The Stand – Review da Minissérie
| 14 Fev, 2021

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[Contém spoilers]

Minissérie

Número de episódios: 9

The Stand é a mais recente adaptação de uma história do autor Stephen King à televisão, desta vez no formato de minissérie. Conta-nos a história sobre uma praga que se abate sobre o mundo e leva à criação de duas fações, uma a representar o bem e outra a representar o mal, uma temática recorrente no universo de Stephen King.

A aposta da CBS All Access, que cá é disponibilizada pela HBO Portugal, começa bem com um piloto consistente e que consegue agarrar bem as pessoas (podem ler a review aqui). A história por detrás é uma obra prima, considerada como um dos melhores livros escritos por King, muitas das vezes em top 3 a par de IT e de um outro que varia consoante a lista. Os atores cumprem bem os seus papéis: Harold tem uma performance espetacular no piloto, até Katherine McNamara faz um belo papel, provando que em Shadowhunters a culpa poderia não ser da sua incapacidade para atuar.

No entanto, nem tudo é um mar de joias no começo. A questão das timelines e dos saltos temporais dexiaram quem leu o livro um pouco de pé atrás. Parecia algo apressado, como é que no fim do primeiro episódio já se sabia da comunidade criada em Boulder? Mal sabíamos nós que isso não era a única coisa a sair apressada na série.

As nossas personagens principais são Stuart Redman (James Marsden), um homem simples no bom sentido e com uma bússola moral bastante forte. Pouco tempo depois de começar o seu caminho, apaixona-se por Frannie Goldsmith (Odessa Young). Frannie iniciou o seu percurso com Harold (Owen Teague) que estava há largos anos apaixonado por ela. Mais tarde junta-se ao grupo Larry Underwood (Jovan Adepo), músico e ex-toxicodependente, um homem que sempre fez as escolhas erradas na vida e que tem, neste apocalipse, a hipótese de mudar. Nick Andros (Henry Zaga) é o menino especial de Mother Abigail (Whoopi Goldberg), tendo perdido a capacidade de falar, a não ser com linguagem gestual, mas acaba por ser quem melhor a compreende. Por fim, temos Glen Bateman (Greg Kinnear) e Ray (Irene Bedard). Glen como um homem mais da oratória e do pensamento e Ray como uma mulher de ação, de arregaçar as mangas e pôr mãos à obra. À sua maneira todos estiveram bem nas interpretações das personagens que fazem.

Sinto que foi um bom começo, com potencial, mas onde estava tudo a acontecer demasiado rápido. Não nos dava propriamente tempo para nos afeiçoarmos a determinadas personagens, ou para entender o seu drive, porque é que elas fazem o que fazem, antes de mudanças repentinas. Teria gostado de ter visto um pouco mais sobre os diferentes percursos de cada um antes de chegar ao santuário.

Mais ou menos a partir do quarto episódio é quando as coisas ganham um contorno mais negativo. Se até aqui já tínhamos avançado a um ritmo rápido, então o que dizer sobre os últimos cinco episódios? Fica no ar a ideia que tinham receio de não conseguirem renovar para uma segunda temporada, porque claramente, para quem leu o livro, havia história que desse para duas temporadas de oito episódios.

Começou com o lançamento dos espiões para Las Vegas. Se repararem, essa plotline está incompleta. Tom Cullen ou Mr. Moon, é uma personagem crucial para o desenrolar da história nos livros, Randall Flagg não consegue ler-lhe os pensamentos e entrar na sua cabeça, devido à sua deficiência mental, é algo puro e lindo de ler. Aqui teve direito a uma bela introdução na sua relação com Nick, mas depois passou meio despercebido. Ele está em Las Vegas, foge e algures no caminho encontra e traz Stu, mas nem sequer vemos isto. Qual o propósito da informação que ele andou a recolher? Ninguém fala sequer disto.

No universo de Stephen King há palavras e expressões que têm um determinado poder, não no sentido de feitiçaria onde eu digo expeliarmus e acontece algo, mas pelo poder da crença. Isto para justificar o porquê de não ter gostado do episódio oito. O momento onde o grupo faz o seu último desafio a Randall, onde estão preparados para morrer, transmite essa crença, essa força usando a expressão “I Fear no Evil”. Abalando a crença dos restantes membros do congresso de Flagg apenas pela sua crença. Ao verem-na perdem um pouco de fé no homem em que estavam a depositar a sua fé. Ao perder essa crença, Flagg perde poder. Afinal de contas um Deus em quem ninguém acredita não existe. Estas nuances são muito muito complicadas de trazer à vida na televisão. É muito mais fácil para um escritor, que pode descrever a multidão, o que eles estão a sentir, os pensamentos mais íntimos das personagens, e isso tudo ajuda-nos a ir no caminho que a história quer. Na adaptação vemos apenas Larry e Ray a serem afogados, criando uma mini revolta, e Trashcan Man a entrar com uma bomba nuclear que destrói tudo.

O que nos leva a mais uma personagem mal aproveitada e caracterizada. Trashcan Man tem um passado, um passado que é triste e que nos dá a conhecer a personagem muito melhor do que foi possível na série. Trashcan Man tem um nome: Donald, e tinha 3 irmãos e um pai e uma mãe. O pai começou a ter problemas mentais que se foram tornando piores, até que uma noite decide matar a família completa. À frente de Donald mata os seus três irmãos, antes de a sua mãe Sally conseguir escapar com Donald. A partir daí a infância dele estava estragada e começou a ter desejos piromaníacos. O fogo era o seu único amigo. Toda esta loucura nos ajuda a compreender o porquê de ele ter escolhido Flagg e também o porquê de ter feito o que fez. Na série não passa de um maluco que aparece em meia dúzia de minutos. Custa. Assim como ver críticas a chover à personagem de Harold, da parte dos fãs a desejarem que a personagem morra, sem saberem ou compreender o que o levou àquele ponto na vida: o isolamento e maus tratos.

Ou seja, recapitulando, a pior caraterística desta série é que tira aquilo que King melhor faz. A profundidade das personagens, o realismo, aquele sentimento de que conhecemos cada uma daquelas pessoas melhor que os nossos pais. King tem esse poder na escrita. King não tem esse poder nas adaptações, por isso é que existe uma regra para os fãs de King. Ele tem o toque de Midas mas ao contrário, tudo aquilo em que ele toca e está envolvido em adaptações torna-se não em ouro, mas sim noutra coisa bem pior. A melhor coisa que este The Stand fez foi aumentar o respeito dos fãs pela adaptação de 1994.

Melhor episódio:

Episódio 2Pocket Savior – Este episódio traz-nos a introdução de Larry Underwood e de todo o seu curto romance com Rita Blakemoor. Mostra-nos aquele lado bom de King, onde nada acontece apenas para um lado da balança, tudo o que acontece de bom acontece em igual peso e medida de mau. O mundo é bruto e brutal e não é um apocalipse que mostra isso. Destaco também a maneira em como Larry não voltou atrás para ajudar Rita, isso é algo que lhe tira o sono e traz pesadelos, atormentando-o para o resto da vida. É um dos principais impulsionadores para ele fazer tudo o que faz daqui para a frente. Larry foi das personagens que melhor foi interpretada.

Personagem de destaque:

Randall Flagg – Também conhecido como The Man in Black, Marten Broadcloack ou Walter Padick. Sim, é um homem com muitos nomes e muitas aparições nas mais diversas obras de King. Esta presença regular foi interpretada no filme The Dark Tower (Não vejam, é o ponto mais baixo de qualquer adaptação ao cinema) por Matthew McConaughey. Isto significava que as botas que Alexander Skarsgård tinha que calçar eram difíceis, no entanto, fomos oferecidos com um belo trabalho. Um antagonista carismático, com sorrisos frios nos momentos corretos. Fica a ideia que Randall seria mesmo capaz de reunir seguidores à sua volta. Exceto naquela dança meio tosca no episódio oito. Essa dança fá-lo-ia perder uns quantos seguidores.

E vocês o que acharam? Recomendo a leitura do livro!

Raul Araújo

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