[Contém spoilers]
Temporada: 2
Número de Episódios: 7
A 2.ª temporada de Blood & Water, a segunda série africana original a integrar o catálogo da Netflix, já se encontra disponível no serviço de streaming, pelo que foi possível desvendar um pouco mais do mistério em volta do desaparecimento da irmã mais velha de Puleng Khumalo (Ama Qamata). Passados 17 anos do desaparecimento de Phume ainda não se sabia nada dela, mas Puleng, após ir a uma festa, acaba por ficar intrigada com uma rapariga, Fikile Bhele (Khosi Ngema), o que a levou a mudar-se para o prestigiado colégio Parkhurst a fim de investigar o caso. Após muitos dramas e riscos desnecessários, Puleng acaba por revelar a Fikile, no final da 1.ª temporada, que acha que ela é a sua irmã desaparecida.
A fim de finalmente perceber se sempre é ou não Phume, Fikile faz um teste de ADN que – previsivelmente (ou não) – dá negativo, mas posteriormente acaba-se por descobrir que este foi adulterado e que na verdade Fikile é realmente a irmã desaparecida de Puleng. Se queres que seja sincera, parte de mim sempre achou que a Fikile não fosse Phume – ainda que houvesse demasiadas evidências (talvez por isso mesmo é que duvidava que ela realmente fosse a irmã desaparecida) – e até acreditei, por meros momentos, que o resultado negativo do teste fosse o verdadeiro. Por um lado, eu não queria que Fikile fosse a irmã de Puleng, pelo facto de ser tão óbvio, mas por outro, ainda bem que o é, porque acho que iria ficar ainda mais frustrada se o trabalho de investigação da Puleng tivesse que continuar. Acho que já não teria mais paciência para isso.
Especialmente depois desta 2.ª temporada, em que as decisões de Puleng em relação à investigação se tornaram ainda mais inconsequentes que na 1.ª temporada. Já não aguentava ficar com os nervos à flor da pele com o receio do que lhe poderia vir a acontecer. E eu nem gosto assim tanto da personagem, o que faria se gostasse! Ainda assim, por mais exasperada que ficasse com essas decisões, ou com os dramas adjacentes, só queria continuar a ver a série episódio após episódio.
Blood & Water não é de todo a melhor série de sempre, longe disso! Existem também algumas falhas no guião, diversas situações questionáveis e muitas coisas que poderiam ter sido resolvidas facilmente; apesar disso, a série tem uma grande capacidade de fazer querer ver sempre mais e mais. É sem sombra de dúvida um guilty pleasure. Aliado a isso temos uma excelente banda sonora. Eu dava por mim, vezes e vezes sem conta, a reparar no quão boa a banda sonora era e no quão bem se encaixava na série. Sem querer exagerar, mas é provavelmente uma das minhas bandas sonoras favoritas.
Ainda não foi confirmado se haverá uma 3.ª temporada, mas espero que sim, pois o final desta 2.ª temporada deixou bastantes coisas em aberto, tal como quem é o pai de Fikile e qual a importância dele na história. Terá Julius (Getmore Sithole), pai de Puleng, realmente vendido Phume, uma vez que o nome dele foi encontrado num livro de cheques referente ao Point of Grace? Qual é o real papel da mãe de KB (Thabang Molaba), Lisbeth (Sonia Mbele), nesta história toda, para além de ter sido ela a raptar Phume? O que vai ela fazer a Nwabisa (Xolile Tshabalala) e, principalmente, a Puleng?
O que vai ser de Reece (Greteli Fincham), agora que confessou à Diretora Daniels (Sandi Schultz) que era ela quem andava a traficar droga na escola e que a mãe não poderá receber mais tratamento por falta de dinheiro? Apesar da história de Reece não ser inovadora, uma vez que já vimos este tipo de narrativa numas quantas séries, confesso que gostei que lhe tivessem dado um maior desenvolvimento/contexto nesta 2.ª temporada, pois na primeira ela não apresentou história absolutamente nenhuma – era simplesmente a amiga de Fikile, KB e Chris (Arno Greef) que vendia erva.
Como se vai desenvolver o relacionamento de Chris e Wendy (Natasha Thahane), uma vez que se beijaram no baile; mas também o triangulo amoroso entre KB, Puleng e Wade? Ora, quanto a Chris e Wendy, eu já sentia desde o início da temporada que iria acontecer alguma coisa entre eles, é o típico enemies to lovers trope, mas até nem desgostei, especialmente pela forma como foi sendo desenvolvido, ainda que não deixe de ser cliché. No entanto, estava à espera que o beijo entre eles fosse mais impactante. Talvez se tivessem mostrado como aconteceu, e não só o momento em si, tivesse apreciado mais. Pode ser que, caso haja 3.ª temporada, isso seja mostrado, ou então a forma como desenvolverem o relacionamento a partir daí compense esse pequeno pormenor.
Relativamente ao triângulo amoroso, confesso que gostava muito de KB e Puleng na 1.ª temporada. Isto deveu-se essencialmente ao facto de KB me ter surpreendido bastante. No início pensei que fosse aquele típico rapaz rico que tem quem quer e é extremamente convencido, mas distanciou-se muito dessa imagem, mostrando principalmente ser alguém bastante compreensivo. Mesmo sendo muito amigo de Fikile, tentou sempre ouvir e entender o lado de Puleng, já para não falar que os momentos entre eles até eram fofos. Contudo, decidiram recorrer àquele cliché básico e fizeram com que ele e Fikile se beijassem quando ele ainda namorava com Puleng. Isso acabou por me desapontar ligeiramente, principalmente porque ele lhe decidiu esconder esse facto; e a forma como o relacionamento foi sendo desenvolvido nesta 2.ª temporada não ajudou a melhorar esse sentimento. No fundo, espero que eles ainda consigam remendar esta relação a ponto de eu voltar a torcer por eles!
Quanto a Wade (Dillon Windvogel) e Puleng, gostei bem mais de Wade nesta 2.ª temporada de Blood & Water, particularmente porque lhe deram um lado mais cómico, mas ainda assim (e mesmo tendo em atenção o que aconteceu com o relacionamento de KB e Puleng nesta temporada), preferia que Wade e Puleng tivessem ficado somente amigos. Honestamente preferia que tivessem criado uma amizade semelhante à de Chris com Fikile e Reece, ao invés de um interesse amoroso, especialmente porque Puleng não tem muitos amigos, a não ser Zama. A ver vamos no que isto vai dar.
Episódio de Destaque:
Family Matters (Episódio 7) – Apesar de ao longo desta temporada ter sido revelada bastante informação importante, este episódio reforça que ainda existe muita coisa que nós espectadores não sabemos, tendo ficado diversas narrativas em aberto. Aliado a esse mistério/drama todo, temos um baile com looks estonteantes, incapazes de passar despercebidos.
Personagem de Destaque:
Reece – Confesso que não sabia muito bem quem escolher, pois todas as personagens acabam por ser importantes, ou então o desenvolvimento deles merece ser mencionado (como por exemplo o de Wendy, que se tornou uma personagem bem mais tolerável do que na 1.ª temporada), ainda assim havia sempre algo menos positivo nas personagens que me fazia instantaneamente descartá-las. Dessa forma, sobrou-me Reece, que embora tenha sido um pouco ingénua ao confiar todo o dinheiro dela e da comissão ao professor, acabou por ser a personagem a quem mais contexto foi dado. Dos outros personagens já sabíamos alguma coisa, e/ou estes acabavam por ser importantes para a narrativa, mas esse não era o caso de Reece e isso alterou-se um pouco nesta 2.ª temporada.
Cármen Silva