Élite – Review da 4.ª Temporada
| 27 Jun, 2021

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[Contém spoilers]

Temporada: 4

Número de episódios: 8

Ao contrário do que provavelmente muitos de nós pensávamos, Élite não se ficou pela 3.ª temporada (inclusive já está uma 5.ª confirmada) e, portanto, já se encontra disponível na Netflix a 4.ª temporada da série espanhola que acompanha os alunos do colégio privado Las Encinas. Nesta temporada continuamos a acompanhar as histórias de Guzmán (Miguel Bernardeau), Rebe (Claudia Salas), Samuel (Itzan Escamilla), Omar (Omar Ayuso), Ander (Arón Piper) e Cayetana (Georgina Amorós), sendo que a estas se acrescentaram as histórias de Patrick (Manu Ríos), Ari (Carla Díaz), Mencía (Martina Cariddi) – os filhos do novo diretor de Las Encinas, Benjamín (Diego Martín) – e Phillipe (Pol Granch), este último um príncipe que vai para o colégio a fim de “fugir” a uns possíveis escândalos.

Ora, deixa-me desde já começar por dizer que esta 4.ª temporada não é das piores que já vi, mas provou bem que Élite se devia ter ficado pela terceira. Ou então poderiam ter lançado somente as histórias curtas. Particularmente, gostei muito mais do que foi apresentado nas quatro histórias curtas (Guzmán Caye Rebe, Nadia Guzmán, Omar Ander Alexis e Carla Samuel) e até considero que o argumento foi bem melhor do que o apresentado na 4.ª temporada. Não só esta não acrescentou nada de novo e/ou digno de interesse (ao contrário das histórias curtas), como conseguiu ainda estragar o desenvolvimento/história de alguns dos personagens, sendo um exemplo disso Guzmán. Este foi sem dúvida um dos personagens que mais desenvolvimento teve ao longo das três temporadas anteriores, mas ao que parece isso de pouco valeu porque nesta temporada ele voltou a ser a pessoa intragável que conhecemos na 1.ª temporada. É certo que ele estava a passar por uma fase complicada, visto que o relacionamento com Nadia (Mina El Hammani) terminou (apesar de que 5 minutos depois ele já estava com Ari, mas já vamos a isso). Ainda assim, fica difícil tolerar certas atitudes, ainda para mais quando essas eram motivadas por outra rapariga.

Sendo assim, vamos então falar sobre o trio amoroso Guzmán, Ari e Samuel. Alguém me consegue explicar o que é que Ari tinha assim de tão interessante para conseguir que estas duas personagens se apaixonassem por ela e, inclusive, pusessem em causa uma amizade (que durou tanto tempo a ser construída). Ainda para mais em tão pouco tempo? É que não houve nada nela que me cativasse (a não ser o estilo) e, por conseguinte, me fizesse gostar ou importar com ela sequer. Já para não falar, mais especificamente, que Guzmán chamou a Nadia, nas histórias curtas, de amor da vida dele, mas pouco tempo depois de terminarem (no prazo de dois episódios) começou logo a envolver-se com Ari (literalmente no episódio em que acaba definitivamente com Nadia, começa a envolver-se com Ari). Por falar nisso, que porcaria de término foi aquele? É que já não basta terem terminado, algo que poderia muito bem não ter acontecido se a série tivesse acabado na 3.ª temporada, ainda tinha que ser de forma tão insípida. Se era para terminarem, que ao menos nos dessem algo de jeito, como foi o caso de Samuel e Carla. E se queriam desenvolver um novo romance, que fosse algo que valesse a pena e que estivesse à altura daquilo que tinha vindo a ser apresentado até ali. Eu percebo que pudesse ser um pouco difícil tendo em atenção a história que Guzmán e Nadia viveram, mas para isso mais valia terem deixado Guzmán sozinho.

No entanto, isso parece-me ser algo um pouco inconcebível para os criadores de Élite, principalmente nesta temporada, uma vez que todos tiveram um interesse romântico. Inclusive, as novas personagens só serviram para isso, criar interesses amorosos, e não foram muito para além disso. Aliás, a 4.ª temporada de Élite resume-se a isso. A isso e a sexo! Sim, é verdade que cenas de sexo em Élite não são novidade absolutamente nenhuma, mas nesta temporada foram demais. Parece até que estavam a tentar compensar a falta de plot com cenas de sexo!

Por exemplo, Patrick veio para desestabilizar a relação de Ander e Omar (como se eles precisassem de mais uma prova do quão disfuncional a relação deles se tinha vindo a tornar ao longo das temporadas!), mas pouco é o conteúdo que o envolvia que fosse para além de cenas de sexo. É pena, porque até considero que ele tinha possibilidade de se tornar um personagem bastante interessante se lhe tivessem dado mais profundidade e história/contexto.

A história de Mencía, que veio para fazer par romântico com Rebe, também envolve sexo, mais especificamente prostituição. (Fui só eu que me lembrei da série italiana Baby?). Até gostei do facto de Rebe, nesta temporada, ter um interesse amoroso do mesmo sexo, mas a relação delas desenvolveu-se tão depressa que não consegui afeiçoar-me realmente ao casal. Talvez se primeiro nos fizessem gostar de Mencía e só depois, aos poucos, as fossem juntando tivesse resultado melhor. Já para não falar que a ingenuidade de Mencía quanto a Armando (Andrés Velencoso) me irritou um pouco. Ela estava realmente à espera de que ele fizesse tudo aquilo sem receber nada em troca? Não estou a dizer que as atitudes deles se justificam, atenção, longe disso, mas que era mais do que obvio que ele ia pedir algo em troca, isso era! Quer dizer, Armando dá-lhe um telemóvel novo, deixa-a ficar com Rebe num quarto de hotel pago por ele (e ainda com direito a pequeno-almoço), arranja-lhe bilhetes para uma festa exclusiva e ela acha que é por ele ser boa pessoa? Ainda para mais quando ele já dava ligeiros sinais do contrário?

De igual forma, a história de Phillippe, o par romântico de Cayetana, também envolve escândalos sexuais, mais especificamente abusos, pelo que nos é dado a entender. No entanto, a história dele com Cayetana vai um pouco para além disso, tanto é que penso que só existe uma cena de sexo entre eles ao longo da temporada toda (excluindo aquela tentativa dele). Ainda assim, e à semelhança das restantes relações, esta também não me convenceu por aí além. Confesso, inclusive, que muitas vezes me esquecia que eles existiam sequer. Se não fosse o excelente desenvolvimento que deram à personagem de Cayetana, penso que a história deles me passaria totalmente ao lado.

E já que estamos a falar de Cayetana, alguém que me explique porque é que fizeram uma história curta que mostrava uma excelente dinâmica/amizade entre ela, Rebe e Guzmán, mas depois isso não foi aproveitado na temporada? Mais, contam-se bem pelos dedos das mãos o número de interações dos personagens para lá dos seus interesses amorosos. Senti bastante falta de mais momentos de amizade entre as personagens, ainda para mais quando Élite já nos tinha habituado a isso, principalmente em termos de amizades improváveis.

Por último, quanto ao mistério desta temporada, admito que gostei que só tivessem revelado o verdadeiro assassinato (ainda que não tenha gostado que tivesse sido o Guzmán o responsável) no episódio final, ao contrário do que acontecia nas temporadas anteriores. No entanto, a utilização do acidente de Ari como engodo não me pareceu lá muito boa ideia. Isto porque não achei Ari uma personagem muito interessante e, por isso, não estava muito preocupada com o que lhe tinha acontecido, nem interessada em saber o porque. A falta de motivos aparentes que justificassem tal desfecho também não ajudou a isso. Nas temporadas anteriores ficávamos sempre em dúvida relativamente a quem poderia ter cometido o assassinato, porque todos acabavam por ter motivos para tal, mas neste caso isso não aconteceu. Penso que tudo isso levou a que o argumento da temporada fosse ainda mais fraco.

Resta-nos agora esperar para ver o que a 5.ª temporada nos reserva.

Melhor Episódio:

Episódio 7 – Apesar de considerar que nenhum episódio merece destaque, dado a história fraca que nos foi apresentada ao longo desta 4.ª temporada de Élite, o discurso de Sandra para a filha Rebe não só definiu tão bem a personagem de Rebe como ainda teve um ligeiro impacto em mim. Mesmo tendo uma mãe traficante de droga e uma namorada que se prostitui, Rebe mantém-se boa pessoa e, acima de tudo, compreensiva, mesmo quando tinha motivos para não o ser. Sei que não é um motivo muito forte que justifique a escolha do episódio, mas foi dos poucos diálogos/momentos de que gostei realmente nesta temporada, pelo que queria referi-lo.

Personagem de Destaque:

Rebeka Parrilla – Confesso que cheguei a pensar em escolher Cayetana, pois se houve alguém que se destacou, e muito, pela positiva foi ela, dado o desenvolvimento que lhe deram nesta temporada. É caso para dizer: quem a viu e quem a vê! Contudo, acabei por me decidir por Rebe. Isto porque, para além de ser das poucas personagens que se manteve fiel a ela mesma, também é das minhas preferidas, ao contrário de Cayetana, de quem só consegui gostar nesta temporada. O desenvolvimento de Cayetana merece ser reconhecido, é um facto, mas no final, quando se analisa também as restantes temporadas, acabo por considerar Rebe mais merecedora.

Cármen Silva

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