[Não contém spoilers]
Minissérie
Episódios: 5
A minissérie The North Water é um retrato, em formato quase documentário, de tempos de escassez e pilhagem, semelhantes aos dos piratas, com comportamentos bárbaros que nos fazem questionar os limites da crueldade humana. Personificando na perfeição este quadro sinistro, temos o personagem Henry Drax (Colin Farrel), um dos melhores caçadores de baleia ingleses, que se define como um instintivo executante, não um pensador.
É cativante e distinta a forma como esta série, através dos seus diálogos e histórias cruzadas, nos contrapõe o racional com o irracional, apresentando habilmente os dois lados da moeda. Por um lado, encontramos personagens, como Drax, que veem a morte e o crime como um elemento normal das suas vidas, pondo qualquer noção de moral ou ética completamente de lado, em nome da satisfação e da necessidade. Em contraposição, temos as que se questionam de forma obsessiva, praticamente ao ponto da loucura, e se deixam corroer pela dúvida e o arrependimento pelas suas ações.
É aqui que entra Patrick Sumner (Jack O’Connell), um ex-cirurgião de guerra que esconde um passado tenebroso e traumatizante que afoga na escrita e na droga. O mistério sobre a sua verdadeira identidade adensa-se à medida que somos transportados pelas visões, por vezes delirantes, decorrentes do seu consumo de láudano (ópio) e das palavras que escreve no seu diário, onde nos deixa pequenas referências dos tempos servidos na guerra. Consumido pela culpa e arrependimento, o cirurgião decide oferecer-se para esta arriscada viagem, uma missão pouco condizente com o seu estatuto. Ainda que cedo compreendamos pela sua envolvência nas obrigações do dia a dia dos marinheiros que, mais do que uma redenção para os seus pecados, procura a força da camaradagem e das tarefas do trabalho como mais uma forma de silenciar a sua consciência.
Sumner, que acaba por ser o nosso narrador, é o único toque humano numa série vil e crua que retrata as dificuldades vividas em alto mar, a miséria que assolava o titubeante negócio da caça de baleias e a falta de escrúpulos e perversidade que caracterizava a maioria dos seus intervenientes. Um espelho das profundezas mais selvagens da condição humana.
Já em pleno alto mar, a bordo do Volunteer, dá-se um crime hediondo, acontecimento que se tornaria fonte do despoletar de grandes mudanças e reviravoltas na minissérie The North Water, ameaçando toda a tripulação e pondo em risco a sua sobrevivência. Um perigo que desconhecem e que faz parte de um plano que está em curso desde antes da embarcação abandonar o porto de Hull. Na certeza da existência de um psicopata na embarcação, este crime sem suspeito, a juntar a novos bizarros eventos, leva a um extremar de posições e ao descontrolo emocional da tripulação, deixando antever que possíveis motins e mais crimes podem estar iminentes.
O objetivo desta viagem, que aparentava ser o de aproveitar uma das maiores épocas altas de baleias dos últimos anos, cedo se revela ser um engodo para algo muito maior, começando a tripulação a questionar-se do seu verdadeiro propósito quando verifica que a rota foi alterada para locais em que nunca antes algum homem conseguiu apanhar baleias. A impaciência e o medo dos homens cresce e perante a falta de explicações, surge a pergunta: “Estará este barco amaldiçoado?”.
Melhor Episódio:
Episódio 3 – Homo Homini Lopus – Considero este o melhor episódio pelos confrontos e o levantar do véu de alguns dos grandes mistérios a bordo do Volunteer. É igualmente aqui que se dão alguns dos melhores momentos a nível de diálogo da série.
Personagem de Destaque:
Henry Drax – É o grande destaque e o antagonista da série. Com opiniões chocantes e um sentido amoral único, Colin Farrel apresenta-se com uma performance imaculada, naquele que foi o papel mais marcante a que já assisti do ator irlandês.
Diogo Gouveia