American Gods – Review da 3.ª Temporada
| 26 Mar, 2021
7.35

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[Contém spoilers]

Pelo menos, de tudo o que se pode dizer da 3.ª temporada de American Gods, ninguém pode afirmar que não sabem fazer finales

Compreendam antes de mais a minha relação com este pecado: é provavelmente dos maiores desperdícios na história da televisão. Tinha tudo para ser uma série inesquecível, caso estivesse a ser feita por alguém com uma ideia única e coerente. O verdadeiro pesadelo de produção leva a que conte com mais produtores do que temporadas e quando algo nasce torto, dificilmente se endireita. Por outro lado, o facto de ainda assim ser uma série que vale a pena acompanhar demonstra a potencialidade. Porque aquilo que a série faz bem, faz muito bem.

Esta temporada não precisava de dez episódios nem precisava de tanto tempo gasto em Lakeside, com um arco mais do que previsível (do ponto de vista amoroso ou do “mistério” quanto ao vilão). Não precisava também de tantos momentos em câmara lenta, com grandes efeitos visuais que a grande maior parte de nós não sabe interpretar além de “olha, giro!”. Não precisava ainda de uma Laura (Emily Browning) quase intragável ou, pelo menos, incapaz de desenvolver qualquer tipo de afeto pelo seu presente e futuro. Se a isto juntarmos o facto de se confirmar que é a alma gémea de Shadow Moon (Ricky Whittle)… bem, digamos que é uma mistura de desperdício de três temporadas de afastamento e um puxar do fio mais obviamente chato do tapete dos enredos. Laura já cumpriu o seu papel, deixem-na morrer pela terceira vez, de vez. Por falar em desperdício de talento, que dizer de Salim (Omid Abtahi), cuja presença na série é a de um pinga-amor sem rumo? A história de amor com Jinn sempre foi uma lufada de ar fresco em tanta ganância por poder. Agora é uma sombra de si próprio, também sem rumo. A presença de atores como Iwan Rheon, Denis O’Hare, Danny Trejo, Dominique Jackson e Peter Stormare ajuda sempre a elevar a narrativa, mas não podem carregar a cruz sozinhos quando o resto puxa para baixo.

Ao mesmo tempo, esta é também a série capaz de mostrar fantásticos momentos visuais e fantásticos cliffhangers. A viagem de Bilquis (Yetide Badakki) é lindíssima em quase todos os seus momentos (poucos para a sua importância). A ligação a África, à sua gente, à sua música, o facto de demonstrar que um Deus pode esquecer as suas origens e, ao mesmo tempo, renascer para um novo futuro quando aceita o seu passado. É uma incrível mensagem!

Por falar em evolução, que agradável surpresa foi esta inovação tecnológica (pun intended) de Technical Boy (Bruce Langley). A ideia de que o toque de Bilquis despertou a necessidade de se autodescobrir, como o amor consegue fazer ao mais insensível de nós. De que tocando na primeira ferramenta tecnológica do Homem, usada para criar fogo, faz relembrar todas as suas vidas passadas. A ideia que a próxima evolução da máquina é ganhar sentimento, e que isso não é um glitch, mas a sua maior arma. É destes momentos que mais gosto em American Gods, as possibilidades. Foi também com agrado que vi o regresso de Crispin Glover ao papel de Loki, perdão, Mr. World, e espero que possamos ver mais da sua loucura.

Estes altos e baixos de American Gods não a tornam viva, colocam-na numa espécie de coma induzido, destinada a alucinar nas suas próprias visões e impossibilitando-a de alcançar o próprio potencial. Esperemos que a Starz sacrifique o necessário para nos dar um final pelo qual rezamos. Esperemos que a série passe os próximos nove dias em vigília por si própria e renasça mais poderosa que nunca. Que o tempo que passará amarrada à Yggdrasi dê para refletir em tudo o que é preciso mudar.

Outras perguntas ficam no ar: quem é realmente Cordelia (Ashley Reyes)? Será Frigg? Se Shadow Moon é confirmado como Baldur, serão aquelas nuvens no horizonte o início do Ragnarok agora que Odin (Ian McShane) regressa?

A série sofre muito com a ausência da loucura de Mad Sweeney e Mr. Nancy e é necessária mais energia nestes episódios. Mais energia e diálogos que façam jus à história que Neil Gaiman quer contar. É preciso que American Gods se eleve ao nível que aspira ter, senão, para além de se manter esquecida para quem não a conhece, perderá os devotos que ainda rezam ao seu altar.

Melhor Episódio:

Episódio 10Tears of the Wrath-Bearing Tree – O quarto episódio, em que Bilquis descobre o seu passado, teria sido outra forte escolha, mas é inegável a capacidade da série em criar cliffhangers que nos deixam sedentos por mais. A única crítica é mesmo a arrogância de Shadow Moon a assumir-se como melhor batata do pacote, algo que o personagem não demonstrara até então.

Personagem de Destaque:

Technical Boy – Escolho a personagem mais glitchy porque me parece que foi a que mais evoluiu ao longo da temporada (juntamente com Bilquis). Não duvido que será fundamental para o desfecho da história e estou curioso em descobrir de que modo.

Vítor Rodrigues

7.35
8
Interpretação
5
Argumento
9
Realização
7.5
Banda Sonora

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