Temporada: 1
Episódios: 8
[Pode conter spoilers]
O que acontece quando uma série tenta explicar a origem dos super-heróis e, em simultâneo, preparar o seu legado? Bom, acontece Jupiter’s Legacy. Acontece mais do mesmo!
A 1.ª temporada de Jupiter’s Legacy (o título só fará sentido quase no final da temporada) é baseada nos comics de Mark Millar e Frank Quitely. Comics esses que não conheço, mas se a história é semelhante ao que a série espelha, também não deve ser muito original. O maior problema da nova aposta da Netflix não é o facto de ser mais uma série de super-heróis, até porque não pertenço ao clã que pensa que devia haver uma quota em certas categorias de televisão. O problema destes oito episódios nem sequer é a componente não-fantasia, com dramas familiares em contexto super-heroico. O problema nem está nos efeitos especiais e nem sequer no elenco. O problema é que, nesta altura do campeonato, já foi tudo visto.
Num mundo em que há, por exemplo, The Boys, Jupiter’s Legacy acrescenta pouco de novo (para não dizer nada). A estrela, e o único motivo que justifica ver a série, é Josh Duhamel. Um ator que aprecio e cujo carisma dá vida a uma história que salta entre a formação da equipa em 1930 e a necessidade em se adaptarem à realidade do mundo atual. Há filhos que foram esquecidos em nome do heroísmo e que por isso carregam os próprios dramas além da responsabilidade de defender o mundo. Mas isto já foi amplamente explorado em The Umbrella Academy. Há o filho que quer a aprovação do pai, há a irritante filha que snifa tudo o que é pó na mesa, há o tio que se faz de amigo, mas que desde o primeiro minuto no ecrã se percebe ao que vem porque o bigode não engana. Há uma intenção em abordar uma componente mais filosófica sobre qual o papel e responsabilidade de “deuses” no destino da humanidade e se devem ou não interferir. Mas esta temática é abafada ou não desenvolvida ao ponto de ser relevante (se beberes um shot de cada vez que alguém invoca o “Código”, vais estar em coma antes que a Netflix te pergunte se queres saltar a introdução!).
Tudo é incrivelmente previsível nesta 1.ª temporada de Jupiter’s Legacy. Não só porque o argumento não é genial, mas principalmente pela própria premissa. Uma grande parte da história centra-se no trauma de Sheldon (Duhamel) e na luta para convencer os mais chegados que não está louco. Eventualmente consegue juntar a equipa na viagem e atingem o objetivo. O problema é que nós sabemos que ele consegue, porque na timeline atual eles são super-heróis! Não há nenhum mistério, suspense ou uma razão subliminar para nos manter interessados. O que nós não sabíamos à partida não chega a ser explicado.
A Netflix tenta “vender” a série como um épico. A única coisa épica são talvez as batalhas, em que os visuais não desiludem, mas se a série anterior que viste foi Invincible, na Amazon, é como passar de cavalo para burro. Não é algo de que a série tenha culpa, mas ainda assim sofre de mau timing!
Em suma, se a tua “panca” é papar tudo o que tenha capa e uniformes justinhos, não deixes escapar a mais recente adição ao catálogo da Netflix. No entanto, se estàs à espera de algum tipo de originalidade, surpresa, mistério, twist ou gore… Steven S. DeKnight, depois do que fez com Daredevil, devia ter-nos dado mais. Infelizmente, Jupiter’s Legacy é altamente esquecível.
Melhor episódio:
Episódio 7 – Omnes Pro Uno – Apenas porque este episódio nos dá algumas respostas, há conflitos entre personagens que são bem explorados e porque o final me fez lembrar o filme Contacto.
Personagem de destaque:
Sheldon Sampson / The Utopian – Como referi no texto, é a principal razão para espreitar a série. Quer numa visão mais jovem ou Old Man Utopian, Duhamel carrega a série aos ombros. Não é porque o restante elenco seja fraco, mas a série deposita nele bastantes responsabilidades.
Vítor Rodrigues