[Pode conter spoilers]
Temporada: 2
Episódios: 6
Para nossa felicidade, Mae Martin (Mae Martin), humorista e ex-toxicodependente de 30 anos, regressou no passado dia 4 de junho à Netflix para a 2.ª e última temporada de Feel Good. Como fanática de Friends e super fã da personagem Phoebe, vi a 1.ª temporada desta série assim que descobri que Lisa Kudrow estava no elenco no papel de Linda, mãe de Mae, mas acabei por me interessar rapidamente pelo enredo e não podia perder a nova temporada. Esta 2.ª temporada de Feel Good já não segue tanto a luta de Mae em relação ao vício da cocaína, centrando-se mais nos seus problemas psíquicos, lutas interiores e na sua relação com George (Charlotte Ritchie).
A personagem de Mae está muito bem estruturada. À medida que a temporada avança vamos entendendo cada vez melhor o que leva Mae a ter certos comportamentos que perturbam a vida das personagens ao seu redor. George, muito confusa no início da temporada, é arrastada pelo “furacão” Mae e todas as suas psicoses e nota-se que tenta manter-se forte como apoio, apesar de ficar cada vez mais afetada. Os pais, em constante preocupação, são incapazes de confiar em Mae. No meio de tudo isto, a personagem tenta também manter a sua carreira como humorista.
Um episódio de Feel Good traz temas importantes e até pesados como a toxicodependência, o trauma, os vícios, o amor, a dependência emocional e a sexualidade de uma forma descontraída e com humor, não deixando que se crie muita tensão junto do espectador.
Além da temática LGBTQ+, que se traduz sobretudo na relação entre Mae e George, esta série aborda o tema da saúde mental, que despertou o meu especial interesse. Vemos em Mae sintomas de Stresse Pós-Traumático, mas também de dependência emocional. Tem então dois problemas a trabalhar consigo e na minha opinião acaba por encontrar respostas e seguir caminhos pouco realistas, que não iriam resultar tão bem na vida real. Não me entendas mal, os problemas mentais de Mae e os sintomas estão representados de forma bastante realista, mas a forma de os resolver acabou por não o ser, devido a uma escolha da série em romantizar a ação. No entanto, acho fundamental que sejam representadas nas séries pessoas que se debatem com questões de saúde mental e que são, muitas vezes, incompreendidas, de forma a dar informação ao público sobre uma doença que não se vê e que não é fácil de explicar. Talvez assim acabe por se criar mais empatia.
Há ainda uma metáfora interessante: numa relação devemos sempre ir trocando de papéis entre ser o jardineiro e o bonsai, ou seja, ora cuidamos do outro quando ele está em baixo, ora o outro cuida de nós quando não estamos bem. Quando não há esta alternância, há um desequilíbrio e havendo dependência emocional de uma das partes, ela acaba por ter tendência para ser sempre o bonsai e esgotar a outra parte.
Tenho que confessar que esta temporada me surpreendeu pela positiva. Houve até momentos em que levei as mãos à cabeça de tão fortes que eram e de certas revelações que aconteceram ao longo da ação e que não esperava. À medida que avançava, só queria ver mais episódios. Esta temporada superou claramente as minhas expectativas e considero que está muito bem elaborada. Apesar de não ser tão realista em certos aspetos, o sofrimento de Mae é retratado de forma muito real e deparamo-nos com diálogos muito profundos e pesados que realmente mexem connosco. No entanto, logo a seguir vem uma cena mais descontraída e é este conjunto que confere à série uma vibe de certo modo tranquila no seu todo, auxiliada pela componente musical da série. Os episódios têm apenas 20-30 minutos, portanto são ideais para serem vistos em qualquer altura. Se és como eu e gostas sempre de aprender mais sobre doenças mentais, soltando uns risos pelo meio, esta 2.ª temporada de Feel Good é para ti. E se não viste a primeira, começa por aí, porque vale muito a pena.
Melhor Episódio:
Episódio 3 – É neste episódio que começamos a entender o que realmente se passa com Mae, que descreve o seu sofrimento afirmando: “Às vezes acontece algo insignificante e a minha reação é de loucos. O meu corpo fica rígido como uma tábua de madeira e só quero deitar-me debaixo da cama. E também gosto muito de drogas.” Vemos Mae em momentos de felicidade, mas também de desespero e pânico extremo, atingindo mesmo um ponto de rutura. Há também uma revelação inesperada no final do episódio que choca o espectador e marca um ponto de viragem a partir do qual Mae vai realmente ter que lidar com aquilo que a atormenta.
Personagem de Destaque:
Mae – A minha escolha deveu-se a todo o panorama de uma personagem que sofre e é incompreendida e além de eu me sentir solidária com a sua dor, acho que é incrivelmente interessante pela sua complexidade. Mae abana o mundo de quem está à sua volta enquanto tenta lidar com os seus problemas psicológicos, não deixando de os presentear com humor quase diariamente. É inteligente, uma pessoa impulsiva, instável, desequilibrada e apresenta certos sinais depressivos. Não se identifica como mulher, mas sim “como um Adam Driver ou um Ryan Gosling”.
Inês Rodrigues