Um dos maiores prazeres na vida, pelo menos na vida seriólica, é quando encontramos uma série que aparece assim do “nada” que nos surpreende tanto. A 1.ª temporada de Invincible é um desses casos. OK, esta não foi tanto um achado, mais uma sugestão de outra viciada, mas raios, deslarguem-me!
Da mente que nos trouxe The Walking Dead, Invincible é um comic de 2003 que só agora foi adaptado para o ecrã, com o apoio da Amazon. Se estás já a torcer o nariz por ser animação, ter super-heróis ou por estes se revelarem feios, porcos e maus, calma! Este projeto é mais que uma cópia de The Boys e vai para além de mais um com violência pura sob o olhar de Seth Rogen. Traz-nos uma visão que, embora não original (mas os comics antecederam todas as histórias a que a estou a comparar), contém uma veia tresloucada que só a animação o permite.
Esta não é definitivamente aquela série para ver com os mais novos, apesar de ter uma componente de young adult, com triângulos amorosos. É para todos aqueles que sempre quiseram saber como seriam as batalhas de Dragon Ball sem censura. Para quem está farto de ver seres poderosos a arremessar rivais contra edifícios em vez de simplesmente os assassinar a frio. Sim, na base está um adolescente que está a aventurar-se pela primeira vez no negócio de salvar o mundo, mas espera até ao final do primeiro episódio para seres completamente arrebatado com o que estes animadores conseguem fazer.
O facto de os episódios serem de 40 minutos, o dobro do normal na animação, faz com que não seja propriamente uma série barata. Nota-se em raros casos que a qualidade da animação sofre em detrimento de outras cenas que de certeza exigiram mais, mas nunca compromete o prazer de visualizar algo pensado para nos chocar. Há uma grande atenção ao detalhe em quase todas as sequências.
A cereja no topo do bolo (ou o melhor do recheio, conforme a importância que isso tenha para ti), é o trabalho de voz. No papel principal temos Steven Yeun, que Robert Kirkman trouxe de The Walking Dead, um adolescente que tem de fazer malabarismo entre namorada, amigos, treinos e constantes sovas que leva de supervilões; Sandra Oh como esposa de Omni-man e mãe de Invincible e o fantástico J.K. Simmons como um dos heróis mais poderosos do mundo, um Super-Homem se Henry Cavill não tivesse cortado o bigode. Outros fãs da animação atual reconhecerão também Jason Mantzoukas de Big Mouth e até Justin Roiland de Solar Opposites e Rick and Morty. Entre o enorme leque de cameos temos nomes como Walton Goggins, Gillian Jacobs, Zachary Quinto, Mark Hamill e Jon Hamm.
O resultado final é uma história que prima pela imprevisibilidade e uma panóplia incrível de possível expansão (fãs dos comics de Irredeemable vão reconhecer parecenças). Com um argumento capaz de ser tão ácido como as sequências de ação e sem medo de brincar com o absurdo, uma animação sem rédeas e um grupo de gente brilhante e com provas dadas a orquestrar tudo. Não há então grandes razões para ter receio do que a série nos pode dar no futuro. Ainda para mais quando a 2.ª e 3.ª temporadas já estão asseguradas. Invincible já figura na minha lista de melhores do ano e muito dificilmente ficará de fora em dezembro. Não deixes que passe debaixo do teu radar, como quase ia passar a mim.
Melhor episódio:
Episódio 5 – That Actually Hurt – Poderia ter escolhido o piloto por ter um final bombástico e poderia ter escolhido o final de temporada por ser tão avassalador. Prefiro destacar, ainda assim, o quinto episódio, em que Mark ajuda um rufia (Mahershala Ali) a destronar o Kingpin da zona. Salienta bem tudo o que a série faz bem, principalmente no último terço do episódio.
Personagem de destaque:
Omni-Man/Nolan Grayson – Seria difícil não destacar J.K. Simmons (se bem que Sandra Oh também está excelente). O ator imprime um peso com a voz que encaixa como uma maravilha na personagem de Omni-Man. Fantástico!
Vítor Rodrigues