[Só contém spoilers na parte final]
Temporada: 1
Número de Episódios: 10
No passado dia 24 de março, estreou na Netflix a 1.ª temporada da série mexicana Quién Mató a Sara?, e nem uma semana depois desta estreia foi confirmado que a série tinha sido renovada para um 2.ª temporada, sendo que esta tem data de lançamento prevista já para dia 19 de maio.
Quién Mató a Sara? acompanha a história de Alex (Alejandro) Guzmán (Manolo Cardona), que foi acusado injustamente da morte da irmã, Sara (Ximena Lamadrid), o que o levou a cumprir uma pena de prisão de 18 anos. Assim que se vê em liberdade, começa a pôr o seu plano de vingança, contra quem ele pensa que verdadeiramente matou Sara, em prática, e é nesse processo que conhecemos a poderosa família Lazcano e a ligação/história que têm com Alex e Sara. Esta família é composta por César Lazcano (Ginés García Millán), o patriarca da família; Mariana (Claudia Ramírez), sua esposa; e ainda pelos seus filhos: Rodolfo (Alejandro Nones), José Maria (Eugenio Siller), a quem todos tratam por Chema, e Elisa (Carolina Miranda).
Deixa-me já começar por dizer: se ainda estás em dúvida quanto a ver esta série, por favor fá-lo! Acredita que vai valer bastante a pena! Principalmente se gostas de séries com um estilo narrativo semelhante ao de How To Get Away With Murder ou Élite, isto é, em que se recorre à intercalação entre o presente e o passado para apresentar a história e o desenvolvimento desta. Confesso que isso fez com que eu achasse a história, no início do primeiro episódio, um pouco confusa, uma vez que ainda não conhecia os personagens, muito menos a ligação entre eles, mas depois de conhecer, torna-se bastante interessante o uso desse estilo narrativo, especialmente porque nos desperta a curiosidade e nos faz querer saber mais e mais, a fim de juntar as peças todas e perceber o que realmente aconteceu.
Ainda sobre o primeiro episódio, não te deixes enganar! Apesar daquele pequeno pormenor mencionado anteriormente, em geral eu achei No Fue un Error um excelente episódio piloto e a história apresentada conseguiu convencer-me a ver os restantes nove episódios. No entanto, agora que terminei de ver tudo, considero que este não consegue mostrar nem um terço do potencial da série. Particularmente, porque a narrativa tomou rumos que eu não estava à espera que tomasse, e principalmente porque referiu assuntos que não estava à espera que referissem de todo. Para além disso, ainda que o primeiro episódio mostrasse ligeiramente que Quién Mató a Sara? se conseguia diferenciar, por muito pouco que fosse, de outras séries do género, eu achava sinceramente que a história iria acabar, a longo prazo, por inevitavelmente apresentar mais do mesmo e até recorrer a clichés que já vimos vezes e vezes sem conta. Não digo que eles não estejam lá, porque estão, mas a forma como os desenvolveram pauta pela diferença. Acho que foi essencialmente isso que me levou a ficar tão presa à série e a gostar tanto dela.
Contudo, não quero com isto dizer que Quién Mató a Sara? apresenta a melhor história ou é a melhor série já feita. Na verdade, até acho que se formos analisar com atenção a narrativa apresentada nesta 1.ª temporada, muito provavelmente vamos encontrar incongruências e até mesmo erros que mostram bem que se trata precisamente de uma série. De qualquer das formas, a maneira como esta está feita e a forma como a história nos vai sendo apresentada faz com que pouco seja o tempo (ou até mesmo nenhum) em que nos é permitido parar para pensar no que realmente está a acontecer (ou aconteceu) porque na verdade está sempre a acontecer algo. A história em momento nenhum perde tempo a enrolar-nos. Já para não falar que a maior parte dos episódios nem 40 minutos tem, portanto, veem-se mesmo num abrir e fechar de olhos. Acredita, assim que começares a ver Quién Mató a Sara?, não vais descansar enquanto não tiveres visto a 1.ª temporada toda!
[Atenção! A partir daqui contém spoilers]
Melhor Episódio:
Donde los sueños se hacen realidad (episódio 8) – Ao contrário do que costuma acontecer, assim que terminei a série já sabia qual era o episódio que ia escolher. Depois do discurso de Chema, era impossível escolher outro episódio. Foi simplesmente lindo e impagável! O jantar de família já tinha tudo para dar errado ou não fosse o facto de Elisa andar envolvida com Alex, que só assim por acaso está a fazer de tudo para se vingar da família Lazcano; Chema e Lorenzo anunciam que vão em frente com a ideia de serem pais e para tal vão recorrer a uma barriga de aluguer, algo que não agrada muito os seus pais, que veem isso como uma aberração; Rodolfo descobre que Sofia está grávida, mas, como ficamos a saber mais tarde, este fez uma vasectomia, pelo que o filho não pode ser dele; e, para cereja no topo do bolo, César anda envolvido com a nora Sofia e através desse facto soube-se logo de quem era o filho dela. Ora, César homofóbico como é, quando Chema conta a novidade, decide chamar ao filho aberração e é aí que Chema acaba por lhe dizer umas quantas verdades (e muito bem ditas), e acaba também por lançar a bomba relativamente ao envolvimento de César com Sofia. E ele nem sabe que isso não é o pior da lista das inúmeras atrocidades que César cometeu/comete (imagina se soubessem!). Ainda há, por exemplo, a questão do tráfico de mulheres, que são obrigadas a prostituírem-se num bordel ilegal alojado na cave do Casino; o facto de saber e compactuar que Sergio (Juan Carlos Remolina) espanque até à morte algumas dessas mulheres; e ainda que se tenha envolvido com Sara, também ela namorada do seu filho Rodolfo, e que o filho desta também era dele.
Personagem de Destaque:
Rodolfo Lazcano – Sinto que poderia ter escolhido qualquer um dos personagens porque cada um deles é importante para a história, até mesmo César, que, apesar de ser um ser humano horrível, é um personagem bastante bem construído. Também podia ter escolhido Elroy (Héctor Jiménez), por exemplo. Não estava nada à espera da importância que ele iria assumir ao longo dos episódios, muito menos tinha ideia da história relativa a abusos sexuais que ele carregava. No entanto, acabei por escolher Rodolfo pura e simplesmente porque ele foi dos personagens que mais me surpreendeu. Inicialmente pensei que fosse ser aquele típico rapaz popular, filho de pais ricos, que não olha a meios para atingir os fins, e que só estava com Sara para passar o tempo. Mas afinal o pobre coitado gostava verdadeiramente dela e sofreu bastante com a morte dela, inclusive sentia-se culpado não só pela morte, mas também por nunca ter feito nada para impedir que Alex fosse parar à prisão. Nunca pensei que fosse gostar dele, muito menos que fosse sentir pena. Fiquei de coração apertado ao vê-lo chorar compulsivamente deitado na cama de Sara, agarrado a um peluche. Também depois de descobrir que o filho de Sara não era dele (apesar de que ainda não sabia de quem era) e que a mulher o anda a trair com o pai, não é para menos.
Cármen Silva