Temporada: 1
Episódios: 8
(Contém spoilers)
La Révolution é uma série francesa que apresenta uma história reimaginada da Revolução Francesa, na qual uma misteriosa doença toma o país de assalto. É neste contexto que Joseph Guillotin (Amir El Kacem) surge como um verdadeiro herói que quer descobrir uma cura para o terrível vírus, correndo para tal vários riscos. A realidade é que esta doença tem uma história bastante complicada por detrás, ligada ao jogo de interesses e poder presente em Versalhes. Por causa disso, a ambição deste humilde médico é vista como uma ameaça de quem usa o vírus como manobra de distração para poder conquistar o poder. A condessa Elise de Montargis (Marilou Aussilloux) encontra-se perante um verdadeiro dilema: estar do lado do tio e dos restantes membros da nobreza ou dar voz ao povo e à revolta, juntando-se a ele e colocando-se a si e à sua família em perigo.
A 1.ª temporada de La Révolution surpreendeu-me completamente pela positiva. Considero mesmo que é a melhor série que já vi! Pelo facto de retratar como pano de fundo a Revolução Francesa confesso que já ganhou totalmente o meu interesse. É uma época histórica que considero fascinante e por ser extensivamente dada na área em que estudei no secundário, o que acabou por acontecer é que eu sabia que pontos seriam mais épicos de ser colocados em ficção (ou pensava eu). A verdade é que fui apanhada de surpresa, porque percebi rapidamente que não se trata de uma série que pretende contar as coisas tal e qual como aconteceram, de todo. Não se procura fazer um retrato realista e isso é facilmente notório para o espectador, logo no piloto. Tenho a dizer que, apesar da estranheza inicial e mesmo alguma confusão que senti quando comecei a ver a série, esta rapidamente se dissipou e passei a sentir fascínio.
Existem realmente vários pontos que posso destacar, mas vou escolher os que considero mais importantes. A forma como a série pega numa história real, mas a transforma acrescentando aqui e ali aspetos ficcionais e mesmo sobrenaturais para mim foi incrível. Por um lado, falou das revoltas entre a nobreza e o povo, a extrema fome e pobreza que atravessava as camadas mais pobres da população, e também da desvalorização à mulher enquanto governante: devia limitar-se a maquilhar-se, cantar, dançar e simplesmente ficar por ali. Afinal, os homens é que deviam lidar com assuntos “sérios.” Por outro lado, a ficção: um vírus terrível que tem efeitos extraordinários. Permite que pessoas já mortas consigam recuperar a vida, torna o seu sangue azul e, como efeito mais cruel, torna-as canibais. Ficam com uma fome insaciável por matar outras pessoas e poucos são os que conseguem desafiar essa vontade. É por isso incrível ver como estes aspetos se conjugam.
Outro elemento que não podia deixar de referir é o grande plot twist presente na 1.ª temporada de La Révolution. Eu fiquei sem palavras, de todas as séries que vi nunca fiquei tão chocada (e mesmo revoltada.) É portanto de frisar o desenvolvimento tão bem conseguido que a série apresenta. Nunca ninguém ia conseguir adivinhar que a maior conselheira e amiga da condessa se tratasse afinal de uma inimiga, uma impostora. Admito que foi uma jogada de génio que veio alterar muita coisa no desfecho da temporada. É um sentimento agridoce ao mesmo tempo, porque Elise, como vou desenvolver mais à frente, era sem dúvida a minha personagem favorita e por isso fiquei destroçada. Mas entendo o porquê de ter sido assim, afinal veio mexer com muita coisa na série e veio trazer uma narrativa (ainda) mais enigmática. Ainda aliado a este acontecimento não posso deixar de comentar o modo como a série mexe com os sentimentos do espectador. Este cria ligações, escolhe os seus favoritos e torce para que tudo dê certo. Durante aqueles minutos é como se não fosse uma tela à frente dos nossos olhos e sim a vida real.
Dentro da lista infinita de coisas boas que tenho a mencionar da série é de destacar como todos os elementos foram bem escolhidos e alcançados no seu todo. O vestuário foi um aspeto bastante elogiado pelo público e não é o único. Também a maquilhagem, os penteados estavam escolhidos meticulosamente de acordo com a época. Desde o pó branco que se colocava para esconder as imperfeições da cara, até aos penteados exagerados (recorrendo muitas vezes mesmo a perucas), tudo estava incrivelmente bem escolhido. As imagens são outro aspeto que tenho também a frisar. A qualidade das cenas é de tirar a respiração! Desde os efeitos especiais, até aos ângulos, às montagens que foram feitas, tudo no seu conjunto resultou na perfeição.
Por todos estes elementos e mais algum recomendo vivamente a série. Tem uma história muito interessante e tem uma interpretação de grande qualidade, retratada de forma cativante. Além disso, já que é uma série que inclui bastante ficção não é preciso ser um especialista de História para acompanhá-la e entendê-la. Mesmo para quem não for fã assíduo de séries históricas recomendo que veja a 1.ª temporada de La Révolution. O único aspeto que tenho a apontar para ter em conta é o facto de ter bastante violência e sangue, sendo que quem for mais sensível pode não gostar, mas a qualidade desta série compensa o interesse.
Melhor Episódio:
Episódio 8 – The Rebellion – Não podia deixar de escolher este episódio como o melhor. O motivo é muito simples: é aqui que se dá o grande desfecho, que se tornam as verdadeiras decisões que ditam tudo o que vem a seguir. Sem este episódio toda a história ficaria incompleta e com lacunas por preencher. É o grande momento de clímax. Dá-se a luta entre a nobreza e os elementos da Irmandade e, ao longo do episódio, vemos o desenrolar dessa luta e com ela todo o futuro do país é colocado em causa. Os discursos nele presentes também o tornam incrível. É o grande momento para colocar à prova a força da Irmandade. É também neste episódio que uma das personagens principais morre, algo que deixa um grande marco na história da série.
Personagem de Destaque:
Elise de Montargis – (Marilou Aussilloux) Como já tinha referido antes, a minha personagem favorita é sem dúvida Elise. É uma personagem que se destaca logo pela sua evolução. Ela passou de ser uma condessa que ninguém ouvia ou levava a sério, principalmente por ser uma mulher, para estar do lado da Irmandade a lutar pelo destino do seu povo. É também desde logo marcada pelas várias camadas que contém enquanto personagem. É uma mulher sensível e apaixonada, por um lado (quando se trata de Albert), uma mulher com um amor infinitamente maternal (pela irmã que se revela ser sua filha) e ao mesmo tempo guerreira, forte e ainda inteligente e perspicaz. Marca a diferença pelo facto de querer realmente saber do seu povo e não o desprezar, como a maioria dos nobres faz, algo que conquista desde logo o amor dos espectadores.
Liliana Ferreira