Sexify – Review da 1.ª temporada
| 07 Mai, 2021

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Temporada: 1

Número de episódios: 8

[Contém spoilers]

No passado dia 28 de abril, estreou na Netflix a 1.ª temporada de Sexify, uma série polaca que alia harmoniosamente a comédia ao drama numa representação bastante realista das comunidades académicas. A ação centra-se no percurso de Natalia (Aleksandra Skraba) e das suas duas amigas, Paulina (Maria Sobocinska) e Monika (Sandra Drzymalska), e nos seus esforços, avanços e recuos para desenvolver uma aplicação que otimize o orgasmo feminino. Escusado será dizer que a série me conquistou desde o primeiro episódio, já que cada vez mais me interesso por temas aliados ao feminismo e autoestima, ainda mais expostos de uma forma divertida, o que suaviza a carga negativa de comentários machistas e julgamento da sociedade, que também são retratados.

Considero que as personagens estão muito bem desenvolvidas e são bastante realistas. Ao longo da ação assistimos a momentos de união e felicidade, mas também a discussões e desavenças expectáveis de um grupo de três raparigas com objetivos diferentes de vida que passam muito (talvez demasiado) tempo juntas a desenvolver um projeto controverso e sob a pressão do tempo. À medida que vão aprendendo cada vez mais sobre o prazer feminino, é notável como a vida privada de cada uma é afetada. Assistimos a uma evolução nas mentalidades das personagens principais. É no contacto com Natalia e Monika que Paulina vai entendendo aos poucos que a relação que mantém com o namorado não é satisfatória a nível sexual. Monika vai-se libertando da memória do ex-namorado. Natalia continua o estudo teórico dos vários aspetos do sexo e do prazer feminino.

Um episódio de Sexify é uma lufada de ar fresco, trazendo não só o já referido tema principal, mas também outros como a amizade, o amor, a resiliência e o apoio incondicional, de uma forma leve e divertida, que nos leva por vezes ao riso, nunca perdendo a seriedade.

O tema socialmente controverso da série é na verdade uma chamada de atenção para uma problemática que ainda necessita de ser explorada. O prazer feminino tem um longo caminho a percorrer até deixar de ser tabu na sociedade em que vivemos, mas é da sua normalização que ele deve continuar a ser feito. Há vários momentos em que vemos o prazer feminino a ser julgado, a ser visto como algo ‘errado’ e, consequentemente, de que até se tem medo de falar. Mas esta série também nos proporciona momentos de descoberta do mundo do sexo e do prazer, de abertura das mentalidades e de conhecimento por parte da sociedade que encara estes temas como quaisquer outros.

Apesar de não ser uma masterpiece, considero que esta série está muito bem concebida e que atingiu os objetivos a que se propunha. Pessoalmente esperava ver mais transformações nas personagens, principalmente em Natalia. No entanto, parece que o realizador tornou a ação da série num primeiro passo para a autodescoberta de cada uma das personagens principais. Cada episódio me dava um certo sentimento de liberdade, talvez por me lembrar dos direitos da mulher e daquilo de que somos capazes. É percetível a mensagem de que é preciso fazermos uso de uma ferramenta que todos temos ao nosso alcance e que é tão fundamental, mas não queremos admitir. a comunicação. Já vi séries que me prenderam muito mais e me deixaram muito mais extasiada pela sua qualidade, mas esta definitivamente prendeu-me pelo tema tão fundamental na sociedade atual e pelos diálogos bem construídos e com uma profundidade que não seria de esperar de uma série focada numa comunidade académica. A leveza que a componente cómica lhe atribui torna-a ideal para ver em qualquer altura, estejamos com as baterias carregadas ou cansados. Portanto, se te interessas pelos valores feministas e queres aprender mais sobre o prazer feminino de uma forma menos exaustiva, esta é a tua série. Já a adicionaste à tua lista?

Melhor episódio:

Episódio 3 – Escolhi este episódio porque resume muito bem aquilo que esta série nos traz: deparamo-nos com a libertação, mas também com a repressão e julgamento alheio, é momento de diversas descobertas, mas também de levantamento de dúvidas. Outra razão para este episódio ter captado a minha atenção é o facto de representar um ponto de viragem, de mudança e de decisão. É aqui que efetivamente começa a investigação para o projeto que levará as personagens a passarem por uma transformação sem retorno. Destaco uma fala deste episódio, no momento em que o namorado pergunta a Paulina onde está a química nas relações amorosas, ao que Paulina responde “Em todo o lado, Mariusz. Em todo o lado.”

Personagem em destaque:

Paulina – Paulina é estudante de Química, católica, vive com o namorado às escondidas dos pais, é insegura e tem baixa autoestima. Sente-se culpada por ser sexualmente ativa com o namorado e está constantemente preocupada com o que namorado vai pensar se ela demorar a voltar para casa. Mas é notável a evolução desta personagem ao longo da ação. Paulina embarca numa viagem de descoberta de todo um mundo novo. O que tornou esta personagem na minha favorita foi o facto de considerar que foi a que sofreu mais transformações ao longo da ação e que gradualmente se foi libertando das crenças com que viveu toda a vida. Aquela que ao início se conforma com aquilo que o namorado quer, até mesmo na cama, chega ao final a pôr-se a si mesma em primeiro lugar.

Inês Rodrigues

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