[Contém spoilers]
Temporada: 4
Número de Episódios: 10
E chega ao fim Dear White People, uma das séries mais brilhantes que alguma vez passou pela Netflix, arrisco-me a dizer. Nunca vi o filme homónimo, por isso só posso falar do que a série trouxe ao mundo da televisão. Uma história interessante e misteriosa, com um guião inteligente, ousado e, sobretudo, relevante. Uma obra de arte em todos os sentidos, quer visuais, quer sonoros. Interpretações brilhantes que transformaram episódios de meia hora em momentos bem passados, momentos esses sempre relaxados, mas sem nunca perder de vista os assuntos pertinentes abordados na série.
Agora que já prestei o tributo merecido a Dear White People, deixa que te diga o porquê de esta temporada ter falhado redondamente. Podia dizer que foi por ser um musical, mas estaria a mentir se tivesse sido apenas isso. Na minha opinião, deixaram os fãs para trás e seguiram apenas a sua visão artística. Não me interpretem mal, sou das primeiras a defender a liberdade criativa e também me irrita quando há demasiado fan service, mas neste caso pareceu-me um desprezo total pelas pessoas que acompanham a série há três temporadas. Não esquecer que são os fãs que permitem que uma série seja renovada! Por muito que o criador sempre tivesse sonhado em fazer da série um musical, fazê-lo apenas na última temporada demonstra cobardia e falta de respeito. Cobardia porque, sendo a última, não haverá grandes represálias, está feito! Falta de respeito porque a série começou e ditou um tom do que seria, daquilo que o espectador poderia esperar da mesma. Muitas pessoas não gostam de musicais, logo nunca veriam uma série nesses termos. Qual a surpresa quando se deparam com uma temporada inteira musical?
Se gostei ou não das partes musicais não está em causa, porque, embora adore musicais, também eu me senti um pouco traída com esta mudança súbita. Dear White People sempre brilhou por ser uma série diferente e experimental e na 4.ª e última temporada vemos mesmo isso em toda a abordagem do futuro/passado – e, nesse sentido, gostei, sim, deste modelo. Parece-me que foram um pouco longe demais com a parte musical. Não há músicas originais, os atores não têm as melhores vozes e é possível passar quase todos os números à frente sem perder conteúdo. Não parece orgânico e distrai do enredo principal.
Já gastei muitas palavras nesta temática, por isso, chego a outro ponto negativo. Durante muito tempo na série achamos que a Ordem era importante. Pois bem, nesta temporada isso foi completamente colocado de lado. Se acho excelente podermos ver as nossas personagens favoritas na sua vida futura? Sim, acho, mas não era necessário deixar partes do enredo original para trás, nem prenderem-se num enredo um pouco previsível no “passado”. Com isto refiro-me às partes finais de cada episódio. Embora tenham iniciado algum suspense, a dado momento já se previa que haveria um tiroteio na escola e que algo aconteceria a Reggie. Adicionalmente, há muitas cenas desnecessárias como, por exemplo, seguirmos a entrada de Coco no reality show.
A série acabou por nos entregar algo que muitas séries não fazem – sabemos exatamente onde estão as personagens. Consegue continuar a passar a sua mensagem, ainda que ache que esta foi a temporada com o guião mais fraco a nível social e político, e continua a primar pela diferença técnica. Fecha-se assim um ciclo, não da melhor forma, mas o que antecedeu não pode ser ignorado, pois valeu a pena.
Melhor episódio:
Episódio 10 – Volume 4: Chapter X – Não tive um episódio favorito, pois ver toda a temporada foi doloroso, mas, a ter de escolher, é o último, pela última cena. Essa, sim, remete-nos para o início da série e para a sua essência original. A cena perfeita para deixar saudades!
Personagem de destaque:
Samantha White (Logan Browning): A protagonista que se manteve sempre fiel a ela mesma, mesmo que isso lhe custasse relações, quer de amizade, amorosas ou familiares.
Ana Leandro