[Contém spoilers]
Temporada: 6
Episódios: 10
Acabou. Após duas ameaças, foi na 6.ª temporada que Lucifer chegou mesmo ao fim. Dizem que o que é bom deixa saudades e é bom sinal ficar com este sentimento, significa a série que não se prolongou demasiado e que soube acabar bem. Sobre a temporada irei entrar mais em detalhe ao longo desta crítica, mas, em estilo de sumário, Lucifer manteve-se fiel a ele mesmo até ao fim, que é tudo o que os fãs podem pedir de uma série com longevidade.
Após o desfecho da 5.ª temporada, com Lucifer a derrotar Michael e a ganhar o direito a ascender ao trono como Deus, vemos o personagem a fazer os preparativos finais para o seu novo “emprego” junto de Chloe. A série começa no seu estilo habitual, com Lucifer um pouco imaturo e ignorante em relação ao que o rodeia, com muitas cenas de humor, como o episódio em que uma boa parte é em formato animado, Yabba Dabba Do Me.
Tal como esperado, o início divertido foi-se convertendo num tom mais sério até culminar num final bem pesado e emocionante, mas já lá vamos. Após os primeiros três episódios começamos a descobrir um pouco da trama deste ano e, pela primeira vez em seis temporadas, há viagens no tempo. Neste caso, a filha que Chloe e Lucifer irão ter em breve vem do passado com uma única missão, matar o seu pai por a ter abandonado.
Gostei da introdução de Rory, com um único senão. O ponto mais interessante é a dúvida que causa em Lucifer, que foi capaz de fazer a uma filha algo pelo qual ele culpa o próprio pai (Deus), e a sua negação e luta para provar que algo lhe iria acontecer. O único ponto que me deixa com algumas reticências (mas mais que perdoadas) é que é difícil mexer com viagens no tempo e ser consistente, mas tirando o regresso de Rory ao futuro, não entram muito em detalhe. A sua personalidade parece quase uma mistura de Maze com Lucifer e foi uma boa adição para a última temporada, só tenho pena de não termos visto mais Trixie.
Outro destaque é para Dan, que continua presente em todos os episódios como fantasma e protagonizou várias cenas emotivas. A mais potente é logo a primeira, quando volta à Terra e nenhum humano o consegue ver e assiste a Trixie, a chorar junto de Chloe, a dizer que sente a sua falta. Aqui também existe uma inconsistência que me incomodou ligeiramente: em Lucifer, os fantasmas não conseguem tocar em objetos e atravessam paredes, mas no casamento de Eva e Maze, Dan encontra-se sentado numa cadeira. É algo muito banal, mas é um erro de continuidade que facilmente poderia ser evitado. Ao contrário da viagem no tempo que não tem muito protagonismo, o facto de Dan não conseguir tocar em coisas tem.
Por fim, antes de analisar o final e alguns outros pontos da série, também queria dar algum destaque ao trabalho que fizeram com Ella nesta temporada, finalmente encontrando um parceiro ao seu nível e conseguindo descobrir que Deus, o Diabo e os anjos eram todos reais. Foi um choque, mas positivo, e sinto que o arco de Ella acaba bem, depois de ter namorado com um assassino.
E o final? O final é mais adequado do que qualquer um que pensasse que iria acontecer desde o episódio nove, em que Lucifer se despede de todos como se fosse o seu último dia na Terra. Lucifer e Amenadiel têm também o seu redemption arc; Amenadiel prepara-se para se tornar Deus, algo que lhe assenta muito melhor do que a Lucifer e o próprio Lucifer regressa ao sítio de onde sempre quis fugir, o Inferno. Regressa, mas com uma nova missão: salvar e ajudar na transição de tantas almas quanto conseguir; em vez de tortura, passará a ser um sítio de terapia. Para conseguir focar-se na sua missão, tem que deixar a mulher que tanto ama e a filha que não viu nascer. Pela primeira vez, Lucifer coloca os interesses do mundo à frente dos seus, independentemente do custo. A cena final está muito bem conseguida e puxa algumas lágrimas quando vemos Chloe e Lucifer a beijarem-se de olhos fechados no trono do Inferno, sabendo que é o seu último dia.
A única coisa que torna a cena ainda mais impactante é a escolha da banda sonora. Terminar com Welcome to the Black Parade, dos My Chemical Romance, tendo em conta o tema que é, foi uma escolha tão acertada, tão temática! A banda sonora sempre foi um dos pontos altos de Lucifer, tanto as que são cantadas pelo próprio Tom Ellis, como as que vão servindo de banda sonora, e no final não poderia ser diferente.
Lucifer é uma série que irei guardar com boas recordações durante muito tempo, como um exemplo recente de como fazer uma série meio policial, com muitos momentos de comédia e muitos outros pesados e emocionantes. Foi consistente do início ao fim e quero deixar o agradecimento à Netflix por ter salvado a série e nos ter oferecidos mais temporadas de grande qualidade. A viagem foi boa enquanto durou.
Caso já precises de matar saudades de Lucifer, deixo aqui o nosso artigo com curiosidades sobre a série.
Melhor episódio:
Episódio 10 – Partners ‘Til The End – Nem podia haver outra escolha! Este episódio teve tudo: momentos engraçados caraterísticos da série, momentos de trazer lágrimas aos olhos, como a despedida de Lucifer com Rory e com Chloe, a perceção do porquê de ir abandonar a sua filha não nascida, ter descoberto a sua missão no mundo, Amenadiel a tornar-se Deus… E tudo termina com Welcome to the Black Parade. Foi tão bonito!
Personagem de destaque:
Lucifer (Tom Ellis) – O elenco da série é de luxo, não teria sido possível ter o sucesso que teve sem nenhuma das personagens, desde Maze, Ella, Chloe, Dan, Amenadiel, Charlotte, entre muitas muitas outras, mas o carisma que Tom trouxe à personagem é algo de incrível. Parece que a personagem foi escrita para ele… O seu olhar meio tresloucado enquanto pede às pessoas para lhe confessarem os seus desejos, aquele lado meio imaturo… E nesta temporada tem que ser o destaque por tudo o que fez no passado e por finalmente ter dado o próximo passo. Como se costuma dizer, o melhor e mais difícil passo que um Homem pode dar? O próximo. Obrigado, Tom.
E tu, o que achaste? Qual foi o teu episódio favorito desta 6.ª e última temporada de Lucifer?
Raul Araújo