Temporada: 3
N.º de episódios: 8
[Pode conter spoilers]
A série Lost in Space estreou em 2018 e trazia consigo uma premissa extremamente cativante: um pós-apocalíptico que arruinou completamente a atmosfera terrestre, forçando os seus habitantes a especializar-se em viagens espaciais e, pelo caminho, descobrir um novo planeta que seria a nova terra onde habitariam os indivíduos mais promissores e capazes do planeta.
Recheada de promessas de viagens no espaço ou abordagens interessantes, devo confessar que, desde o início, Lost in Space prometia ser uma série revolucionária. Infelizmente, e porque na maioria das vezes assim o é, Lost in Space ficou-se pelo assim-assim.
Começou bem, com as personagens principais da série, a família Robinson, já em trânsito para Alpha Centauri, o planeta de destino, e a lutar pela sua sobrevivência no espaço e pelos percalços que a viagem lhes ia atirando. Entre ficarem encalhados num planeta e correrem risco de vida, os desafios atirados a esta família e restantes personagens foram mais que muitos. Pelo caminho, o filho mais novo, Will, travou amizade com um alien robótico que possuía uma inteligência artificial programada para a malevolência e que, com a convivência com Will, foi desenvolvendo emoções mais humanas e o seu próprio código de ética independente, somente por meio da observação e aprendizagem. Esta foi, do início ao fim, a parte mais interessante da série.
A 2.ª temporada trouxe-nos mais do mesmo: mais percalços pelo caminho, mais uma vez a família perdida num planeta aleatório, convertendo uma série que tinha tudo para abordar conceitos de exploração do espaço interessantes num projeto darwinista de survival of the fittest. Perde-se a conta à quantidade de séries estilo The Walking Dead que por aí existem e, se calhar, já chega.
A 3.ª temporada de Lost in Space não divergiu muito, mas na continuação do final da 2.ª temporada, começamos num planeta onde todas as crianças que estavam na missão colonial para Alpha Centauri estão juntas e os seus pais e mães ficaram para trás, na nave que os iria guiar, mas estava comprometida. Enquanto seria interessante poder explorar um pouco mais a capacidade de sobrevivência destas crianças que depressa tiveram que crescer, é tudo feito num instante enquanto regressam para junto dos pais. Perde-se, logo no início, mais uma premissa. Esta parte final da série conta, não só com a corrida para chegar a Alpha Centauri, mas também com uma guerra contra os alien robots (que originaram do mesmo planeta do qual vem o Robot amigo de Will) que ainda seguem o seu protocolo-vilão e procuram somente a conquista do novo planeta-casa da humanidade.
O rumo de uma série que podia ser interessante termina nesta 3.ª temporada com os humanos a ganhar a guerra contra os alien robots maus. É certo que não há nada mais americano do que isto, mas teria sido muito mais interessante terem explorado melhor a convivência do que a violência. O final da temporada e da série contam com o momento em que mais crianças conseguem “desprogramar” alguns alien robots, salvando-os dos espólios da guerra e, desta forma, libertando-os, mas não antes de eles os salvarem dos outros robots mauzões, claro!
Esta review começou por dizer que a premissa mais interessante passava pela relação entre Will Robinson e Robot, que juntos conseguiram provar que a inteligência artificial pode evoluir sob as circunstâncias certas e que, ao contrário do muito que se tem vindo a fazer até agora, a vida alienígena não tem que ser toda maligna. As cenas mais cativantes de toda a série passaram pelo momento em que Robot aprende a fazer luto, a não matar, a divertir-se, mas também aprende o conceito de família e de confiança. No final da 3.ª temporada de Lost in Space, Robot passa de um mero protetor para um membro da família Robinson, com a sua personalidade a formar-se sozinha. Não só Robot, mas também terminamos a série com a personagem Penny (irmã de Will Robinson – a escritora da família) a explicar que a maioria dos alien robots libertados seguiram o seu caminho. E, vamos lá ver, não teria sido muito mais interessante explorar esse crescimento e essas relações entre alienígenas e humanos do que uma pequena menção no final do último episódio? Fica a questão!
Há mais para dizer: Lost in Space pode ter desiludido no que toca ao argumento, mas ganhou muitos pontos nos efeitos visuais e CGI. Há que louvar a caracterização dos alien robots ou até os cenários utilizados para os planetas. As tempestades e trovões foram extremamente bem conseguidas e, para quem pouco ou nada entenda de efeitos visuais, tecnicamente bem conseguidas. Outro dos pontos importantes foi terem conseguido criar uma banda sonora – ou a sua ausência, em cenas no espaço, – envolvente e adequada às cenas que iam rolando nos episódios.
Em termos de elenco, não há propriamente nada de negativo a apontar. Pelo contrário, dado o guião e as cenas, o elenco da série esteve, no geral, muito bem, dando especial destaque a Maxwell Jenkins e Brian Steele, que protagonizaram a maior parte das cenas interessantes e conseguiram envolver o espectador nos momentos mais intensos e emotivos das suas personagens.
Para uma série que tinha tudo para conquistar os amantes da ficção científica, só conseguiu mesmo foi ficar por aí – perdida no espaço.
Episódio de Destaque:
Episódio 8 – O último episódio desta temporada é também o último episódio da série e o que culmina a história no seu todo. Para além de finalmente encerrar a trama, é também o momento em que as personagens percebem que todas as inteligências artificiais alienígenas têm consciência própria, incluindo o robô-vilão, e conquistam a sua liberdade e a confiança dos humanos em Alpha Centauri. Honestamente, este episódio 8 podia ser um primeiro episódio de uma outra série spin-off focada somente nessas relações. Seria, sem dúvida, mais interessante.
Personagem de Destaque:
Robot (Brian Steele) – O verdadeiro protagonista da série é este Robot, que foi crescendo, aprendendo e evoluindo. É possível um Robot ter o chamado character development? Sim, é. E é precisamente a personagem que faz com que a série não tenha sido um total e completo desastre.
Joana Henriques Pereira