[Contém spoilers]
Temporada: 2
Número de episódios: 7
Criada por Ryan Murphy, The Politician centra-se em Payton Hobart (Ben Platt), um jovem que sabe desde os sete anos de idade que vai ser Presidente dos Estados Unidos da América.
Depois de uma 1.ª temporada bastante sólida e que surpreendeu em vários aspetos, The Politician acaba por andar à deriva na segunda, entre aspetos positivos e aspetos negativos.
Comecemos pelo melhor lado desta temporada! Toda a interpretação do elenco esteve excecional, como seria de esperar; a equipa de realização brilhou e quem tratou do som e da sua mistura e edição não ficou atrás. Não posso ignorar que as categorias técnicas são o que atribui grande parte do valor à série, pois diferenciam-na. A escrita seria um ponto a favor, se estivéssemos a falar da 1.ª temporada – quer a nível de desenvolvimento de personagens quer no próprio enredo, ficou muito aquém. Gostaria de ressalvar duas exceções, Dede e Hadassah, as duas novas protagonistas que conseguiram dar alguma vida a esta temporada e que foram bem introduzidas e desenvolvidas.
Se ficamos meios surpresos com o final da 1.ª temporada, quase como se nos tivessem entregado flashbacks durante 7 episódios, para no último episódio nos mostrarem Payton a concorrer a State Senate; o final agora já não foi genial, foi, sim, previsível. Já estava à espera de que seguissem esta fórmula, até porque tinha lido que as temporadas estariam distribuídas de acordo com diferentes fases da sua carreira política. O facto de saber mais ou menos como acabaria não me chateia muito, mas é óbvio que não se pode dar um ponto bónus a esta temporada pelo seu final.
Algo que marcou negativamente The Politician foi, sem dúvida, o rumo que Payton tomou ao longo dos episódios para no fim chegar à conclusão de que, embora sinta remorsos, fará tudo para chegar onde pretende e… está tudo bem. Sim, ele aceitou quem é, só devia estar orgulhoso. Mesmo que signifique não querer saber do que está certo e errado – grande desenvolvimento, certo.
Ainda relacionado com o protagonista, mas mais direcionado à escrita… têm de parar de dar tudo a Payton de mão beijada! Na escola, se contassem os votos, Astrid teria ganho. Agora, a oponente dele não foi a jogo e deu-lhe a vitória assim (tudo bem que se ele não tivesse roubado uma das caixas de votos, tinha ganho justamente – mas roubou, e não sofreu qualquer consequência e acabou no pódio). Gostava que fosse uma forma intelectual e indireta de transmitir qualquer coisa com valor, mas não me parece. Já agora, o que é isto de nos EUA se resolver empates eleitorais com pedra-papel-tesoura?
Acrescendo ao último ponto e associado ao seu percurso na política, em algumas conversas dá para reconhecer o estereotipo de candidato político na perfeição e fico em dúvida se Payton realmente gosta e se preocupa com as causas ou se quer apenas ganhar e ter poder.
Achei toda a questão da candidatura de Georgina uma forma super preguiçosa de manter Gwyneth Paltrow no elenco, tentando dar-lhe alguma relevância. O que salvou a sua storyline foi, sem sombra de dúvidas, o facto de ser a atriz que é e da sua capacidade maravilhosa de prender o espectador, porque de resto considerei muito fraco.
Agora, onde falhou redondamente e acaba por ser pertinente, infelizmente, é na abordagem da (bis)sexualidade. Não sou a maior expert, vou aprendendo com o tempo e na semana passada fui relembrada, através de uma crónica do Séries da TV, que não tem sido feita justiça para com as personagens bissexuais no mundo do entretenimento, e The Politician não escapa à crítica. Primeiro, já paravam com todo o queerbating, visto que na 1.ª temporada promoveram a threesome de Payton com Astrid e River como bissexualidade e passaram toda a temporada a apoiar isso para depois chegarmos até aqui e cair tudo por terra. Fiquei triste pelo tempo mínimo de ecrã que deram a River e, claro, por Payton ter afirmado que ambos, ele e River, eram hetero e que apenas gostavam muito um do outro. Sim, por isso se beijaram e disseram que se amavam. Ah! E claro, por isso é que depois de morto, River continua a “assombrar” Payton com bons pensamentos e apoio. Sim, em momentos decisivos Payton pensa em River e não na namorada porque gosta muito dele, como amigo.
Para terminar queria apenas mencionar que achei bold abordarem o poliamor, que tantas vezes fica arrumado numa gaveta. Se foi uma abordagem perfeita? Não considerei, mas vejo pontos a favor. É terrível que tenha passado pela cabeça da equipa de Payton utilizar a relação poliamorosa de Dede para ganhar pontos na campanha e seria terrível se tal funcionasse. Também não me agradou Dede utilizar isso a seu favor, até porque foi quase forçada. No entanto, é interessante ver como quase tudo pode ser utilizado contra ou a favor de alguém, se bem jogado. Escusado será dizer que odeio este jogo.
The Politician continua com arcos excêntricos e com personagens que traem a confiança umas das outras como quem troca de camisola e persiste em mostrar o que se passa na política, mesmo que, por vezes, não seja agradável de ver.
Melhor episódio:
Episódio 5 – The Voters – Gostei deste episódio pois trouxe bastantes debates interessantes e um dos melhores discursos da série. Foi muito interessante assistir ao desenrolar da história através das perspetivas de uma mãe e de uma filha que discordam politicamente e que acabam por concluir que é possível mudar mentalidades, a partir do momento em que se reconhecem os erros – tal como a mãe reconhece que a sua geração falhou à geração da sua filha no que toca às questões climáticas, e como Dede o reconhece mais tarde também. Quanto ao discurso que Payton dá a Jayne, foi inspirador e devolve-me alguma esperança quanto ao protagonista.
Personagem de destaque:
Infinity Jackson (Zoey Deutch) – No final da 1.ª temporada, quando vemos os protagonistas no “presente”, Infinity não estava, pelo que temi que não aparecesse nesta temporada. Embora não tenha estado tão presente quanto gostaria, ela acabou por ser o motor da campanha de Payton e foi das poucas personagens a manter-se fiel a si mesma. Para além de que adorei ver a sua evolução até ao zero waste, algo que admiro bastante. Consigo reconhecer que Infinity consegue ser um pouco extremista, mas pelo menos não é hipócrita – se vir alguém a dizer que luta pelas causas dela, ela quer ver esse alguém a fazer coisas em concreto, caso contrário ela não tem problema nenhum em desmascarar a pessoa e deixar de a apoiar.
Ana Leandro