Seis episódios depois e a uma velocidade galáctica, chegamos ao fim da, até agora, única temporada de Obi-Wan Kenobi, a série mais esperada pelos fãs de Star Wars. Começou por ser um filme, transformou-se numa série e hoje estou aqui, como fã e como alguém que adora boas histórias, para vos contar tudo o que sinto em relação a Obi-Wan Kenobi, disponível na sua totalidade no Disney+.
Passou a correr, não foi? Confesso que antes de dar play no episódio pensei em adiar mais um pouco para não acabar tão cedo. Passei o dia a pensar como seria o final de uma das séries por que mais esperei em toda a minha vida. Acho que, hoje em dia, ser fã de Star Wars tem tudo de bom e tem tudo de mau. Eu explico! Vivemos numa das melhores alturas do universo, sendo que todos os anos temos conteúdos novos a sair. Por vezes, até mais do que um por ano. Temos novas histórias, visitas ao passado e até fora do ecrã – seja ele grande ou pequeno – temos histórias aos quadradinhos e livros a sair constantemente. Sim, a Disney faz bom uso do merchandising, mas, bolas, também lança conteúdo muito bom! No entanto, ao mesmo tempo, Star Wars é tão grande na vida dos fãs que nada parece agradar. Eu, inclusive, cada vez sou mais crítico das sequels e entendo que a Disney meteu os pés pelas mãos nessa “brincadeira”. No entanto, se não posso dizer que adoro tudo o que tem saído, também sinto que muitas coisas são criticadas mesmo antes de sequer serem analisadas. Sempre me disseram para pensar antes de falar e, sou sincero, ontem, após acabar o episódio, o meu primeiro instinto foi vir escrever sobre o que tinha sentido, mas não o fiz, porque sabia que a minha avaliação seria demasiado entusiasta. Seria de um fã de lágrimas nos olhos cheio de emoção e que iria escrever mais com o coração do que com a cabeça. Com isto não quero dizer que não se pode criticar, quer pela positiva, quer pela negativa. Peço é que não sejamos demasiado radicais. Star Wars faz tanto parte das nossas vidas que teríamos que ter um episódio único para cada um ficar agradado e isso não é possível.
Mas vamos à série em si. Se eu acho que Obi-Wan Kenobi é uma obra-prima? Não! Se acho que é uma boa série? Sim! Ao contrário do que aconteceu com The Book of Boba Fett, onde claramente o personagem não justificava uma série própria, aqui temos uma série que, sim, faz sentido para o canon do universo Star Wars. Em termos narrativos, os elementos são muito básicos. Temos Obi-Wan completamente destruído após os acontecimentos no filme Revenge of the Sith e, em seis episódios, ele parte numa jornada onde se reconecta com a força e volta a ter esperança. Vimos a transformação de Obi-Wan, ou Ben, de um homem derrotado para o homem que irá treinar Luke em A New Hope, nove anos mais tarde. Para mim, essa jornada foi muito bem executada. Existem, claro, alguns problemas narrativos que sempre vão existir em Star Wars. É uma história com mais de 45 anos; sempre que se acrescenta alguma coisa, vão ter de justificar isto ou aquilo, mas eu dou o mérito pelas tentativas. Por exemplo, Han Solo chamar-se Solo por estar sozinho como vimos no filme dele. Isso para mim é má justificação.
Agora, o que temos visto nas séries, e mais precisamente nesta, para mim faz total sentido. É certo que existe um retcon (continuidade retroativa) grande e que dará que falar. Afinal, Leia e Obi-Wan conhecem-se. No filme original, tudo dá a entender que quando Leia envia a mensagem a pedir ajuda ao velho Jedi, ela não o conhecia. No entanto, eles tentam explicar isso, com Obi-Wan a dizer a Leia que ninguém podia descobrir a ligação deles. É uma desculpa fácil? Sim, mas funciona. Leia não sabia quem iria encontrar a mensagem, logo o tom mais formal e desconecto de qualquer ligação mais próxima até faz sentido. Se isto foi pensado antes? Claro que não, mas sabemos que Star Wars é assim e terá de ser assim se queremos mais conteúdo.
No entanto, também há coisas de que não gostei, a começar pela aparição de Qui-Gon. Para algo tão esperado e desejado pelos fãs, pareceu ser feito muito à pressa e do nada. Foi forçado! Mesmo a história de Reva foi muito previsível. Não que ela seja uma má personagem, mas é uma história que já tínhamos visto no jogo Jedi: Fallen Order. Sim, George Lucas criou as narrativas de Star Wars para rimarem, como poesia, mas neste caso isto não entrega nada. Os inquisidores também me parece que não acrescentaram grande coisa. Se não fosse Reva, eles pouco ou nada teriam de influência e sabemos que são das melhores partes do universo expandido. Gostaria de ter visto mais.
Contudo, claro, é impossível falar desta série sem falar das duas grande personagens: Obi-Wan Kenobi e Darth Vader. Vamos ser sinceros, todos estávamos aqui para ver o reencontro destes dois ícones e não podemos dizer que ficamos desiludidos. Ewan McGregor e Hayden Christensen nasceram para estes papéis. Eu sei que o artigo está longo, mas permite-me desabafar hoje sobre uma das coisas que mais amo, este universo, e aí tenho de dizer que Hayden merecia o que está a acontecer hoje. Há 20 anos, ainda antes do ódio da internet, Hayden foi super maltratado pela sua prestação como Anakin, mas o tempo fez-lhe justiça. Não só ele é o homem certo no lugar certo, como é um profissional tremendo. Um exemplo disso foi ele ter visto a série animada The Clone Wars para estar ainda mais preparado para o papel e, claro, por nunca ter desistido de uma personagem que é sua. Voltando à série, os momentos entre os dois foram brilhantes. A primeira batalha deles, a fazer lembrar muito a luta em A New Hope, foi boa e até necessária para percebermos que Obi-Wan realmente precisava de perder para voltar a ser o grande mestre Jedi que outrora fora. No entanto, a luta do último episódio, bem, essa entra numa das melhores cenas que eu já vi de Star Wars. Kathleen Kennedy, presidente da Lucasfilm e a grande chefe de tudo o que é Star Wars, prometeu a revanche do século e ela deu-no-la. Que batalha! Uma luta cheia de emoção, ação e que ao mesmo tempo justifica muitas das coisas que Obi-Wan diz a Luke no filme original. A coreografia é sensacional e o jogo de luzes é arte no mais puro sentido da palavra.
Já percebeste que podia estar aqui a falar o resto do dia! Quero só deixar duas notas: primeiro, apesar de ter percebido, achei que a falta da banda sonora original nos episódios foi um erro na pós-produção. É muito fácil jogar com as emoções ao ouvir a Marcha Imperial ou o tema de Leia, como foi o caso neste último episódio. Infelizmente, foi só no último. O outro ponto é que, apesar de Deborah Chow ser um extraordinária realizadora, acho que foram demasiados episódios para uma só realizadora. Acho que a série podia ter ganho mais, principalmente nos episódios 3, 4 e 5, se tivesse um ponto de vista diferente. De resto, é de agradecer estes seis episódios que me fizeram sentir um menino no natal todas as quartas, à espera do episódio. É tão bom viver numa altura em que Star Wars está cada vez mais viva! E, antes que perguntes, por mim a série termina aqui. Não quero uma 2.ª temporada. O que tinha de ser contado já foi e espero que o Disney+ não se deixe deslumbrar.
Melhor Episódio:
Episódio 6 – Part VI – É engraçado que todos os episódios espelhem os primeiros seis filmes, mas – ao contrário de Return of the Jedi, que é o menos bom da trilogia original – aqui a parte 6 é a melhor desta série. Para além das participações especiais e do desfecho da história, tivemos o combate do século e foi só um dos grandes momentos da cultura pop dos últimos anos. Simplesmente genial!
Personagem de Destaque:
Darth Vader (Hayden Christensen) – É injusto na sua própria série não dar este prémio a Obi-Wan Kenobi. Ewan é o melhor ator para o papel e acho que de alguma forma temos de o voltar a ver como Obi-Wan, mas Darth Vader é o maior vilão da história do cinema. Não só pelo medo que impõe, mas pela luta interior que o personagem sofre. Falar de Vader e Anakin é falar de uma das personagens mais complexas e mais poéticas alguma vez escritas. A realidade é que Vader aparece pouco em live-action. A maioria das vezes que vemos as suas batalhas e grandes maldades são no canon expandido. Finalmente, tivemos Vader a fazer e a ser aquilo que tanto temos medo mesmo em frente à nossa cara. A cena dele a matar pessoas para provocar Obi-Wan é terrível, no melhor dos sentidos para a personagem. E, claro, ter Hayden de volta é tocar nos nossos corações. A cena do último episódio onde Vader está com a máscara partida ao meio e vemos metade de Anakin e as vozes estão misturadas é das melhores coisas de Star Wars. Ver isso em live-action é um sonho concretizado. A luta interior da personagem sente-se e, para mim, isso torna Darth Vader não só no maior vilão da história do cinema, como possivelmente no personagem com mais camadas e com mais profundidade alguma vez escrito.