A parte 2 da 4.ª temporada de Stranger Things já está disponível na Netflix e não podíamos estar mais entusiasmados. É verdade, na primeira parte vivemos momentos intensos e inesperados, mas nada comparado com aquilo que estes dois episódios nos reservam. Entre desventuras, romance e música, os criadores da série não deixaram espaço para nada. Excpto, claro está, todas as respostas às perguntas que passámos o último mês e meio a fazer. Dia 1 de julho chegaram às nossas casas os dois novos episódios e, deixa que te diga: you won’t see it coming.
A primeira parte terminou com a incrível revelação de que o vilão que conhecemos oficialmente nesta temporada, Vecna (Jamie Bower), é o vilão que nos acompanha desde o início da série. Desde o desaparecimento de Will (Noah Schnapp), desde que jogavam D&D na cave de Mike (Finn Wolfhard) e desde que Eleven (Millie Bobby Brown) escapou do laboratório. No momento em que me apercebi disto, ficou tudo claro na minha cabeça: todas as vezes que Will cantava Should I Stay or Should I Go, todas as vezes que as luzes tremelicavam…enfim, a lista não acaba. Ironicamente, é como se uma luz se tivesse acendido.
Uma das forças mais notáveis de Stranger Things, a meu ver, é a forma como todas as storylines se intercetam, como todas têm um fio condutor que as une no fim. O facto de ter sido Eleven, há anos atrás, a “criar” o vilão que persegue estes jovens desde o início da série e o próprio mundo paralelo, o Upside Down, não só é chocante, mas ridiculamente inteligente. Esta era a narrativa de que não estávamos à espera e que nos consumiu como nenhuma outra nos consumiu antes em Stranger Things.
Nesta segunda parte da 4.ª temporada, tal como na primeira, temos quatro principais narrativas. A primeira é a de Eleven, que, em conjunto com o Dr. Brenner (Matthew Modine), mais conhecido por Papa, tenta encontrar uma forma de derrotar Vecna. A segunda, à semelhança da primeira, também tem como objetivo derrotar o vilão, mas tem por base um plano pormenorizado de quatro partes, idealizado por Nancy (Natalia Dyer), Robin (Maya Hawke), Steve (Joe Keery), Max (Sadie Sink), Lucas (Caleb McLaughlin), Eddie (Joseph Quinn), Erica (Priah Ferguson) e Dustin (Gaten Matarazzo). Na terceira narrativa, temos o quarteto fantástico, Mike, Will, Jonathan (Charlie Heaton) e Argyle (Eduardo Franco), que, a todo o custo, tenta encontrar Eleven para a levar de volta para casa. Por último, mas não menos importante, seguimos a viagem de regresso de Joyce (Winona Ryder), Murray (Brett Gelman) e Hopper (David Harbour), que se fazem acompanhar por “Enzo” / Dmitri Antonov (Tom Wlaschiha) e Yuri (Nikola Djuricko).
Uma das coisas de que mais gosto nesta série é a forma como as dinâmicas entre os grupos são nitidamente diferentes, mas todas intrigantes, à sua maneira. No entanto, a minha dinâmica preferida é assumidamente a de Nancy, Steve e Robin. As duas raparigas, apesar de inicialmente não se darem muito bem, acabam por ter das relações mais peculiares da temporada: entre revirares de olhos, sorrisos e conversas espontâneas, acabam por se tornar amigas. Steve, por outro lado, tem uma relação, desde o início, muito especial com ambas. E, sim, o que sente por Nancy sobressai nos momentos mais intensos e cruciais desta temporada. O nosso coração acaba por ficar dividido… Steve ou Jonathan?
Por outro lado, a relação de Jonathan e Will pareceu-nos mais tremida durante estes episódios, mas, ainda assim, foi possível reconhecer os momentos em que o irmão mais velho se apercebeu de que algo efetivamente se passava com o mais novo. Curiosamente, dos momentos mais tristes destes novos episódios é quando Will mostra o desenho que fez a Mike e, na prática, se declara de forma indireta só para ser, mais uma vez, ignorado. E quando se vira para a janela a chorar? Novamente, o coração não aguenta.
Agora: Dustin e Eddie. A dupla que não esperávamos, mas que nos surpreendeu pela positiva. Um bocado à semelhança de Dustin e Steve, estes dois acabam por nos brindar com uma comédia on point e um trabalho de equipa que, como sempre, em Stranger Things, é a origem de todas as amizades. O rock n’ roll, a garra e a união destas duas personagens foi das partes que mais me fascinou nesta 4.ª temporada, mas enfim, tudo o que é bom acaba e mais não digo!
Contudo, nem tudo é mau ou devastador e, sim, esperámos seis anos, mas finalmente aconteceu o beijo que tanto ansiávamos. Será que é desta que Jopper consegue o seu final feliz? Hopper e Joyce renderam-se finalmente ao que sentiam e deixaram-nos a todos histéricos. Finalmente! Conseguiram chegar a salvo a casa, juntos, felizes e esperançosos e voltaram a ver Hopkins. O reencontro entre Eleven e Hopper é também dos momentos mais marcantes desta temporada, na minha opinião. Principalmente quando El admite que deixou todas as noites a porta entreaberta porque nunca deixou de acreditar que Hopper estava vivo. Parece que os criadores da série, os Duffer Brothers, quiseram mesmo brincar com as nossas emoções. Sempre que achamos que estamos a salvo, eles provam-nos o contrário e fazem-nos chorar mais um bocadinho. Quer seja de tristeza, felicidade ou desespero.
E Lucas e Max? Para grande tristeza dos fãs, acabaram a relação na última temporada, mas arranjaram forma de nos presenciar com um dos momentos mais adoráveis de toda a temporada quando falaram através de papéis e desenhos. É incrível como, num momento, tudo aparenta estar bem e no momento a seguir… Max acaba por morrer. Ou, pelo menos, de forma temporária. Estávamos à espera? Não! Chorámos que nem uns bebés? Sim! A emoção com que Sadie Sink e Caleb McLaughlin se entregaram a esta cena foi incomparável; o desespero e o medo na cara de ambos, os gritos de terror de Lucas quando se apercebe do que está a acontecer… Simplesmente: chef’s kiss.
Sinceramente, acho que esta temporada nos causou mais dor do que qualquer outra coisa, mas é para isso que gostamos de ver séries, não é? Para sofrer. Pela angústia, pela paixão, pelo suspense. E Stranger Things permitiu-nos ter tudo isso, da forma mais dolorosa e viciante de sempre. Entre paixões, pizzas, banhos gelados e sangue, esta temporada de Stranger Things ofereceu-nos algo pela primeira vez, de forma crua e real: medo. Porque sabíamos que iria haver uma mudança, um shift, uma reviravolta. E a reviravolta foi esta mesmo: aqueles jovens, que outrora foram crianças sem preocupações, estão quase adultos e a escuridão vivida nestes dois últimos episódios tenebrosos promete voltar na próxima temporada. E nós mal podemos esperar! O que será que vai acontecer?
Melhor Episódio:
Episódio 9 – Piggy Back – O endgame de Stranger Things, a batalha final, o apocalipse. Há diversos nomes que podemos dar a este episódio que simbolizem a intensidade, a destruição e a emoção que nele estão presentes. A união de todas as personagens, assim com ao sensação de um mal iminente, de uma catástrofe que está mesmo à porta, são apenas alguns dos elementos que tornam estas duas horas em momentos de pura ansiedade, medo e, acima de tudo, esperança.
Personagem de Destaque:
Eddie Munson (Joseph Quinn) – Em homenagem à incrível incorporação de Eddie, feita de forma brilhante pelo ator Joseph Quinn. Ele veio melhorar Stranger Things, veio dar aos fãs e espectadores uma personagem complexa, interessante, engraçada e, acima de tudo, querida. Ninguém estava à espera de, ao fim de quatro temporadas, ainda se apaixonar tão perdidamente por uma personagem nova, mas o facto é que aconteceu. Todas as gargalhadas, todos os comentários inoportunos e trejeitos pouco comuns agarraram o coração dos fãs e fizeram com que Eddie se tornasse numa das personagens favoritas de toda a série. O momento mais icónico é, sem dúvida, a “batalha” contra os morcegos, em que Eddie nos brinda com um solo de guitarra arrepiante da música Master of Puppets, dos Metallica. O desfecho desta personagem é, no entanto, dos mais tristes da série. Os momentos finais com Dustin partiram-nos o coração (mais ainda). Contudo, Eddie Munson, líder do clube Hellfire, jovem honesto e fiel, acabou por se tornar naquilo que jurava nunca vir a ser: um herói.