Fear the Walking Dead – Review da 6.ª Temporada
| 17 Ago, 2021

Publicidade

[Contém spoilers]

Temporada: 6

Número de episódios: 16

A renovação do primeiro spin-off de The Walking Dead é um acontecimento que continua a espantar qualquer fã do universo de zombies mais conhecido do planeta e até mesmo um mero espectador que, sabe-se lá porquê, perde o seu tempo a ver a série. Passadas seis temporadas, Fear the Walking Dead não consegue ultrapassar a sua mediocridade, mas alcançou algo mais neste pacote de 16 episódios no que no conjunto de capítulos das duas temporadas anteriores.

A afirmação “A 5.ª temporada de FtWD foi a pior de todas” é incontestável. Seria difícil os argumentistas e showrunners conseguirem fazer pior depois da plotline deplorável apresentada em 2019, e a verdade é que esta 6.ª season subiu de nível. Contudo, as inconsistências e o fraco argumento permanecem. São, muito certamente, sintomas crónicos de uma produção que já deu o que tinha a dar e que mostra sinais de querer chegar ao fim, mas há ainda uma insistência que teima em desistir, como se de um médico daqueles dramas de hospital se tratasse, que recusa pousar as pás do desfibrilhador e grita uma vez mais “Clear!”.

Ao contrário da temporada anterior, onde foi quase impossível apontar momentos minimamente interessantes e positivos, nesta o trabalho esteve facilitado. Alguns desenvolvimentos de personagens e cenas bem construídas contribuíram, sem qualquer dúvida, para que mais 16 capítulos de uma história em decadência fossem “aturáveis”. Além disso, uma base narrativa na qual as restantes ramificações se puderam apoiar serviram para despertar o interesse suficiente para que se quisesse ver o próximo episódio. Quem não quer saber como vai terminar uma ameaça nuclear num mundo pós-apocalíptico dominado por mortos-vivos e vilões sem escrúpulos?

A resposta anterior é, com quase 100% de certeza, “qualquer fã do universo de zombies mais conhecido do planeta [ou] até mesmo um mero espectador que, sabe-se lá porquê, perde o seu tempo a ver a série”. Verdade? Bem, o que é mesmo verdade é que houve uma mudança drástica de ambiente em Fear the Walking Dead com esta 6.ª temporada. Passou-se do típico grim mood, onde tudo é cinzento, triste, feio e sem sinal de esperança, para uma espécie de “western zombíaco”, cheio de cavalos, chapéus de cowboy, duelos de pistolas e uma crença louca em como será possível criar mais uma comunidade e tudo será maravilhoso e perfeito.

Well… Como seria de esperar esta tentativa utópica de Morgan sai furada passado pouco tempo, porque, claro, há um serial killer que lidera um culto no fim do mundo para, sim, acabar com o mundo novamente. E como se isto já não bastasse, o showrunner Ian Goldberg revela que a 7.ª temporada, cuja estreia está marcada já para o dia 17 de outubro (chega dia 25 do mesmo mês a Portugal, no AMC), trará uma reinvenção da série. Aparentemente, o objetivo da dupla de showrunners, Goldberg & Andrew Chambliss, tem sido precisamente reinventar a série a cada bloco de oito episódios. Caros amigos, essa não parece ser a solução para um problema que dificilmente tem remédio. Aliás, denota, talvez, a falta de tudo nesta série. Se Fear the Walking Dead tivesse realmente qualidade seria necessário mudar o seu conceito a cada três meses?

A nova reinvenção para a 7.ª temporada (ou, pelo menos, para os primeiros oito episódios) colocada a postos com o final explosivo, literalmente, da 6.ª temporada, é a de um western nuclear. Goldberg referiu que “isso vai mudar os walkers, vai mudar as condições de vida, vai mudar totalmente a forma como as personagens se movimentam neste mundo”. Contudo, a verdadeira questão é: vai mudar a série para melhor? As várias personagens estão espalhadas pelo território em grupos de dois ou três e sobreviveram à radioatividade sabe-se lá como – onde vão encontrar a fórmula mágica para, de repente, puderem voltar a ter vidas minimamente normais?

Morgan, Grace, a bebé e o cão vão viver para sempre no submarino? Dwight e Sherry mais o casal incógnito e a criança vão escavar um túnel até ao abrigo mais próximo a partir do “bunker”? O milagre estará, muito provavelmente, em Alicia, que foi colocada naquelas instalações à prova de apocalipse nuclear por Teddy. É óbvio que a salvação passará por ela. Mas a que custo? A custo de que a série vá mesmo por água abaixo por falta de coerência científica perante um cenário como o que as personagens vivem? Não falta muito para que esse reator, o do cancelamento, seja ativado. Ou, pelo menos, assim espera quem acompanha Fear the Walking Dead há demasiado tempo.

No meio de tudo o que foi mau, mais ou menos e até aceitável nesta temporada, a história conseguiu redimir e arruinar personagens por completo. Na verdade, o que seria de FtWD se assim não fosse? Virginia, que na temporada anterior se apresentou como uma vilã medíocre, aqui teve algum interesse e para o final do seu arco até já não era detestável. Esse troféu passou para a sua irmã e o universo dos zombies prova uma vez mais que não é feito para adolescentes irritantes. Já Strand, volta a descer o precipício da falta de escrúpulos e faz pensar se não vimos isto no passado. É um zig zag constante entre herói altruísta e demasiado narcisista e egoísta para o qual escasseia a paciência. Como em tudo nesta série.

Por falar em falta de paciência, como se não bastasse terem aniquilado metade da parede mestra de Fear the Walking Dead com a morte de Madison e de Nick, agora tomam a irracional decisão de matar John. Para colmatar, será que serve de alguma coisa oferecerem um pai quase caído do céu que chega demasiado tarde para saber que o filho o perdoou e uma June fria e com uma pontaria de Oliver Queen de revólveres gémeos em punho? A resposta é não. Por outro lado, fizeram o favor de reunir Dwight e Sherry, o que já não é mau, mas mesmo assim levou demasiado tempo.

Em suma, no meio de demasiadas semelhanças com The Hunger Games, Maze Runner e The 100 no que toca a bunkers apocalípticos, e de westerns da década de 1970 em relação a tudo o resto, Fear the Walking Dead falha redondamente na sua missão de suposta reinvenção e apresenta mais uma temporada que é apenas isso mesmo, mais uma temporada. A 7.ª, que ainda não foi anunciada como final, mas a esperança é a última a morrer, está quase a chegar e resta esperar que não seja um fracasso total.

Personagem de Destaque:
Alicia Clark (Alycia Debnam-Carey) – Não havendo muito por onde escolher, o destaque vai para a personagem óbvia. Alicia continuou meio apagada, mas pelo menos deixou para trás a lengalenga da salvação. Voltou a pegar no seu tubo partido e a arrasar como só ela sabe. Ainda que por pouco tempo. A próxima temporada será colocada, muito provavelmente, às suas costas e é mais nessa expectativa que é eleita a personagem de destaque desta temporada do que por algo de extraordinário que realmente tenha feito.

Melhor Episódio:
Episódio 11 – The Holding – Entre o episódio 11 e o 12 o empate foi quase certo, mas In Dreams, inteiramente focado em Grace e na sua quase chegada à luz ao fundo do túnel, tornou-se demasiado idílico e lamechas a meio caminho e perdeu parte do encanto que poderia ter tido. Já The Holding prometia bastante com a chegada do grupo ao bunker que pareceu saído de uma das referências anteriormente referenciadas (passe-se a redundância) e também este episódio se acabou por perder quando se focou demasiado na relação de Wes com o irmão perdido, mas qual foi o episódio que não desencarrilhou a meio? Mantém-se a escolha pelo que prometeu e não pelo desfecho final.

Beatriz Caetano

Publicidade

Populares

estreias calendário posters grid dezembro

what if s3 marvel

Recomendamos