It’s a Sin – Review da minissérie
| 09 Fev, 2021

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[Contém spoilers no destaque do melhor episódio]

Minissérie

Número de episódios: 5

It’s a Sin é mais uma das grandes estreias deste ano (ainda vamos no começo e já tivemos pelo menos duas grandes estreias, sendo a outra Lupin), uma minissérie disponível na HBO Portugal. It’s a Sin acompanha três jovens homossexuais nos anos 80 em Londres, desde o momento em que cada um sai de casa, até ao aparecimento vertiginoso da SIDA. É tocante, emotiva e deixa-nos com um sentimento de revolta e de profunda tristeza por algo que não se passou assim há tanto tempo.

Ritchie, Colin e Roscoe são os três jovens que começamos por acompanhar. Mais à frente há muito mais do que apenas três personagens principais, mas já lá vamos, cada um com a sua história. Isto porque nessa altura a homossexualidade era algo para manter em segredo, com vergonha que o mundo descobrisse. A história destes três jovens representa a história de milhares que terão passado pelo mesmo.

Ritchie (Olly Alexander) vivia num segredo, já sabia do que gostava, mas não podia demonstrar de forma nenhuma aos amigos ou família, até ter abandonado a sua terra natal e ter ido viver para Londres, onde há uma abundância de clubes noturnos que lhe permitiam ser quem era. Quando descobre este mundo decide libertar cá para fora toda a opressão que tinha sentido, tendo centenas de parceiros durante os anos seguintes.

Colin (Callum Scott Howells, que é um estreante enquanto ator) é um jovem bondoso e discreto, daqueles personagens que nos transmitem um sentimento de que são preciosos e precisam de ser protegidos a todo o custo. É exatamente o oposto de Ritchie e não cede a um estilo de vida boémio, apesar da sua proximidade e de não lhe faltarem oportunidades. Numa fase mais avançada da série percebemos o porquê.

Roscoe (Omari Douglas) é o único dos três que se assume logo como homossexual à família, mas não o faz por vontade própria ou de bom grado. Roscoe é também negro, o que lhe traz uma dose de discriminação adicional e leva a sua família a querer despachá-lo para a sua terra de origem para receber um tratamento violento para lhe “curar a homossexualidade”. Farto destas barbaridades, Roscoe revolta-se e sai de casa, tendo sido ostracizado pela família.

Se já viram a série, neste momento devem estar mentalmente a insultar-me. Como é possível já ter escrito 400 palavras e ainda não ter referido Jill? Last but not least, Jill (Lydia West). É a personagem não protagonista que rouba todo o protagonismo. Jill é a aliada da causa. Alguém que não tem nada a ganhar diretamente com a causa, mas que está lá. Dá tudo e mais alguma coisa. Dá mais do que as pessoas que têm a ganhar pela causa. Está lá para rir contigo e para chorar. Jill representa o melhor de toda a gente que alguma vez lutou por alguma causa. A maneira como ela ama todos os seus companheiros é tocante.

A minissérie It’s a Sin, composta por apenas cinco episódios de 45 minutos, leva-nos a acompanhar a vida destas quatro personagens (e não só) e como a sua vida é influenciada pelo surgimento da SIDA. Numa altura de pandemia como a nossa, um dos principais problemas está na quantia absurda de informação falsa que se propaga; no caso da pandemia da SIDA, ninguém sabia de nada e era um risco falar ou procurar informação sobre a doença. Basta ver que Colin foi despedido apenas por ter um jornal com uma notícia que estava a ler sobre a doença. É triste, mas os anos 80 foram há quarenta anos atrás. Não é assim tanto tempo e estas atrocidades aconteciam regularmente. Alas hospitalares cheias de doentes a morrerem sozinhos porque tinham demasiado medo e vergonha de confessar aos amigos e família que tinham tido sexo com outro homem. Russel T. Davies, o criador da série, traz-nos esta realidade sob a forma de um soco no estômago.

Na série vamos vendo a mentalidade deles a mudar, enquanto algo que adoram, como o sexo, se torna numa coisa da qual têm medo. Tocar em alguém infetado apenas é feito com luvas. Não há cura nem atenuação dos sintomas, a única coisa que se pode desejar é conseguir mais tempo antes das memórias começarem a mirrar e deixarmos de ter controlo sobre nós mesmos. A banda sonora da série tem um impacto enorme na emoção com que vivemos a história. Em todos os episódios usavam músicas diferentes que nos remetiam para o seu teor. Claro que usaram Queen a certa altura, mas o momento musical que mais me marcou foi quando usaram o Love Will Tear Us Apart dos Joy Division. Primeiro, pelo sentido literal que tem; segundo, pela própria história que existe à volta da banda.

A série termina de forma impactante. As coisas nem sempre acabam bem e é claro que numa narrativa destas não podia ser. A atitude que os pais têm em relação a um filho com SIDA é condenável e de um tremendo egoísmo, mas isso levou àquele discurso final. Às vezes a vida não permite uma segunda oportunidade e não consegues que fique tudo bem com um pedido de desculpas.

A partir deste ponto, a review contém spoilers!

Melhor episódio:

Episódio 3 – Este episódio é o primeiro em que as coisas ficam sérias. Já tínhamos tido o primeiro caso de SIDA no grupo, mas não tinha tido o impacto que teve quando Colin apanhou. Primeiro, porque Colin tem muito mais protagonismo e depois por toda a história que está à volta. Ele nunca se tinha envolvido com ninguém, pelo menos que o resto do grupo soubesse. Vemos Colin a definhar aos poucos e isso vai partindo o nosso coração, até à maneira como ele apanhou SIDA, que já só descobrimos após a sua morte. Não fica claro se foi violado ou não, porque vemos uns olhares e depois umas cenas de sexo com alguma brutalidade à mistura.

Personagem de destaque: 

Jill Baxter – Não queria deixar de destacar todas as personagens, das principais às secundárias. Foram extremamente importantes! Por exemplo, Ash fica sempre para segundo plano, mas desde o seu aparecimento que é relevante. No entanto, Jill rouba o protagonismo com a sua atitude positiva e lutadora. Jill esteve lá para todos sem nunca pedir, ou precisar, de algo em troca. A amizade dela para com os restante é das mais puras que já vi. Quando ela chorava ficávamos com vontade de a acompanhar. Normalmente gosto mais de personagens com falhas e defeitos, por parecerem mais realistas e, por isso mesmo, é preciso talento para escrever e trazer Jill à vida desta forma. Perfeita, mas credível.

Raul Araújo

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