Locke & Key regressou para a sua 2.ª temporada em outubro e consigo trouxe mais mistério. Esta aposta da Netflix, que se foca numa família de adolescentes que descobre que é mágica, tem uma forma especial de nos agarrar ao ecrã apesar de não ser nenhuma Game of Thrones.
Depois de nos deixar com uma 1.ª temporada recheada de magia, os três irmãos, Ty, Kinsey e Bode, regressaram para terminar a sua luta contra Dodge, o eco que Bode erradamente libertou e, como um bom vilão, quer libertar os demónios, obter as chaves todas, e ser, no final, o rei do mundo. Não se fazem séries como Locke & Key sem algum tipo de previsibilidade – a verdade é essa – mas ainda dentro do previsível, há um qualquer elemento (ainda por descobrir) que acaba por nos prender ao ecrã facilmente durante estes dez episódios da série.
Não entrando em spoilers ou detalhes sobre a série, há vários pontos a denotar que acabam por ser a chave (piada não incluída) para uma série mediana como Locke & Key ser renovada temporada atrás de temporada.
De certa forma, a série consegue ir-se inovando: se numa 1.ª temporada tivemos o brilho da descoberta da magia através das chaves especiais, o uso e o abuso delas, nesta temos uma exploração mais profunda das emoções e das relações interpessoais dos personagens. O pior desta 2.ª temporada? O maior foco nas pessoas/personagens permite perceber que muitos dos atores de Locke & Key devem ainda um pouco às suas capacidades de interpretação. Sim, tivemos várias cenas que podiam/deviam ter sido muito mais intensas e não o foram somente porque os atores ficaram um pouco aquém da entrega.
Dentro da temporada pudemos conhecer um pouco mais do contexto da existência e criação destas chaves e, com a introdução de novos personagens, teremos provavelmente o mote para a temporada seguinte. Estas novas histórias secundárias foram uma lufada de ar fresco para a série, numa tentativa de aprofundar os relacionamentos e as raízes da família Locke a Matheson e às pessoas que os rodeiam. Por outro lado, e ainda na mesma linha de pensamento de aprofundar as raízes, sinto que Locke & Key se fica muito na superfície no que toca a explicar a magia, a origem das chaves, o foco da questão. Lança-se a escada de uma explicação de pescadinha de rabo na boca como se as pessoas e a magia não tivessem nuances e, numa série que tinha tudo para ser consistente do ponto de vista da história, fica-se pelo razoável.
Há um tom que faz claramente com que Locke & Key tenha sucesso e prenda o espectador ao ecrã: cada episódio apresenta um cliffhanger, incluindo o final da temporada. Fica sempre uma história por contar ao final de cada hora e, no final desta temporada, foi claro que a terceira já tem ponto de partida. Esta particularidade especial que forma os guilty pleasures parece ser o que dá a Locke & Key algum alento: séries fantasiosas há muitas e, enquanto Locke & Key não é a pior bolacha do pacote, também não é a melhor. Salvam-na os cliffhangers e, muito provavelmente, a coerência literária onde se baseia.
De uma 1.ª temporada mais levezinha a uma 2.ª temporada mais carregada emocionalmente, resta saber onde nos levará Locke & Key numa 3.ª temporada. Conseguirá elevar o seu patamar ou vai manter-se como o bom guilty pleasure mediano que é?
Locke & Key pode ser vista por completo na Netflix.
Melhor Episódio:
Episódio 10 – Cliffhanger – De todos os episódios, o último é o que mais suscita alguma emoção. Há mais uso das chaves e é o culminar de uma história que começou na 1.ª temporada e o ponto de partida para um novo desafio para a família Locke e amigos.
Personagem de Destaque:
Kinsey Locke (Emilia Jones) – Kinsey foi o grande foco desta temporada e, dentro daquilo que foi uma má entrega por parte da maior parte do elenco, Emilia conseguiu ser a que melhor prestação teve. Kinsey cresceu como personagem ao mesmo tempo que Emilia cresce como atriz, tornando-se ambas na âncora da série nesta temporada.
Joana Henriques Pereira