Liar – Review da 2.ª Temporada
| 25 Abr, 2020

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[Contém spoilers]

Temporada: 2

Número de Episódios: 6

Depois de quase três anos desde a estreia da 1.ª temporada, Liar regressa com a segunda e última temporada. Este thriller da ITV, agora disponível na HBO Portugal, segue o caso de Laura Nielson (Joanne Froggatt), vítima de violação por um conhecido e adorado cirurgião. A 1.ª temporada foca-se em Laura e na sua tentativa de provar a culpa de Andrew Earlham (Ioan Gruffudd), enquanto este tenta convencer toda a gente da sua inocência, acusando Laura de lhe querer destruir a reputação.

A 1.ª temporada é uma história completa em si, temos a introdução das personagens, o acontecimento central para a narrativa, as várias tentativas de resposta e, por fim, o final arrebatador, capaz de deixar os espectadores sem fôlego, mas com a sensação de final acabado. Eu nem esperava que houvesse uma segunda temporada, mas como tinha gostado tanto da primeira, quis ver o que me esperava. Infelizmente, acho que caiu na categoria de temporadas que eu passava bem sem ter visto.

A temporada parte da questão que ficou da primeira temporada: quem cometeu o crime? Vou deixar esta questão deliberadamente vaga, caso não tenham visto. Achei que este mistério tinha potencial para uma temporada interessante, visto que só tem seis episódios. O problema foi que os escritores decidiram que este mistério não chegava, e adicionaram uma panóplia de storylines, pelos vistos apenas para criar drama extra.

Laura tem agora um novo namorado, aparentando estar feliz. É óbvio que alguma coisa vai correr mal quando a personagem principal está demasiado feliz no início da temporada. Mas em vez de darem a Laura uma relação normal, com uns problemas conjugais banais, criaram um namorado com antecedentes criminais e tendências violentas. Só porque sim, sem relação nenhuma com o crime.

Tenho que dizer que a única storyline que gostei, fora do tema da investigação, foi a de Katy (Zoë Tapper), irmã de Laura. Katy continua a viver com as consequências dos seus erros, da temporada anterior, estando agora a viver sozinha, deprimida e com uma relação muito perigosa com o álcool. Não tinha muita empatia por Katy anteriormente, mas esta temporada fez-me gostar muito dela. Cometeu muitos erros, atingiu um ponto muito baixo, mas tentou sempre remediar e pedir desculpa, acabando por ajudar Laura a fazer a coisa certa.

O problema desta temporada tentar mostrar tantas histórias paralelas à central é particularmente notório no episódio quatro, onde somos bombardeados por um episódio de flashbacks de Laura e de Andrew. Nem me importo muito com este género de episódios em séries de drama, mas em thrillers acho ridículo. Eu simplesmente não vou estar com disposição para saber do passado das personagens se isso não está diretamente ligado com o desfecho da investigação. Acho que as descobertas desses flashbacks são importantes para compreendermos as personagens, mas deviam ter sido interligadas ao longo dos episódios e não apenas numa descarga de informação, num único episódio.

Fiquei feliz por terem trazido de volta a inspetora Vanessa Harmon (Shelley Conn), que era a minha personagem favorita da temporada passada, e que continua a ter um papel fundamental na progressão da investigação. Já a nova inspetora do caso e colega de Rory, Karen Renton (Katherine Kelly), embora muito bem representada pela atriz, é demasiado. Quiseram fazer uma bad cop, que é tão exagerada nas suas atitudes, que acaba por se tornar apenas irritante e odiada pelo público. Eu não me importo que as personagens tenham uma atitude agressiva, mas tenho que criar alguma empatia com elas para me importar com o que lhes acontece na série. Neste caso, a história do passado de Karen é uma tentativa falhada de justificar as suas atitudes. Sim, ela é uma investigadora competente. Não, não senti qualquer pena dela, principalmente na atitude compreensiva que a personagem tem no último episódio. Podia ter sido uma personagem muito interessante, mas senti que foi muito mal desenvolvida.

Houve também muitos erros que se tornam irritantes para quem está habituado a ver séries do género, como a Laura adivinhar um pin de telemóvel apenas em três tentativas, ser capaz de roubar um telemóvel a um agente da polícia, um investigador que aceita ser vitima de blackmail, enfim. Um aglomerado de pequenas coisas que me fizeram revirar os olhos e que eram facilmente resolvidas, se a série tivesse dado atenção aos pormenores.

Não sei ainda qual é a minha opinião acerca do final. Por um lado, pode-se dizer que foi imprevisível e faz justiça ao nome da série, mas por outro parece um final demasiado fácil. Não tive nenhuma reação à descoberta e estava à espera de algo que me chocasse. Quase que posso dizer que houve momentos muito mais chocantes durante a temporada, que ultrapassam o final, como é o caso da história do filho de Andrew.

Para concluir, acho que esta temporada não era necessária e teve vários momentos fracos, mas manteve-me entretida durante os seis episódios. A verdade é que pode ter drama a mais, por vezes a roçar o ridículo, mas é capaz de prender a atenção e não paramos de ver até chegar à revelação do crime. Se nunca viram a série, aconselho muito a primeira temporada e esta segunda só aconselho se não tiverem mais nada para fazer. Fico feliz pela decisão da série terminar, acho que já teve o seu tempo para brilhar.

 

Personagem de Destaque:

Katy Sutcliffe (Zoë Tapper) – Katy foi não só a personagem de destaque, mas a personagem mais surpreendente desta temporada. De um lugar muito negro, Katy é capaz de pedir ajuda. Percebe que não está bem e que a sua espiral de álcool e comportamentos irresponsáveis vai rapidamente descarrilar, e decide lutar. No fim da temporada é uma pessoa diferente, melhor, porque apesar dos seus erros, foi capaz de se perdoar e seguir em frente.

Melhor Episódio:

Episódio 3 – Neste episódio Laura começa a ver o seu mundo a ficar cada vez mais apertado. É detida pela polícia, os jornalistas esperam à porta da sua casa e tem uma conversa com outra vítima de Andrew. É um episódio intenso, emocional e onde todos os dramas se interligam.

Ana Oliveira

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