Terra Nova – Review da 1.ª Temporada
| 03 Set, 2020

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Temporada: 1

Episódios: 13

[Não contém spoilers]

A produção portuguesa emitida pela RTP1, Terra Nova, é baseada na obra O Lugre, de Bernardo Santareno e, esta 1.ª temporada, segue o dia a dia das comunidades piscatórias da costa portuguesa nos anos 30.

Desde o primeiro episódio, a série prende o telespectador pela narrativa, mas não só. Toda a fotografia e paisagens, assim como o desempenho dos atores contribuem para que não queiramos tirar os olhos do ecrã.

A série retrata uma vila piscatória pobre, que se governa maioritariamente daquilo que o mar lhes dá, ao mesmo tempo que nos introduz o contraste da riqueza pela família do Capitão Silva (Virgílio Castelo) e, mais adiante na série, com a introdução de personagens provenientes de Lisboa. É-nos também dado o contexto político, à época com Salazar como chefe do Governo, e com a PVDE sempre atrás dos comunistas.

A premissa da série, que ao início não parecia complexa, veio-se a tornar isso mesmo. A ideia de que dantes é que as coisas eram boas foi completamente deitada abaixa por esta produção. As comunidades mais pobres, mal tinham dinheiro para pôr comida na mesa, as condições deixavam muito a desejar, grande parte da comunidade era analfabeta e, tal como hoje, o adultério, a violação e a má-língua sempre estiveram presentes.

Terra Nova conta com um grande número de personagens e histórias interligadas, mas a narrativa não é difícil de seguir. Podendo-se cair no erro de contar várias histórias ao mesmo tempo, sem conseguir explorar cada uma delas devidamente, esta adaptação televisiva arriscou e conseguiu fazê-lo com êxito. Todas as histórias e personagens são pertinentes, servindo todas para enriquecer a narrativa.

A minha opinião em relação aos efeitos especiais é bastante positiva, parecendo que todos estes “acrescentos” ou “melhoramentos” faziam realmente parte do cenário. Os cenários de exterior eram todos muito bonitos e os interiores conseguiam captar o ambiente de cada divisão, casa ou estabelecimento.

Um dos pontos altos da série é, sem dúvida, o elenco, que teve um desempenho impecável ao longo dos 13 episódios da série, uma mais-valia quando a história depende bastante da transmissão das emoções pelos atores.

Os pontos negativos da série são poucos. Os últimos episódios poderiam ter beneficiado se não houvesse tanto drama e tanta morte. Não me pareceu necessária tanta morte, muito menos num tão curto espaço de tempo. A peça de teatro, que serve de ponto de partida para esta série é baseada em memórias reais, contudo, não tendo lido a obra, não sei até onde será fiel à obra. Acredito que tudo aquilo tenha acontecido, mas achei que foi tudo muito condensado nos últimos episódios, um grande contraste se comparado aos primeiros. Mas nisto tudo há um ponto positivo, a forma como a tensão e o drama foram aumentando de episódio para episódio foi muito bem conseguido.

Em suma, Terra Nova pode ser considerada uma das melhores séries portuguesas da atualidade. Tendo apresentado uma narrativa interessante e bem construída, personagens bem escritas e um elenco, que conseguiu dar vida a todas estas personagens de forma exemplar, a série mostrou que o crescente número de produções televisivas portuguesas tem vindo a mostrar que em Portugal também se faz boa televisão e a RTP1 está de parabéns por isso.

Melhor episódio:

Episódio 10 – Escolhi o 10.º episódio única e simplesmente por ser nele que se encontra uma das cenas mais bonitas (e tristes) de toda a temporada. O primeiro encontro de Mariana com Manuela (Carolina Amaral). É difícil destacar um episódio nesta série, mas todos os episódios iniciais até à chegada dos três jovens de Lisboa parecem-me ser os mais fortes da temporada.

Personagem de destaque:

Mariana (Catarina Rebelo) –  Mariana, interpretada de forma magnífica por Catarina Rebelo, é a única escolha possível para a personagem que mais se destacou em toda a série. A evolução da personagem ao longo dos episódios é imensa, começando por ser uma jovem nazarena como todas as outras para ver a sua vida a dar uma grande reviravolta, com todas as tormentas por que vai passando. É com ela que sentimos mais empatia e estamos os episódios todos a torcer por e a sofrer com ela. Foram várias as vezes que esta personagem me pôs as lágrimas nos olhos e isso só é possível quando se junta uma personagem muito bem construída a uma interpretação brilhante de uma jovem atriz.

Cláudia Bilé

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