[Contém spoilers]
Temporada: 1
Número de episódios: 9
Brave New World chegou aos pequenos ecrãs através da nova plataforma de streaming Peacock e a Portugal pela mão da HBO Portugal. A série distópica é baseada na obra literária de Aldous Huxley e apesar de algumas bases da história original estarem presentes na produção, muita coisa mudou neste admirável mundo novo.
Como referi na review do episódio piloto, a notícia desta adaptação televisiva deixou-me simultaneamente entusiasmada e receosa. A margem para errar era grande – não é fácil trazer ao visual do século XXI o que um escritor dos anos 1930 imaginou para o futuro da humanidade. Contudo, de modo geral, posso dizer que gostei bastante do resultado final desta nova versão de Brave New World. Há poucos pontos que toquem de forma idêntica na história do livro – as personagens principais e os conceitos estão lá -, uma vez que o plot principal sofreu uma volta de 180.º. Ainda assim, creio que os produtores conseguiram modernizar e tornar esta hipótese de futuro muito contemporânea.
Confesso que a série não está do mais extraordinário que já vi, mas acho que não se enquadra somente no ‘está bom’. Cai naquele limbo das séries muitas vezes difícil de caracterizar. Foi bom, não foi espetacular, podia ter sido melhor. A narrativa em si é óbvia; sabemos desde o início que algo vai perturbar a ordem instalada em Nova Londres, contudo, queremos saber o quê e como. A revolução final é o culminar disso mesmo: tudo o que sucedeu é previsível, mas ficamos para ver até ao fim. A esse nível, poderia realmente ter sido mais impactante.
Para mim, o grande lado positivo desta estreia foram as prestações do elenco, com destaque para Jessica Brown Findlay. Já a conhecia de Downton Abbey, num registo totalmente diferente, como é óbvio. Mas aqui brilhou do início ao fim, conseguiu trazer à vida esta personagem padronizada que é Lenina Crowne e fazer transparecer-lhe no rosto a diferença que a distingue dos demais. As suas expressões faciais e o seu olhar bastavam para percebermos o que passava pela mente desta Beta Mais.
Alden Ehrenreich também merece que lhe sejam dados os devidos louvores pela sua interpretação do selvagem John. Não conheço muito do seu trabalho anterior a Brave New World, mas gostei do que vi. Achei que ele e Jessica tinham química e que se interligavam muito bem nas cenas em conjunto, especialmente na primeira vez que John e Lenina se envolvem. Ainda assim, o que fica pelo meio – todas as cenas desde que chega a Nova Londres e começa a integrar-se na sociedade – deixa um pouco a desejar. Pareceu um pouco deslocado daquilo que teria sido espectável da personagem.
Já Harry Lloyd esteve sempre dentro daquilo que imaginei que seria Bernard Marx depois de ver o primeiro episódio (sim, porque o do livro é o oposto deste Bernie). Totalmente previsível, disso não há dúvida, mas com uma interpretação por parte do irmão de Daenerys Targaryen (que consegui esquecer por completo ao ver esta série) muito boa. Cómico, irritante, embraçoso, assim foi o Bernard Marx criado para a televisão. Por outro lado, Joseph Morgan ficou a desejar. Esperava mais da sua participação. Verdade seja dita que a personagem não era a coisa mais fácil do mundo de interpretar e, no que toca ao conflito emocional interno que CJack60 sentia, Morgan conseguiu fazer-nos perceber o que lhe ia na mente, mas ainda assim achei que havia espaço para muito mais. Nem a sua breve aparição como Elliot (que não percebi muito bem quem era suposto ser) conseguiu fazer-me valorizar mais o seu desempenho.
No geral, Brave New World apresenta-se como uma boa estreia de 2020. Os efeitos especiais e o guarda-roupa estão de um nível superior quer ao argumento quer às interpretações, mas há espaço para melhorar. O que me surpreendeu foi esta não ser uma minissérie e o fim ficar em aberto com a possibilidade de continuação. Pensei que se ficariam pelo livro de Huxley, contudo, o autor tem outra obra intitulada Island, que é tida como sendo o contraponto de Admirável Mundo Novo. Poderão os produtores da série inspirar-se aqui para uma segunda temporada? Se sim, pelo menos que contextualizem um pouco melhor a origem do modo de vida nesta distopia – chegou-se ao fim da temporada sem se perceber muitos dos conceitos abordados, por que surgiram e como.
Melhor Episódio:
Episódio 1 – Want and Consequence – Não é uma escolha óbvia, mas pensando bem, todos os episódios se pautam pelo mesmo registo. Escolho o segundo, porque é aqui que os dois mundos se cruzam e explodem. É aqui que o fim da Nova Londres começa, quando Lenina e John trocam olhares e, mais tarde, este deixa para trás tudo o que sempre conheceu e parte para uma civilização alienígena. O fator cliché está sempre lá, mas todas as cenas com mais ação, em que Bernard e Lenina são perseguidos e John os ajuda têm um ritmo acelerado e deixam o espectador vidrado.
Personagem de Destaque:
Lenina Crowne (Jessica Brown Findlay) – Como referi acima, o grande destaque a nível de interpretações vai para Findlay. Ela conseguiu dar vida a uma personagem que vive numa mentalidade que em nada nos é familiar (ou assim parece) e transmitir as suas emoções e sentimentos para o espectador.
Beatriz Caetano