em desenvolver personagens.

Por último, o nó que dão no final para embrulhar a história foi muito bem escrito! Quase me leva a crer que quando Vince estava a criar Breaking Bad já tinha pensado em muitas das coisas que usou em Better Call Saul. Nos episódios finais começamos a ver a forma como Walter White entrou na vida de Saul, interligando os dois enquanto temos direito a uns episódios mais para o fim em que o foco é a vida de Saul depois dos eventos de Breaking Bad. Esse foi outros dos motivos pelo qual gostei tanto da série: as decisões que foram tomadas para o final. Kim conseguiu sair desta vida e voltar ao seu normal, enquanto Jimmy volta sempre ao seu ponto como Saul. Este lado dele leva sempre a melhor e acaba por enterrá-lo. Ou, pelo menos, assim pensamos. Jimmy está quase a conseguir o acordo da vida dele e deita tudo ao lixo para limpar o nome de Kim, fazendo isto da forma mais espalhafatosa possível, mas sem esperar nada em troca. Foi bonito, fez sentido e no final tivemos Jimmy novamente.

Melhor episódio:

Plan and Execution (episódio 7) – A luta foi entre o episódio final e este, mas este ganha porque foi perfeito. Foi o culminar da tensão começada já várias temporadas entre Jimmy, Kim e Howard, com o terror que Lalo conseguia incutir. Desde o momento em que o plano começa a correr mal, com Kim a desistir de uma entrevista de emprego só para conseguir voltar ao plano, até à forma como acaba, onde pela primeira vez ambos se apercebem que se meteram fora de pé… E Howard? Morreu por estar no sítio errado à hora errada. É triste, mas acontece. A forma como Jimmy traz Saul ao de cima para convencer Lalo a enviar Kim para fora de casa e não a ele. O confronto entre Gus e Lalo, apesar de sabermos que Gus não iria morrer, não saiu incólume. Howard e Lalo foram enterrados lado a lado no laboratório onde tanto tempo passamos em Breaking Bad. Foi tudo tão bom naquele episódio que a única coisa negativa foi termos de esperar dois meses até ao seguinte.

Personagem de destaque:

Jimmy McGill (Bob Odenkirk) – Esta foi mais difícil de escolher. Entre ele, Kim e Lalo, nesta temporada qualquer um podia ter levado a distinção para casa. Aliás, até me atrevo a dizer que se a temporada acabasse no episódio 7 teria escolhido Lalo. No entanto, a forma como Jimmy termina a sua história no passado e no futuro arrebata os restantes e a interpretação de Bob aqui foi, mais uma vez, crucial, mas não podemos esquecer a incrível equipa de argumentistas que estão por detrás daquela personagem. Nota também para a forma como ele se veste de acordo com a personalidade que está a ter naquele momento. Merece um Emmy!

Temporada: 6
Nº Episódios: 13
9.9
10
Interpretação
10
Argumento
10
Realização
9
Banda Sonora

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