[Pode conter spoilers]
Temporada: 2
Número de episódios: 8
O regresso da badalada série The Witcher à Netflix era um dos mais aguardados de 2021. Depois de uma 1.ª temporada que, ainda que tivesse tido algumas falhas, deixou os fãs de fantasia épica a querer mais, chega uma 2.ª temporada que parece ter maturado alguns dos pormenores que tinham ficado aquém na 1.ª parte.
Fomos deixados, em dezembro de 2019, no encontro de Ciri (Princesa Cirila de Cintra) e Geralt (de Rivia, o witcher) e na batalha de Sodden – com o sacrifício de Yennefer (de Vengerberg). A 2.ª temporada continuou pós-batalha, num mundo onde os humanos odeiam os elfos e uma guerra está em risco de irromper. O argumento destes oito novos episódios desviou-se um pouco da história dos livros com a perda dos poderes de Yen, o aparecimento da plotline da Voleth Meir e algumas personagens não mantiveam a personalidade totalmente igual à da história literária, mas a verdade é que funcionou para este projeto Netflix.
Geralt depara-se agora responsável por Ciri, a sua criança-surpresa, e é forçado a desenvolver o seu lado paternal. Bastante menos bronco do que nos livros, este bruxo de Rivia torna-se no grande protetor da herdeira de Cintra e, por forma a ajudá-la a desenvolver as suas capacidades de defesa, leva-a para o lair dos bruxos, Kaer Morhen, onde passamos a conhecer os restantes bruxos que nos acompanharão pela temporada.
Quem também volta com uma mudança é Jaskier, o Bardo. Abandonado pelo seu melhor amigo na 1.ª temporada, o bardo agora volta a aparecer-nos mais adulto, mais responsável, sob o cognome The Soundpiper. De qualquer forma, os momentos quase de irmandade entre ele e Geralt são os comic-reliefs da série e nada mudou no que a isso concerne nesta nova temporada.
Da 1.ª para a 2.ª temporada notaram-se bastantes melhorias a vários níveis. O CGI está visivelmente melhor, com os monstros mais bem trabalhados, assim como a noção de espaço temporal. Facilitou não termos tido, desta vez, diferentes épocas retratadas na série, mas o fio condutor correu melhor.
A introdução dos novos bruxos funcionou muito bem – à exceção de Eskiel, que foi retratado um pouco mais arrogante do que devia – e criou uma dinâmica muito interessante entre Ciri e os restantes em Kaer Morhen, enquanto a princesa se desenvolve e cresce juntamente com eles. Do ponto de vista da caracterização visual, funcionou muito bem também. Vesemir, o tio de Geralt, parece uma autêntica personagem retirada de um dos jogos pela forma como está caracterizado, bem como o próprio espaço em Kaer Morhen, tornando-se quase uma homenagem aos famosos jogos The Witcher.
Já o referimos acima, mas uma das linhas historiais da série foi criada propositadamente para esta nova temporada: o aparecimento da Voleth Meir. Esta introdução, ainda que interessante e bem conseguida na série em relação ao desenvolvimento das personagens nos livros, alterou um bom bocado a forma como Yennefer foi evoluindo e até a forma como ela e Ciri se conhecem e se aproximam. Para efeitos de dramatização televisiva, preferiu-se claramente a empatia com Geralt (mais paternal, menos “árvore”), criando em Yen a antagonista, em vez da figura mais maternal que devia ser.
Em jeito de conclusão, e para evitar também entrar em spoilers que não sejam adequados a uma boa experiência de quem ainda não viu a série, ficam algumas considerações em relação a esta temporada e à expectativa para uma terceira: foi claro que os criadores prestaram atenção a algumas críticas que lhes foram feitas; desde a melhoria nos efeitos especiais, ao próprio fio condutor da série, foi muito mais apelativo acompanhar a história guiada por Geralt nesta 2.ª temporada. Também foi claro que estão a tomar algumas decisões criativas relativamente ao argumento que se desviou da rota original; talvez tenha tido o intuito de fazer a série funcionar melhor ou tenha sido para agradar a uma Netflix, mas pode ser bastante arriscado desviarem-se da obra de Andrzej Sapkowski, sendo que a própria está mais do que estabelecida e tem uma boa fan-base para continuar a alimentar as prometidas sete temporadas.
Numa próxima temporada espera-se que haja uma reaproximação aos livros o mais possível, de forma a manter-se fiel à história original e consistente com o universo de The Witcher como ele tem que ser. Para além disso, os momentos finais onde podemos ver o aparecer da The Wild Hunt prometem finalmente entrar na parte do universo mais mágica na já confirmada 3.ª temporada.
Melhor episódio:
Episódio 3 – Não há nenhum episódio que se destaque em particular e a dúvida fica entre o 3 e o 4. Este 3.º episódio tem particularmente uma parte muito interessante, que destaca Ciri quando a própria decide, provocada pelos bruxos em Kaer Morhen, fazer um trilho de treino altamente intensivo que só os bruxos faziam quando tinham a sua idade. É o momento em que a princesa prova que é mais do que uma princesa e que é uma mulher forte e independente capaz de lutar pelo que quer. Freya Allan faz e fez um trabalho espetacular durante esta temporada.
Personagem de destaque:
Geralt of Rivia – Fica a indecisão entre Geralt e Ciri, que foram ambos decisivos nesta temporada. Apesar de tudo, graças a Ciri, Geralt ganha outra expansão emocional que acaba por lhe dar imenso destaque. O aparecimento de Ciri na sua vida obrigou-o a crescer como figura paternal que se tornou, dando-lhe um bocadinho mais de profundidade emocional do que tinha na 1.ª temporada. A prestação de Henry Cavill foi fundamental a ajudar a descobrir as várias capas de Geralt entre a 1.ª e a 2.ª temporadas à medida que os desafios lhe foram lançados.
Joana Henriques Pereira