The Spanish Princess – Review da minissérie (Parte 2)
| 02 Dez, 2020

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[Contém spoilers]

Minissérie (Parte 2)

Número de Episódios: 8

Nos passados dias 29 e 30 de novembro estreou na Starz e na HBO Portugal, respetivamente, o último episódio da minissérie The Spanish Princess, que conta a história de Catherine of Aragon (Charlotte Hope), filha de Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão. Enquanto que na 1.ª parte, composta por oito episódios, vimos a luta da Princesa para conseguir, após ficar viúva de Arthur (que supostamente se iria tornar o Rei de Inglaterra, caso não tivesse morrido), casar com o irmão deste, Henry VIII (Ruairi O’Connor); nesta 2.ª parte, também composta por oito episódios, vemos a luta dela para conseguir dar um herdeiro ao Rei de Inglaterra, no caso Henrique VIII.

Sinto que tenho de começar esta review por referir que não vi as séries que antecederam The Spanish Princess, sendo elas The White Queen e The White Princess, e que também não li os livros nos quais a série é baseada. Como sempre digo, isto tem as suas vantagens e desvantagens, uma vez que se tivesse visto ou lido, poderia dar outro tipo de opinião, e até mesmo essa poderia ser totalmente contrária à que vou dar, mas a vantagem é que ao analisar a minissérie individualmente posso ser mais imparcial, pois não a vou comparar com as antecessoras nem com o livro, algo que iria inevitavelmente fazer, caso tivesse visto/lido. No entanto, deixem-me já dizer que se eu já tinha curiosidade em ver pelo menos The White Queen, agora fiquei ainda mais curiosa, e ao ver esta, sei que inevitavelmente também acabarei por ver The White Princess.

Apesar de The Spanish Princess não ser das melhores séries que já vi e de não ser fiel à história real, a verdade é que acabei por gostar bastante da minissérie, tanto da 1.ª parte como da 2.ª, ainda que considere que tenha gostado mais da 2.ª parte do que da 1.ª. No entanto, cumpre referir que só comecei a gostar da minissérie a partir do quinto episódio, e que os dois primeiros episódios da 2.ª parte custaram-me muito a ver. Não sei se foi porque eu já não estava habituada ao estilo da série, ou aos personagens ou até mesmo à história – ainda que o tempo de espera entre a visualização da 1.ª parte e da 2.ª não tenha sido muita – ou se foi mesmo culpa da série. Achei alguns momentos muito estranhos, inclusive logo nos primeiros minutos do primeiro episódio; as atuações um pouco forçadas; e parecia ainda que as coisas aconteciam muito depressa.

É verdade que a história que eles tinham de contar era muita e referente a muitos anos, mas considero que a forma como foram demonstrando essa passagem do tempo não foi a melhor. Já para não falar que o crescimento de algumas personagens, como foi o caso da irmã de Henry, a Princesa Mary (Sai Bennett), não era acompanhado pelo envelhecimento dos outros, como por exemplo de Catherine e até mesmo de Henry. Tanto é que fiquei um pouco confusa se aquela Mary correspondia à mesma miúda que tinha aparecido no final da 1.ª parte, porque o crescimento foi bastante, mas não víamos diferença nas outras personagens. E isso não aconteceu só com Mary, mas também com outras personagens e de forma recorrente ao longo da minissérie. Não sei se foi só de mim, mas isso meteu-me bastante confusão.

A partir desses dois episódios a história e o acting começaram a melhorar e consequentemente comecei a gostar também cada vez mais de The Spanish Princess, principalmente por causa da história que foram mostrando. Eu já tinha ideia do que acontecia a Catherine, com base na história real dela, e sabia que ela ia perder muitos filhos (e que Henry iria tentar – e conseguir – divorciar-se dela), mas ver isso a ser contado, e da forma como foi, acaba por ter outro impacto. Não consegui ficar indiferente a todo o sofrimento pelo qual Catherine passou, não só físico, mas também mental, e ver a pressão que o Rei impunha nela para lhe dar um herdeiro, revoltava-me ainda mais. Em vez de apoiar a sua esposa, impunha-lhe a pressão de ela conceder um herdeiro e como ela não conseguia, agia como se a culpa fosse inteiramente dela. É verdade que nós agora temos outro tipo de conhecimento científico que eles não tinham na altura, mas não deixa de me revoltar, porque não era só na questão de ser preferível ter um herdeiro a uma herdeira, ou considerar que a culpa de não conseguir ter filhos/as era somente da mulher, mas sim da forma como a mulher era vista e tratada no geral.

Mesmo toda a questão do casamento. O homem poderia fazer o que queria, com quantas queria e toda a gente sabia disso e nada lhe acontecia, mas se fosse ao contrário, a mulher sujeitava-se à vergonha e à desonra, e até mesmo a ser condenada à morte por adultério. Já para não falar dos casamentos arranjados, muitas vezes entre pessoas com uma grande diferença de idades, e onde, muitas vezes, a mulher nem sequer tinha voto na matéria.

Posto isto, só me resta dizer que, ainda que ficcionada, eu gosto bastante deste tipo de séries, e acho que no geral, The Spanish Princess acaba por ser uma minissérie bastante enjoyable. Como já referi anteriormente, não é das melhores séries que vi, tens os seus problemas e pode não agradar a muita gente por alterar os factos reais. Principalmente o final, uma vez que na série Catherine acabou por se “render” e retirar-se da Corte, enquanto que na História real ela impôs-se à decisão de Henry VIII, a ponto de ele ter que a banir da Corte. De certa forma consigo entender o porquê de optarem por esse final, pois acho que acabava por ser o mais fácil, em vez de terem que mostrar toda a luta pela qual ele teve que passar para tentar separar-se dela. Das duas uma, ou teriam que fazer outro episódio para mostrar isso, ou teriam que o fazer às pressas e, por essa razão, talvez tenham preferido optar por esse final mais “simples”, que melhor ou pior dá uma espécie de conclusão à série. Eu sinceramente não desgostei do final, mas preferia que este tivesse sido mais próximo da realidade.

Episódio de Destaque:

Plague (Episódio 5) – Ainda que esta 2.ª parte tenha um número significativo de episódios e portanto a escolha de somente um poderia tornar-se ainda mais difícil do que o que costuma ser (pelo menos para mim, como já se percebeu em praticamente todas as minhas reviews), a verdade é que aqui só fiquei indecisa entre dois episódios, o quinto e o sexto. A minha escolha acabou por recair no quinto episódio simplesmente pelo impacto que os acontecimentos demonstrados neste tiveram em Catherine, e em mim. Mesmo que me tenha sentido bastante indignada no sexto episódio com toda a questão envolvendo o futuro casamento da Princesa Mary, filha de Catherine e de Henry, que não tinha mais de seis anos, e que uma das possibilidades era alguém que tinha idade para ser pai dela, e ainda a forma como ela foi apresentada, e como o Rei de França lhe pediu para dar uma voltinha, como se de uma mercadoria se tratasse. E também de ter gostado da participação da Rosa, e dos conselhos que ela deu a Catherine, em especial o de que o segredo para a felicidade é dar valor ao que se tem, e não ansiar por aquilo que não se tem; ainda assim acabei por me decidir pelo quinto episódio.

Neste, Catherine é confrontada com o facto de a amante do Rei estar grávida. Se já estava a ser difícil para Catherine lidar com todas as perdas, lidar com a pressão de não estar a conseguir dar um herdeiro ao Rei, e de ver o seu casamento a deteriorar-se de dia para dia, ainda teve que lidar com o facto de o marido ter uma amante (e não lhe ter falado sobre isso, ainda que ela lhe tivesse pedido para o fazer), e essa amante estar grávida. Como cereja no topo do bolo, a amante ainda deu à luz um menino. Se Henry já achava que a culpa de não ter um herdeiro era de Catherine, agora tinha a certeza absoluta. Nem consigo imaginar o sentimento de insuficiência e a dor que ela devia estar a sentir.

Melhor Personagem:

Edward Stafford (Olly Rix) – Tanto Catherine, como Maggie Pole (Laura Carmichael) e até mesmo Rosa de Vargas (Nadia Parkes) me passaram pela mente enquanto estava a ponderar quem iria escolher para melhor personagem, e apesar de haver muitas boas razões para as escolher, acabei por me decidir por Stafford pelos momentos finais dele. Lembro-me que não era grande fã dele na 1.ª parte, muito derivado da relação dele com Rosa, mas gostei bastante dele nesta 2.ª parte, especialmente quando ele ajudou Catherine após ela sofrer mais um aborto. Para além disso, a forma como ele morreu mostrou bastante bem não só a facilidade com que se podia condenar alguém à morte, mesmo uma pessoa tão próxima do Rei, como também conseguiu mostrar o quanto Henry VIII tinha mudado.

Nesta mesma parte já tínhamos visto o Rei a poupar a vida a um grupo de ingleses que se tinham revoltado contra ele, no entanto ele não foi capaz de poupar Stafford, que era bem próximo dele. Mesmo que as razões pelas quais ele tenha poupado a vida ao grupo de ingleses estivessem mais relacionadas com mostrar piedade para com o seu povo e assim tentar impedir uma futura revolução, eles não passavam de desconhecidos. Agora no caso de Stafford eles eram bastante amigos, e alguém ser capaz de condenar um amigo à morte, mesmo depois de ele lhe implorar perdão (ainda que não tivesse culpa), e até mesmo de Catherine lhe pedir para o salvar, mostra bem como a pessoa é. Para mim isso foi um sinal de que Henry já não era o mesmo. É verdade que já era percetível essa mudança ao longo dos episódios, mas ele acabava sempre por fazer algo que nos fazia lembrar do Henry da 1.ª parte. Porém, naquele momento parece que houve mesmo essa confirmação. Já para não falar que o momento da morte de Stafford foi bastante triste, e eu fiquei com muita pena não só dele, mas também de todos aqueles que ainda tinham a esperança de que ele fosse salvo, especialmente Catherine.

Cármen Silva

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