[Não contém spoilers]
Temporada: 1
Episódios: 8
Intensa e inesperada será a melhor forma de descrever a 1.ª temporada de Welcome to Utmark, tendo a capacidade invulgar de ser uma série de ritmo lento em que nunca há cenas paradas. Esta produção norueguesa é uma série onde dificilmente conseguimos escolher posições, dadas as circunstâncias insólitas que compõem os dois extremos desta história. Por um lado, o criador de ovelhas e alcóolico da cidade, Finn (Tobias Santelmann); por outro, Bilzi (Stig Henrik Hoff), um imponente e perigoso criador de gado.
Como tal, rapidamente chegamos à constatação que nesta série não há heróis, apenas um choque de culturas e mentalidades entre as duas personagens principais, enquanto a maioria das outras passam pelos pingos da chuva do julgamento público. Dando-se o fenómeno, muito explorado na ficção: “este lugar não é suficientemente grande para nós os dois”.
Com uma fotografia impactante, de um deserto de verdes que parecem quase intocados pelo homem, cria-nos uma ideia semelhante ao que uma das personagens refere quando chega pela primeira vez a Utmark: “Deve ser incrível viver aqui”. Contudo, tal como essa personagem, cedo somos esclarecidos da verdadeira natureza deste local e das pessoas que nele habitam. Eye for an Eye é o título do piloto, sendo o mote para toda a narrativa desta primeira temporada.
Nesta série, todos os eventos têm um toque de comédia, tensão ou conflito sem tabus ou limites e com mestria na concretização do efeito surpresa, juntando o melhor do humor sarcástico, característico das produções britânicas, com o estilo de personagens singulares e musicalidade western americana.
Rituais tribais vivem de mãos dadas com uma pequena localidade aparentemente tradicional, mas em que a civilização e vícios cosmopolitas, ainda que de forma oculta, se fazem sentir através dos meandros do jogo, mercado negro e prostituição que a dominam.
Não há um sentido claro de moralidade em grande parte das ações dos habitantes da cidade, sendo particularmente interessante assistir e compreender a complexidade dos mesmos, sobretudo quando certos valores que pareciam à partida inexistentes surgem em eventos-chave de uma forma natural e muitas vezes até comovente.
A racionalidade vive em minoria em Utmark, não sendo, portanto, estranho que nos guiemos por um elenco muito reduzido de personagens para ter algum sentido de sensatez. Mas no meio deste universo kafkiano, e tal como em tudo o resto em Welcome to Utmark, esse mesmo elenco não podia ser mais improvável.
A 1.ª temporada de Welcome to Utmark é uma emocionante e multifacetada produção, das melhores a que assisti ultimamente. A série estreou a 18 de abril e está disponível na HBO Portugal.
Melhor Episódio:
Episódio 4 – Fresh and Blood – As circunstâncias que o envolvem, sobretudo a nível dramático, são o mote para o desfecho da temporada. Tudo muda depois deste episódio.
Personagem de Destaque:
Marin – Para aqueles que viram Californication, Marin é a Becca Moody de Welcome to Utmark. A criança que parece ser a única adulta num círculo de degenerados e imaturos à beira da meia-idade. Funciona como ponto de equilíbrio e voz da razão da série.
Diogo Gouveia