Ratched – Crítica da 1.ª Temporada
| 18 Set, 2020

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Ratched é uma das estreias mais esperadas para esta fall-season. É baseada numa personagem de um grande clássico do cinema, One Flew Over the Cuckoo’s Nest, que nos conta a história de um homem que vai parar a um manicómio para não participar nos trabalhos forçados da prisão. Este homem, interpretado por Jack Nicholson, tem muita influência nos restantes pacientes por ser muito carismático, numa altura onde usavam os pacientes para fazerem experiências macabras. Não me alongo mais sobre o contexto do filme porque, caso não tenham visto, recomendo verem antes da série. Não é obrigatório, mas para perceberem o contexto, ajuda. Fiquem então com a review da minha opinião sobre a 1.ª temporada de Ratched.

Ratched pega na enfermeira principal do filme, a enfermeira-chefe Mildred Ratched (interpretada por Sarah Paulson), e conta-nos a história desde o momento em que Mildred chega ao manicómio. Dá um ar mais humano à personagem, descobrimos mais sobre o seu passado e sobre o que leva alguém a tornar-se sádica e a não se importar de infligir dor e sofrimentos nos restantes. Sim, isso é algo que podem contar ver, dor e sofrimento, até mesmo algumas cenas que fazem alguma impressão. Mas em parte era essa a realidade que encontrávamos nos hospícios nessa altura. Há lobotomias, tortura e experiências científicas. A cena que mais me fez impressão foi uma relativamente simples com a participação de um animal.

Mas em parte, a crueldade é parte da beleza desta série. Todas as cores do cenário, das vestimentas, do exagero de algumas personagens, trazem um efeito semi-cómico quando contrastado com os temas abordados e o enredo. Durante a temporada nota-se muita parecença com uma temporada de American Horror Story, porque além da atriz principal ser a mesma (com mais uma excelente performance) um dos criadores é também uma das mentes por detrás de AHS, Ryan Murphy.

A nível de realização a série foi sem dúvida um sucesso. Assistir a um episódio de Ratched parece uma viagem no tempo para uma época não assim tão distante de nós. As performances também são exímias sendo que a de Sarah Paulson se destaca. A banda sonora é boa, um pouco exagerada às vezes, mas compensa sendo espetacular na introdução da série. Vi os oito episódios em três dias e não passei uma única vez a intro.

O enredo principal da série foi bastante competente. Com isto quero dizer que os episódios eram de cerca de uma hora, mas não se notava (no bom sentido) e a história manteve-me agarrado durante o tempo todo. Tanto a história de Mildred como a de Edmund Tolleson, um famoso assassino de padres que foi parar ao manicómio e está pendente de uma avaliação para saber se está apto para ir a tribunal ou se é considerado mentalmente inapto. A forma como as histórias se cruzam, as interações com outras personagens e pequenas side stories estão muito coesas e interessantes. Por exemplo, todo o passado do Dr. Hannover ou mesmo de uma personagem secundária como Huck, estão muito interessantes e são personagens complexas. Foi uma história muito bem conseguida e com um desenrolar curioso.

Existem três mulheres em Ratched que ainda não mencionei, começando pela enfermeira Dolly que é a pior personagem, porque serve apenas como uma personagem superficial e um meio para se atingir um fim, mas admito que me surpreendeu a certa altura. A enfermeira Betsy que odeia Mildred e tem uma paixão pelo Dr. Hannover, cria uma dinâmica muito própria, apesar de ter alguns traços exagerados às vezes. Por fim Gwendolyn Briggs, que ajuda o governador na sua campanha e cria uma relação próxima com Ratched, foi um dos pontos de destaque da série. Foi um bom elenco e boas narrativas.

Por último quero discutir a relevância dos temas que são abordados em Ratched. É voltarmos a olhar para uma altura onde a saúde mental era completamente descartada, faziam-se experiências em pacientes que eram considerados como “malucos”. Nesta altura onde os temas como a depressão, ansiedade e doença mental começam a ser falados em público é bom relembrar o caminho que já foi feito e o que ainda está por fazer. Também a orientação sexual é abordada e é triste ver como o “lesbianismo” era considerado uma doença que se tratava com choques elétricos e lobotomias. O tema principal da série não é esse mas ao inserirem narrativas que abordam esses temas tornam a série mais interessante.

Em suma foi uma excelente aposta da Netflix, que consegue distanciar-se da obra original, mas ao mesmo tempo servir de complemento a esta. Assistimos a um misto entre uma cruel realidade e uma sátira. Uma história concisa e interessante, com personagens complexas e bem construídas. Foi um prazer assistir. Gostaria de uma segunda temporada, algo que a Sarah já deixou um tease que poderia acontecer, mas se calhar mais do que isso já não, para não se prolongar demasiado e cometer os erros que apontei que não foram cometidos.

Episódio de Destaque:

Episódio 6 – Mildred and Edmund – Este episódio é um dos meus favoritos. Vem na fase final da temporada, onde já estamos a começar a perceber melhor a série, onde já achamos que percebemos um pouco sobre quem é Mildred e sobre a luta que ela tem que enfrentar contra ela própria e as ideologias da sociedade da altura. Mas não estava preparado para descobrir sobre o seu passado, e é arrebatador, até a maneira como nos é contado através de um espetáculo de marionetas. Para mim foi a parte sobre Ratched que me conquistou neste episódio, mas, até como o próprio título indica, não é só o passado de Ratched que abordamos mas também o de Edmund, o que também nos revela muita coisa. Não vale a pena abordar aqui para não conter spoilers, mas também nos muda completamente a perspetiva sobre ele.

Melhor personagem:

Mildred Ratched – Primeiro por ser interpretada por quem é. Sarah é conhecida por dar tudo nos seus papéis e este é mais um a juntar-se à coleção. Não me admiraria se daqui a 10 meses ouvíssemos que ela foi nomeada aos Emmys por Ratched como melhor atriz principal. Ratched no filme é apresentada como uma enfermeira rígida, dura e cruel. Na série é tudo isso e muito mais. É uma pessoa, real, com profundidade, problemas, medos, ambições e um passado. Mesmo a evolução que ela tem durante a série é enorme.

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