A maravilhosamente desconcertante série francesa As 7 Vidas de Léa estreou na Netflix no passado dia 28 de abril e eu, como seriólica assumida, já vi os sete episódios que compõem a temporada. Esta série alia o drama, o mistério e a fantasia de uma forma absolutamente genial, numa trama que se inicia quando Léa (Raïka Hazanavicius), uma adolescente de 17 anos, encontra um cadáver junto ao rio, depois de ter abandonado uma festa.
Léa rapidamente descobre a quem pertence este cadáver, depois de misteriosamente viajar no tempo para 1991 e acordar num corpo que não lhe pertence. O nome dele é Ismaël (Khalil Ben Gharbia) e tem uma curiosa ligação com os seus pais, Karine (Marguerite Thiam) e Stéphane (Théo Fernandez), todos eles com uma paixão em comum: a música. A protagonista conecta-se intimamente a esta morte tentando descobrir o que aconteceu afinal a este jovem.
Esta série tem uma forte componente policial e de investigação de um mistério, mas rapidamente esse foco é voltado para as emoções de cada uma das personagens, sendo dada ao espectador uma visão muito pessoal do sucedido, já que Léa tem uma relação tão próxima com duas das personagens envolvidas. Há também a componente irrealista da viagem no tempo e da troca de corpos, que pode levar muitos a não ver a série. Na verdade, não é retratada como um acontecimento mágico e fantástico, mas sim como uma viagem de descoberta de identidade, de propósito e de procura de justiça, encarada pela nossa protagonista como uma missão de salvamento. Léa assume o peso e a pressão de resolver os problemas dos seus antepassados, encontrando-se numa fase muito negra da vida. Sente-se sozinha, deprimida e não entende a alegria de viver que vê nos que a rodeiam, enquanto é envolvida por uma profunda tristeza.
Em termos de banda sonora, predomina música pop, alternativa, eletrónica e alguma rock, antiga e mais atual, acentuando a diferença temporal. A escolha musical aplica-se perfeitamente a cada uma das cenas, dando ênfase à mensagem que cada uma transmite. Visualmente, os efeitos dão destaque às emoções da personagem principal.
As 7 Vidas de Léa é uma daquelas séries que nos surpreendem pela positiva. Não estava nada à espera que a série fosse tão boa e principalmente não esperava que despertasse tantas emoções distintas em mim. Acabei agora a série, três dias depois de a ter começado, e estou completamente “abananada”. Há muito tempo que uma série não me afetava desta forma tão explosiva e eficaz. Sinto um aperto no coração, tristeza e inquietação, mas ao mesmo tempo satisfação por ter encontrado uma série com tanta qualidade, de forma aleatória, na Netflix. A história destas personagens inspira o espectador, sem dúvida alguma. A série revelou-se algo totalmente diferente do que esperava. É bastante pesada e a carga emocional aumenta à medida que os episódios avançam e conhecemos melhor as personagens. É toda uma jornada de emoções que tu, como espectador, não podes perder!
Melhor Episódio:
Episódio 7 – Dia 7 – Pode parecer cliché, mas o melhor episódio é o último, definitivamente. É aqui que culminam os acontecimentos e emoções desenvolvidos durante toda temporada. É neste episódio que descobrimos o que realmente aconteceu com Ismaël. Léa depara-se com uma difícil escolha. Já o espectador passa o episódio todo em êxtase, com o coração nas mãos, completamente envolvido pela ação, pelos sons, pelas imagens, pelas personagens…
Personagem de destaque:
Léa (Raïka Hazanavicius) – Sem qualquer dúvida que a personagem de destaque é Léa. A protagonista detém uma capacidade psicológica impressionante, relativizando e pensando de forma lógica sobre a vida. Ganha imensa maturidade episódio após episódio, revelando um altruísmo exponencial. Esta adolescente prestes a desistir da vida toma uma atitude e luta de uma forma resiliente e incansável pelo seu novo objetivo. Quem esperaria isto vindo de uma pessoa que sofre de depressão?